É preciso alterar mentalidades…
O distrito de
Portalegre está a mudar lentamente no que concerne à predisposição para a
cultura. Como o país está atrasado (em muitas áreas) décadas em relação ao
resto da Europa, também por aqui estamos atrasados em relação ao resto do país.
Mas sempre andaram por cá alguns paladinos a lutar por reverter a situação.
Centrando o tema na cultura envolvente às Bandas Filarmónicas,
toda a gente devia fazer desde logo uma vénia aos conservatórios do povo. Foram
as Bandas as responsáveis pelo que de melhor se faz hoje no panorama musical
nacional. Foi delas que saíram os músicos que engrossaram as fileiras das
melhores orquestras e bandas militares. E Portalegre não fugiu à regra e ainda
hoje assim é. Somos cada vez menos, inclusivamente já baixámos dos cem mil
eleitores, mas ainda temos muita gente de valor. Porém, precisamos de acreditar
em nós e no nosso valor e, acima de tudo, precisamos que os alto alentejanos
acreditem nos seus músicos e nas suas filarmónicas e que estas e os seus
maestros e dirigentes acreditem em si e no seu trabalho. Continuamos a produzir
jovens de enorme valor e também aqui é possível fazer o mesmo que nos outros
locais do litoral e até do interior.A Federação das Bandas Filarmónicas
distrital tem vindo a tentar levar por diante uma Orquestra distrital à
semelhança do que acontece em praticamente todo o país. Não tem sido fácil, mas
continua a porfiar com a ajuda de várias bandas e músicos. E há de conseguir…
Infelizmente, as mentalidades ainda estão um pouco
paradas no tempo, no entanto, há muitos sinais de mudança e de arrojo por parte
de algumas bandas e maestros. E é preciso proporcionar aos nossos jovens
músicos espetáculos diferentes e enriquecedores para os fazer elevar cultural e
tecnicamente. É isso que a Federação também tem tentado fazer desde há 17 anos.
O espetáculo que a Banda Municipal Alterense proporcionou
na noite de 23 de maio de 2017, feriado municipal em Alter, foi simplesmente
inolvidável para o público e em especial para os executantes. Certamente que a
experiência os irá marcar para toda a vida. Interpretar temas como “Carmina
Burana”, de Carlo Orff ou “1812”
de Tchaikovski em grande orquestra acompanhados de um brilhante espetáculo de
pirotecnia é algo de transcendente. Mas é possível…foi possível. O distrito de
Portalegre é bom, o distrito tem capacidade, a região tem pessoas com nível, há
gente arrojada e com pensamento à frente. Há autarcas a investir, há maestros e
bandas a saírem da sua zona de conforto e a irem para além das simples marchas
e pasodobles, sem menosprezo para estes géneros musicais. O caso do maestro
Virgílio Vidinha, natural de Alter, é um caso paradigmático à semelhança de
mais dois ou três que por cá andam. Aceita reptos e idealiza desde sempre
atividades inovadoras e enriquecedoras e está altamente de parabéns, juntamente
com toda a Banda Municipal Alterense (músicos em especial e diretores) e o
município (Joviano Vitorino à cabeça) pelo espetáculo que proporcionaram e que
é o caminho a seguir. Também a pirotecnia de Oleiros, é outro caso de sucesso
de uma empresa que demonstra que no interior do país também se fazem coisas ao
nível do melhor do mundo. O maestro liderou um processo como este, muito
desgastante, precisamente num período de elevada pressão a nível familiar, ou
seja, precisamente nos dias em que preparou este enorme espetáculo tinha (e
tem) a filha mais nova (com 4 anos) internada em Lisboa, com pronóstico
reservado, vítima de uma doença rara. Este facto, ainda reforça mais a sua
natureza e a liderança que impele em Alter, demonstrando toda a sua força sem
deixar transparecer qualquer fraqueza emocional.
No próximo dia dois de julho, por volta das 23 horas,
Monforte irá ser palco de um espetáculo com semelhanças ao verificado em Alter
e novamente com a chancela da Pirotécnica Oleirense. Trata-se do Festival
Internacional de Bandas Filarmónicas do Alto Alentejo “Alexandre Ribeiro”. Para
além do convívio entre Bandas de cá (Gavião, Nisa, Póvoa, Castelo de Vide,
Portalegre, Crato, Alter e Elvas) e a Banda de Albuquerque (Espanha,
Extremadura), o final do evento irá proporcionar a interpretação conjunta do
Pasodoble “João Moura”, composto pelo homenageado há algumas décadas e que é
tocado em todo o país e em qualquer praça de toiros. O outro tema será o “Hino
da Federação de Bandas”, da autoria do recém-falecido maestro Sívio Pleno. O
município de Monforte e a CIMAA são os patrocinadores do Festival.
Concluindo, as Bandas (direções, maestros e músicos)
precisam e devem inovar sem descurar o que de bom foi feito no passado, devem
sair com frequência das suas zonas de conforto e catapultarem a música
filarmónica para outros voos e níveis. A cultura enraizada de que este tipo de
eventos são um fator de despesa deve ser banida e é necessário que prevaleça o
sentimento de que não se trata de despesa, inovar trata-se de investimento no
presente e no futuro. E a Câmara e a Banda de Alter investiram! É preciso que o
resto do poder político e institucional, apoie mais e melhor e seja mais
exigente nos apoios e deixe praticar a cultura com olho curto. Com isto, não
estou a dizer que não há apoios…eles até vão existindo, mas é preciso que sejam
mais e melhores. Para termos Bandas e Orquestras de qualidade precisamos de
músicos, mas já há muitos exemplos de que os temos e que existe qualidade,
agora, e em tempo de eleições, precisamos de melhores autarcas, de melhores
dirigentes e de acreditar que a cultura não é uma despesa, mas um investimento.
Uma Federação de Bandas não pode andar a mendigar tostões. É preciso uma
regionalização forte e que se dê condições para a cultura continuar a ser uma
realidade. Aos municípios que têm Banda, pede-se que as apoiem incondicionalmente
e que as incitem a melhorar e a proporcionar atividades relevantes e que os
transportes não constituam despesa para as próprias Bandas; aos que as não as
possuem, invistam nisso porque estarão a criar melhores condições de vida para
os seus munícipes, todos sabem que a Federação está disposta a colaborar na
criação de novas Bandas Filarmónicas, pelo menos têm recebido vários reptos e
ouvir falar do Projeto Classband, disseminado por toda a Europa e em algumas
regiões do norte de Portugal, que permitiu salvar Bandas Filarmónicas da
extinção e criou outras novas.
Prof. Miguel Baptista - Pres Dir Fed Bandas Filarmónicas
do Dist. Portalegre