18.10.24

IN MEMORIAM: Nos 30 anos do falecimento do pintor Augusto Pinheiro

Nasceu na vila de Nisa, Alto Alentejo, em 22 de Agosto de 1905. Era comerciante de profissão e começou a pintar aos 66 anos. Participou em 40 exposições colectivas em Portugal e no estrangeiro e realizou 17 individuais. Faleceu em Nisa a 18 de Outubro de 1994. AUGUSTO PINHEIRO No centenário do seu nascimento ... Quando se iniciou na pintura, Augusto Pinheiro não escolheu escolas ou correntes, linguagens ou formas de expressão. Deu rédeas soltas à sua imaginação e começou a pintar como o seu instinto lhe ditava, com total liberdade e desprendimento das regras da perspectiva ou da composição de que nunca ouvira falar. Com cores primárias e fortes, pondo em destaque os elementos que mais lhe diziam ao gosto e ao coração. Augusto Pinheiro é dum dos mais puros e autênticos "naifs" portugueses - escreveu o dr. Lima de Carvalho, director da Galeria de Arte do Casino Estoril, neste texto que estamos a reproduzir -, pelo ingenuismo quase infantil dos seus trabalhos, a poesia lírica que ressalta de cada de cada um dos seus quadros, a falta total de perspectiva, a pureza das cores, a originalidade dos temas e soluções. O carinho. O amor. (...) Robert Thilmany, um dos maiores estudiosos desta corrente, no seu livro "Critériologie de L´Art Naif" enuncia as seguintes quatro características fundamentais desta pintura:
* o perfume da inocência, uma "candura angélica", uma ingenuidade de tema ou execução, que constitui uma das características fundamentais da modalidade; * a poesia, que traduz a visão poética da realidade que os pintores "naifs" colocam nos seus trabalhos; * a originalidade criadora, pessoal, inventiva, indispensável a toda a arte "naif" digna desse nome; * a dimensão metafísica de uma certa procura de absoluto, numa perspectiva festiva, simbólica, hedonista, religiosa, social, mística ou qualquer outra, cuja ausência reduz a arte a um puro objecto decorativo. Augusto Pinheiro está representado nos Museus de Pintura "Naif" de Jaén e Figueras, em Espanha e no Museu de Arte Primitiva Moderna de Guimarães. Entre os prémios que recebeu referem-se: Menção Honrosa no Salão de Outono 1981 da Galeria de Arte do Casino Estoril; Menção Honrosa no IV Salão Nacional de Pintura "Naif" da Galeria de Arte do Casino Estoril; Prémio Câmara Municipal de Guimarães no XIV Salão de Pintura "Naif" da Galeria de Arte do Casino Estoril. (...) A pintura "naif" está a afirmar-se cada vez mais em todos os países, com a realização de exposições, publicação de livros, abertura de galerias e até a instalação de museus exclusivamente dedicados a esta modalidade e os coleccionadores adquirem obras de arte "naif", que em muitos casos atingem cotações tão elevadas como os trabalhos das outras correntes e tendências.
(...) Em Portugal a Câmara Municipal de Guimarães promoveu em 1991 a organização de um Museu de Arte Naif, designado de Arte Primitiva Moderna, reunindo hoje mais de 100 trabalhos de artistas portugueses, brasileiros e espanhóis, oferecidos na sua quase totalidade através de diligências feitas pela Galeria de Arte do Casino Estoril. Pensamos que a melhor homenagem que se poderia prestar em Nisa a Augusto Pinheiro - são, ainda, palavras de Lima de Carvalho - seria, com o seu espólio e os quadros que doou à Misericórdia, e outros doados por outros artistas, dar início a um processo de criação de um museu de Arte "Naif" Augusto Pinheiro em Nisa. Vamos a isso? O seu mundo é um mundo singular. Um mundo de sonho e fantasia. O verdadeiro pintor "naif", mais do que com os pincéis e as tintas, pinta com o coração. Assim era Augusto Pinheiro. Um grande Artista que honra Nisa, sua Terra e de que todos nos devemos orgulhar. Completaram-se, no passado dia 22 de Agosto, 100 anos sobre o nascimento de Augusto Pinheiro. Mais do que a evocação de uma pessoa, uma vida e uma obra, lembramos, nesta singela homenagem o homem, o pintor e o cidadão de Nisa que, desaparecido do nosso convívio continua a estar presente através do colorido e da intensidade luminosa, humana, das obras que nos legou e que devem constituir património cultural desta terra que o viu nascer e foi musa inspiradora do seu talento.
Falar de Augusto Pinheiro, artista, aqui e agora, seria repisar o que abalizados críticos de arte desde há muito vêm repetindo. A atribuição do prémio "Câmara Municipal de Guimarães", a mais alta distinção do "Salão Ibérico de Arte Naif", realizado na Galeria de Arte do Casino Estoril, em Agosto de 1993, representa o reconhecimento por toda uma obra pictórica ao longo de 23 anos, que o levou aos mais distintos salões e galerias de arte, um pouco por toda a Europa. Recolhido a Nisa, sua terra natal, aqui passou os últimos anos da sua vida, continuando a pintar, já sem o fulgor e clarividência dos tempos áureos da sua obra. Apesar disso, manteve sempre, até morrer, a lucidez de um desejo, um sonho, um projecto, de que falava com alguma insistência e que não viu concretizado: a instalação de um museu, de uma sala de exposições onde as suas obras e de outros pintores "naifs" pudessem mostrar aos vindouros, a beleza e a perenidade da arte e da cultura. Mais do que a homenagem que lhe prestamos e irá continuar com outras iniciativas, impõe-se transmitir para a posteridade o sonho do artista, ajudando a criar um espaço onde os quadros de Augusto Pinheiro, possam ver a luz do dia e passar a mensagem do amor que dedicou à natureza e, por ela, à vida. É o mínimo que podemos fazer pela sua memória. A todos, muito obrigado!