28.10.24
GAZA: Há bancos em Portugal a financiar as armas do genocídio
Santander, BBVA e o CaixaBank, dono do BPI, estão entre as instituições que financiam os principais fabricantes de armas que Israel está a usar nos massacres em Gaza e no Líbano.
Os sucessivos relatórios das Nações Unidas e pronunciamentos do Tribunal Internacional de Justiça a apelar ao fim dos crimes de guerra e à prevenção do genocídio não surtiram efeito junto do Governo israelita, que prosseguiu os massacres em Gaza, alargando-os ao Líbano, enquanto na Cisjordânia aumentam os ataques dos colonos e a repressão do estado sionista.
A máquina de guerra de Israel tem sido alimentada por fabricantes de armas europeus e estadunidenses, que são por sua vez financiados por grandes instituições financeiras. Se a venda de armas a Israel já era um negócio de alto risco antes do início do genocídio de Gaza, dadas as constantes violações das leis internacionais nos territórios palestinianos ocupados, desde outubro do ano passado ficou mais exposta a cumplicidade de muitos bancos com os crimes do apartheid israelita que já vitimaram mais de 43 mil habitantes de Gaza, na maioria mulheres e crianças.
Um relatório publicado em junho por várias ONG, como a Federação Internacional dos Direitos Humanos, lembra a responsabilidade das empresas que produzem armamento, bem como dos seus acionistas e financiadores, em respeitar os direitos humanos e a lei humanitária e penal internacional e em mitigar e prevenir impactos adversos para os direitos humanos pelo uso dos seus produtos, uma responsabilidade reforçada quando são usados em zonas de conflito. Ele selecionou apenas as seis empresas - entre o grupo dos 25 maiores produtores de armamento do mundo - que de acordo com os dados do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI) sobre transferências internacionais de armamento forneceram armas novas a Israel entre janeiro de 2019 e dezembro de 2023: a Boeing, General Dynamics, Leonardo, Lockheed Martin, RTX (antiga Raytheon) e Rolls-Royce. Entre o armamento fornecido por estas seis empresas contam-se mísseis e bombas, helicópteros, caças, aviões de reabastecimento, motores para tanques e veículos blindados. Em seguida, o relatório seleciona os 20 maiores grupos financeiros europeus que forneceram empréstimos ou garantias àquelas empresas produtoras de armamento entre janeiro de 2021 e agosto de 2023, apoiando-se nas bases de dados da Bloomberg e Refinitiv Eikon.
Entre os bancos com presença em Portugal destaca-se o gigante francês BNP Paribas, com 4.709 milhões de euros em empréstimos e 1.011 milhões em garantias prestadas à Boeing, Leonardo, Rolls-Royce e RTX Coro. Segue-se o Deutsche Bank, com 2.845 milhões em empréstimos e 1.142 milhões em garantias às mesmas empresas, o Barclays (2.203 e 671 milhões, respetivamente) e o Lloyds (1.846 e 172 milhões). Barclays e Deutsche Bank são também acionistas de todas aquelas seis empresas, com participações que ascendem aos 978 milhões e 695 milhões, respetivamente.
Dos grandes bancos de retalho em Portugal a financiar empresas que venderam armamento a Israel destaca-se o Santander com 1.846 milhões de euros em empréstimos à Boeing, Leonardo e Rolls-Royce e mais 222 milhões em garantias à Boeing. O BBVA surge pouco atrás na lista, com 1.052 milhões de empréstimos distribuídos pela Boeing, General Dynamics, Leonardo e Rolls-Royce e mais 326 milhões em garantias às duas primeiras.
Outro relatório publicado este mês pelo Centro Delàs de Estudos para a Paz, intitulado “A banca armada e a sua corresponsabilidade no genocídio em Gaza”, inclui 15 empresas de armamento, entre as quais algumas da indústria militar israelita. Além das seis do relatório acima citado, refere a BAE Systems, Day & Zimmerman, Elbit Systems, Israel Aerospace Industries, Nammo, Navantia, Oshkosh Corp, Rafael Advanced Defense Systems e Rheinmetall. E concentra-se na banca espanhola, identificando 12 entidades financeiras, onde se destacam Santander e BBVA, mas também o Caixabank, dono do BPI em Portugal.
Nas contas feitas aqui em dólares, fica a saber-se que o BBVA financiou com 1.300 milhões, o Santander com 1.200 milhões e o CaixaBank com 110 milhões as empresas que exportaram bombas teleguiadas tipo GBU, fabricadas pela Boeing e General Dynamics, que Israel usou em dois massacres de Jabalia a 9 e 31 de outubro do ano passado e que mataram 42 e 56 civis, respetivamente. Os mísseis JDAM e os caças F-15 da Boeing ou os F-35 da italiana Leonardo têm sido presença constante nos bombardeamentos sobre Gaza, o Líbano e também o Iémen. BBVA e Santander também financiaram a alemã Rheinmetall, que exporta peças de artilharia de longo alcance como os M109-52 Howitzer ou as munições de tanque Rh-120, usadas de forma indiscriminada contra a população e infraestruturas civis palestinianas. Ou a General Dynamics e a Day & Zimmerman, que produzem projéteis disparados pelos tanques israelitas.
Entre empréstimos, créditos recorrentes, subscrição de obrigações ou participação acionista no capital de alguma ou várias daquelas 15 empresas, o volume total de financiamento e investimento em fabricantes de armas usadas no genocídio ascende a 2.442 milhões de dólares para o Santander, 1.558 milhões para o BBVA e 110 milhões para o La Caixa, conclui este relatório.
Na lista das principais entidades da “banca armada internacional” a financiar empresas que vendem armas usadas no genocídio em Gaza, o BNP Paribas é o primeiro banco europeu e surge apenas na 15ª posição. No topo da lista estão os grandes fundos de investimento, como o Vanguard (41.107 milhões de dólares), o State Street (38.620 milhões), o Capital Group (31.603 milhões) ou a Blackrock (30.570 milhões), que é acionista de várias cotadas portuguesas, entre as quais a EDP, o BCP, a NOS, a Jerónimo Martins e os CTT. Este top-5 encerra-se com o Bank of America (18.909 milhões). O Santander ocupa a 36ª posição e o BBVA a 51ª.
Os números desta lista, concluem os autores do relatório, mostram como “os grandes investidores institucionais, liderados por entidades estadunidenses e europeias, apoiam massivamente a indústria do armamento, tornando evidente que as instituições financeiras são parte principal do ciclo económico militar que permite a continuação dos conflitos armados e das violações dos direitos humanos por todo o mundo”. Por outro lado, ela expõe a hipocrisia de instituições como o Santander, BBVA e o Caixabank, que apregoam valores nas suas políticas de responsabilidade corporativa como os de promover e respeitar os direitos humanos ao mesmo tempo que não mostram vontade de travar o financiamento e investimentos em entidades que os contrariam. E assim mantêm uma “relação direta com violações dos direitos humanos, crimes de guerra e violação do direito comercial humanitário”, sublinha o relatório do Centro Delàs de Estudos para a Paz.
Há dois anos, o banco Santander, o BBVA e o CaixaBank figuravam também na lista dos maiores financiadores das 50 empresas com negócios nos colonatos ilegais que Israel construiu nos territórios palestinianos ocupados, com cerca de 9.500, 5.000 e 660 milhões de dólares concedidos, respetivamente. Mais uma vez é o BNP Paribas - com 25 mil milhões de dólares em créditos e 3.000 milhões em ações e obrigações dessas empresas - que lidera este ranking elaborado por 24 ONG europeias e palestinianas no relatório “Don’t Buy Into Occupation”.
in www.esquerda.net - 28 Outubro 2024