22.3.24

NISA, Branca e Alentejana (V)

Nisa e o seu artesanato no olhar de uma jovem *
Lenços e sacos de guardanapos são confeccionados com o bordado de lagarteira. A linha é de seda, podendo ser outra. O desenho escolhido para bordar foram as letras do alfabeto. Para bordar estes lenços de mil escudos e os sacos de guardanapos de dois mil escudos, o bastidor é imprescindível. Bastidor é uma roda de madeira que estica o pano e é assim que está pronto para se bordar. A contornar estas peças é utilizada uma renda industrial, que se fosse feita, o trabalho era a dobrar.
Os famosos xailes bordados, com a sua beleza são uma das peças do traje de Nisa. São pretos e brancos. Estes só se vêm no Carnaval com a respectiva saia de feltro vermelha, com um rameado preto em toda a volta da saia, também em feltro. Os xailes pretos já são usados em qualquer altura, mas mais à noite.
Para bordá-los é necessário o tecido em forma de quadrado, que cortado ao meio (ficando em forma de triângulo) dá para dois xailes, linhas de bordar de uma a mais cores, agulha, tesoura, dedal, papel vegetal e papel químico.
Começa por riscar-se o desenho para o pano, através do papel vegetal para o químico e deste para o pano. Depois preenche-se o desenho através do ponto de cadeia. Quando o bordado estiver finalizado, faz-se o remate do xaile em lã com uma agulha de croché. Seguidamente fazem-se as lérias, sendo estas um croché, um cordão em linha. No meio das lérias (do cordão) fazem-se as franjas de rabinho de gato, têm este nome porque formam um certo relevo e são fofinhas tal como um rabinho de gato. Para se fazerem estas franjas, colocam-se quatro linhas de lã (que têm pouco mais de um centímetro) no meio de um léria, continuando a fazer o mesmo na léria e nas outras.
Os xailes pretos fazem-se precisamente da mesma forma, só que as franjas são de compra, vindas de Lisboa.
Para fazer esta arte, a D. Antónia Polido diz-nos que se aprende em mês e meio ou dois meses, sendo precisamente dois meses o tempo necessário para executar um xaile bordado.
Vendem-se bem, principalmente para o Carnaval, as encomendas são muitas, mas as mãos limpas como nos alinhavados é um cuidado a ter tal como noutro bordado.
O preço de um xaile branco ou preto são 35 contos, dependendo por vezes dos ramos, mas este preço é o mais habitual.
Toda a vida a D. Antónia se lembra de se usarem estes xailes na vila de Nisa. Multicolores ou de uma cor só, estes xailes típicos desta vila chamam a atenção, só é pena não ser sempre Carnaval.
E já que estamos a falar de bordados, porque não falar dos lindos cobertores bordados que também fazem história?
Apesar de terem uma boa venda, assim como as encomendas, ocupam muitas horas e escusado será dizer que é um trabalho cansativo. Em dois meses pode aprender-se a bordar um cobertor, mas a D. Antónia diz que “em menos de um ano não se consegue fazer um”.
Estou a falar de cobertores que custam precisamente quinhentos contos, recebendo o grupo de alinhavados um prémio por um cobertor preto. A entrega do prémio foi em Lisboa no Centro de Emprego.
Para começar a bordar um cobertor são necessários dois metros e meio de feltro. De seguida elabora-se o desenho precisamente como nos xailes bordados, depois é pôr mãos à obra utilizando linhas de bordar. Não têm franja mas sim um picôt, sendo este um remate em croché a recortes em caseado.
Estes cobertores, assim como os xailes, sempre se fizeram em Nisa. A cama da noiva era de alinhavados, o cobertor era bordado e posto ao fundo da cama em forma de leque, como se pode observar nas exposições. Muitas pessoas em Nisa sabem bordar cobertores e xailes, mas como diz a frase: A tradição já não é o que era”.
Segue-se a arte aplicada à mão. Este trabalho não é designado por arte aplicada, mas sim por trabalhos em feltro, já que o material principal é o feltro, seguindo-se então as linhas para bordar.
Unem-se duas partes de feltro, alinhava-se o desenho (que está no papel vegetal) por cima e aplica-se à mão. As cores do feltro são várias de acordo com o desenho. É com cores que se criam cobertores, saias de camilha, jogos de cozinha, jogos de quartos e pegas. Em três meses cria-se um cobertor com seis pessoas a trabalhar nele, enquanto que uma pega faz-se em dois, três dias trabalhando nela apenas uma pessoa.
Antigamente este tipo de trabalho fazia-se à mão, mas como surgiram as máquinas tudo mudou, embora neste grupo a arte aplicada seja à mão.
Relativamente aos preços mais altos, um cobertor fazendo-se mais depressa que um bordado, custa 300 contos, o mais baixo é de mil escudos, como é o caso de uma pega ou de uma base para copos. É cansativo, mas o trabalho tem que estar “limpinho e perfeito”.
Os trabalhos tais como alinhavados, caramelos, renda de bilros, lenços, saquinhos de guardanapos, xailes e cobertores bordados e arte aplicada à mão, tivemos oportunidade de verificá-los no Grupo de Alinhavados de Nisa. São trabalhos que já estiveram expostos em hotéis, feiras de artesanato, como em Nisa, na FIL (Lisboa) Norte, Algarve e Espanha. “Não têm conto!”, diz-nos a D. Antónia Polido. Trabalhos conhecidos por jornais e televisões que dispensam qualquer tipo de apresentação. Acham que os trabalhos estão bem divulgados, dizem as artesãs. Têm compradores de todo o país e estrangeiro, nomeadamente, espanhóis, franceses, americanos, alemães e italianos.
Quanto à Câmara, o que têm a dizer é que ajuda a divulgar estes trabalhos, mas quanto aos jovens, o caso já se torna diferente. A esta actividades os jovens não aderem, aderem sim quando há subsídios e acções de formação, porque há dinheiro, caso contrário não há interesse. Mas há sempre alguém que aprecia. Quando há excursões, há rapazes que apreciam mais do que as raparigas, mas isso é conforme o gosto da pessoa.
D. Antónia disse-nos que uma jovem de Lisboa vinha todos os verões para este grupo, e foi nele que fez todo o seu enxoval, por isso podemos dizer que "há juventude e juventude."

* Patrícia PortoFev. 1997