Tive a sorte de conseguir ouvir o último debate dos candidatos com assento parlamentar, às eleições no próximo 10 de março deste ano. Este debate teve lugar no passado dia 26 de fevereiro e foi promovido e difundido por várias rádios.
Dentro do possível, segui os debates televisivos e posso garantir que este debate radiofónico foi mais completo e mais esclarecedor. O Chega fugiu ao debate e tinha sido interessante saber se, também na rádio, André Ventura ficava “nas covas” perante os seus adversários. Sim, porque quando fala para pessoas sem conhecimento da causa pública e principalmente sem cultura política, a extrema-direita reina.
O líder do Chega trocou um debate de esclarecimento por um almoço com 50 pessoas que abanam a cabeça e arregalam os olhos sem pensarem e sem perceberem o que estão a ouvir. Até acredito que o sucesso deste debate mais civilizado, onde foram tratados assuntos que não apareceram nas televisões, teve um pouco a ver com a falta do discurso agressivo e de ódio, estilo trauliteiro e de baixo nível, como é característico dos candidatos de extrema-direita um pouco por todo o mundo.
E é preocupante, quando percebemos que o espectro do eleitorado do Chega tem um forte pendor em homens jovens, com baixo nível de escolaridade e bastante religiosos. São por norma dogmáticos e antifeministas. Também defendem que o problema do país é a imigração e estão muito longe de perceber o seu grau de ignorância; uma patologia política muito preocupante para a qual não existe vacina, nem tratamento; é necessário e importante um projeto educativo de cidadania que levaria décadas a erradicar o analfabetismo político.
Mas criticar o Chega não é um exercício completo, é preciso perceber de onde aparecem estes defensores de Deus Pátria e Família, ou seja, saudosistas do Estado Novo que deixou este país no fundo. Pois bem, na maioria andavam misturados no PSD e no CDS, sempre com posições mais extremistas e conservadoras. Teria sido bom esta higienização nesses partidos se isso não representasse um esvaziamento no eleitorado e talvez, uma impossibilidade de consenso à direita porque até neonazis se juntaram a esta onda.
Outro partido que não acerta, é o Iniciativa Liberal. Depois do referido debate nas rádios acima citado, Rui Rocha faz o pior que há na política, que é denegrir o adversário. Nesse debate BE e PCP, manifestaram solidariedade para com o povo ucraniano e o líder do IL veio depois a público acusar o PS de ter como possíveis aliados, partidos pró-Putin.
Rui Rocha ou tem problemas cognitivos ou está de má fé e se o PCP, inicialmente vacilou um pouco, a postura atual é de condenar a guerra provocada por Putin e estar contra a indústria da guerra e a favor dos direitos do povo ucraniano. Já o BE foi sempre claro neste aspeto, só Rui Rocha não percebe, ou quer enganar os eleitores. Para quem quer ter a confiança dos eleitores já provou que não é sério e vai na linha de comentadores do sistema, provavelmente lê muito o “Observador”.
Foi notícia esta semana a ação de protesto de ativistas do clima. Estou solidário com eles nesta grande causa do ambiente e sabemos que é desesperante ver os nossos governantes a vergarem-se perante os interesses económicos e a colocarem cada vez mais em risco o nosso planeta. Mas não é a agredir um político como aconteceu a Luís Montenegro, que vamos resolver o problema do ambiente. Estes ativistas imitaram Fernando Ruas, que há pouco tempo esteve na campanha da AD e que no passado incentivou a correr os ambientalistas à pedrada. Estes jovens têm de aprender outras formas de luta e não seguirem o arruaceiro de Viseu.
Mas o assunto da semana, foi a aparição de Passos Coelho recordando a sua governação de má memória. Ventura vibrou com o discurso de Passos, principalmente em relação à imigração associando esta à insegurança. Ao imitar a extrema-direita engana as pessoas porque desde 2006 que a criminalidade tem vindo a decrescer; enquanto 84,77% dos reclusos são portugueses e apenas 3,8% são estrangeiros. Não podem ignorar o importante contributo dos imigrantes na Segurança Social que todos os anos contribuem com cerca de 1600 milhões de euros.
Hoje já não oiço a Rádio no velhinho Telefunken dos meus pais, mas continuo a ouvir bons programas feitos por bons profissionais. É uma forma de estar atento e consigo perceber que, em especial as rádios, que não estão nas mãos dos tubarões da economia, são as que prestam melhor serviço público.
* Paulo Cardoso -01.03.2024 - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre