30.5.17

OPINIÃO -Cultura distrital: despesa ou investimento?

É preciso alterar mentalidades…
O distrito de Portalegre está a mudar lentamente no que concerne à predisposição para a cultura. Como o país está atrasado (em muitas áreas) décadas em relação ao resto da Europa, também por aqui estamos atrasados em relação ao resto do país. Mas sempre andaram por cá alguns paladinos a lutar por reverter a situação.
Centrando o tema na cultura envolvente às Bandas Filarmónicas, toda a gente devia fazer desde logo uma vénia aos conservatórios do povo. Foram as Bandas as responsáveis pelo que de melhor se faz hoje no panorama musical nacional. Foi delas que saíram os músicos que engrossaram as fileiras das melhores orquestras e bandas militares. E Portalegre não fugiu à regra e ainda hoje assim é. Somos cada vez menos, inclusivamente já baixámos dos cem mil eleitores, mas ainda temos muita gente de valor. Porém, precisamos de acreditar em nós e no nosso valor e, acima de tudo, precisamos que os alto alentejanos acreditem nos seus músicos e nas suas filarmónicas e que estas e os seus maestros e dirigentes acreditem em si e no seu trabalho. Continuamos a produzir jovens de enorme valor e também aqui é possível fazer o mesmo que nos outros locais do litoral e até do interior.A Federação das Bandas Filarmónicas distrital tem vindo a tentar levar por diante uma Orquestra distrital à semelhança do que acontece em praticamente todo o país. Não tem sido fácil, mas continua a porfiar com a ajuda de várias bandas e músicos. E há de conseguir…
Infelizmente, as mentalidades ainda estão um pouco paradas no tempo, no entanto, há muitos sinais de mudança e de arrojo por parte de algumas bandas e maestros. E é preciso proporcionar aos nossos jovens músicos espetáculos diferentes e enriquecedores para os fazer elevar cultural e tecnicamente. É isso que a Federação também tem tentado fazer desde há 17 anos.
O espetáculo que a Banda Municipal Alterense proporcionou na noite de 23 de maio de 2017, feriado municipal em Alter, foi simplesmente inolvidável para o público e em especial para os executantes. Certamente que a experiência os irá marcar para toda a vida. Interpretar temas como “Carmina Burana”, de Carlo Orff ou “1812” de Tchaikovski em grande orquestra acompanhados de um brilhante espetáculo de pirotecnia é algo de transcendente. Mas é possível…foi possível. O distrito de Portalegre é bom, o distrito tem capacidade, a região tem pessoas com nível, há gente arrojada e com pensamento à frente. Há autarcas a investir, há maestros e bandas a saírem da sua zona de conforto e a irem para além das simples marchas e pasodobles, sem menosprezo para estes géneros musicais. O caso do maestro Virgílio Vidinha, natural de Alter, é um caso paradigmático à semelhança de mais dois ou três que por cá andam. Aceita reptos e idealiza desde sempre atividades inovadoras e enriquecedoras e está altamente de parabéns, juntamente com toda a Banda Municipal Alterense (músicos em especial e diretores) e o município (Joviano Vitorino à cabeça) pelo espetáculo que proporcionaram e que é o caminho a seguir. Também a pirotecnia de Oleiros, é outro caso de sucesso de uma empresa que demonstra que no interior do país também se fazem coisas ao nível do melhor do mundo. O maestro liderou um processo como este, muito desgastante, precisamente num período de elevada pressão a nível familiar, ou seja, precisamente nos dias em que preparou este enorme espetáculo tinha (e tem) a filha mais nova (com 4 anos) internada em Lisboa, com pronóstico reservado, vítima de uma doença rara. Este facto, ainda reforça mais a sua natureza e a liderança que impele em Alter, demonstrando toda a sua força sem deixar transparecer qualquer fraqueza emocional.
No próximo dia dois de julho, por volta das 23 horas, Monforte irá ser palco de um espetáculo com semelhanças ao verificado em Alter e novamente com a chancela da Pirotécnica Oleirense. Trata-se do Festival Internacional de Bandas Filarmónicas do Alto Alentejo “Alexandre Ribeiro”. Para além do convívio entre Bandas de cá (Gavião, Nisa, Póvoa, Castelo de Vide, Portalegre, Crato, Alter e Elvas) e a Banda de Albuquerque (Espanha, Extremadura), o final do evento irá proporcionar a interpretação conjunta do Pasodoble “João Moura”, composto pelo homenageado há algumas décadas e que é tocado em todo o país e em qualquer praça de toiros. O outro tema será o “Hino da Federação de Bandas”, da autoria do recém-falecido maestro Sívio Pleno. O município de Monforte e a CIMAA são os patrocinadores do Festival.
Concluindo, as Bandas (direções, maestros e músicos) precisam e devem inovar sem descurar o que de bom foi feito no passado, devem sair com frequência das suas zonas de conforto e catapultarem a música filarmónica para outros voos e níveis. A cultura enraizada de que este tipo de eventos são um fator de despesa deve ser banida e é necessário que prevaleça o sentimento de que não se trata de despesa, inovar trata-se de investimento no presente e no futuro. E a Câmara e a Banda de Alter investiram! É preciso que o resto do poder político e institucional, apoie mais e melhor e seja mais exigente nos apoios e deixe praticar a cultura com olho curto. Com isto, não estou a dizer que não há apoios…eles até vão existindo, mas é preciso que sejam mais e melhores. Para termos Bandas e Orquestras de qualidade precisamos de músicos, mas já há muitos exemplos de que os temos e que existe qualidade, agora, e em tempo de eleições, precisamos de melhores autarcas, de melhores dirigentes e de acreditar que a cultura não é uma despesa, mas um investimento. Uma Federação de Bandas não pode andar a mendigar tostões. É preciso uma regionalização forte e que se dê condições para a cultura continuar a ser uma realidade. Aos municípios que têm Banda, pede-se que as apoiem incondicionalmente e que as incitem a melhorar e a proporcionar atividades relevantes e que os transportes não constituam despesa para as próprias Bandas; aos que as não as possuem, invistam nisso porque estarão a criar melhores condições de vida para os seus munícipes, todos sabem que a Federação está disposta a colaborar na criação de novas Bandas Filarmónicas, pelo menos têm recebido vários reptos e ouvir falar do Projeto Classband, disseminado por toda a Europa e em algumas regiões do norte de Portugal, que permitiu salvar Bandas Filarmónicas da extinção e criou outras novas.
Prof. Miguel Baptista - Pres Dir Fed Bandas Filarmónicas do Dist. Portalegre