Nisa e o seu artesanato no olhar de uma
jovem *
Lenços e sacos de guardanapos são
confeccionados com o bordado de lagarteira. A linha é de seda,
podendo ser outra. O desenho escolhido para bordar foram as letras do
alfabeto. Para bordar estes lenços de mil escudos e os sacos de
guardanapos de dois mil escudos, o bastidor é imprescindível.
Bastidor é uma roda de madeira que estica o pano e é assim que está
pronto para se bordar. A contornar estas peças é utilizada uma
renda industrial, que se fosse feita, o trabalho era a dobrar.
Os famosos xailes bordados, com a sua
beleza são uma das peças do traje de Nisa. São pretos e brancos.
Estes só se vêm no Carnaval com a respectiva saia de feltro
vermelha, com um rameado preto em toda a volta da saia, também em
feltro. Os xailes pretos já são usados em qualquer altura, mas mais
à noite.
Para bordá-los é necessário o tecido
em forma de quadrado, que cortado ao meio (ficando em forma de
triângulo) dá para dois xailes, linhas de bordar de uma a mais
cores, agulha, tesoura, dedal, papel vegetal e papel químico.
Começa por riscar-se o desenho para o
pano, através do papel vegetal para o químico e deste para o pano.
Depois preenche-se o desenho através do ponto de cadeia. Quando o
bordado estiver finalizado, faz-se o remate do xaile em lã com uma
agulha de croché. Seguidamente fazem-se as lérias, sendo
estas um croché, um cordão em linha. No meio das lérias (do
cordão) fazem-se as franjas de rabinho de gato, têm este nome
porque formam um certo relevo e são fofinhas tal como um rabinho de
gato. Para se fazerem estas franjas, colocam-se quatro linhas de lã
(que têm pouco mais de um centímetro) no meio de um léria,
continuando a fazer o mesmo na léria e nas outras.
Os xailes pretos fazem-se precisamente
da mesma forma, só que as franjas são de compra, vindas de Lisboa.
Para fazer esta arte, a D. Antónia
Polido diz-nos que se aprende em mês e meio ou dois meses, sendo
precisamente dois meses o tempo necessário para executar um xaile
bordado.
Vendem-se bem, principalmente para o
Carnaval, as encomendas são muitas, mas as mãos limpas como nos
alinhavados é um cuidado a ter tal como noutro bordado.
O preço de um xaile branco ou preto
são 35 contos, dependendo por vezes dos ramos, mas este preço é o
mais habitual.
E já que estamos a falar de bordados,
porque não falar dos lindos cobertores bordados que também fazem
história?
Apesar de terem uma boa venda, assim
como as encomendas, ocupam muitas horas e escusado será dizer que é
um trabalho cansativo. Em dois meses pode aprender-se a bordar um
cobertor, mas a D. Antónia diz que “em menos de um ano não se
consegue fazer um”.
Estou a falar de cobertores que custam
precisamente quinhentos contos, recebendo o grupo de alinhavados um
prémio por um cobertor preto. A entrega do prémio foi em Lisboa no
Centro de Emprego.
Para começar a bordar um cobertor são
necessários dois metros e meio de feltro. De seguida elabora-se o
desenho precisamente como nos xailes bordados, depois é pôr mãos à
obra utilizando linhas de bordar. Não têm franja mas sim um picôt,
sendo este um remate em croché a recortes em caseado.
Estes cobertores, assim como os xailes,
sempre se fizeram em Nisa. A cama da noiva era de alinhavados, o
cobertor era bordado e posto ao fundo da cama em forma de leque,
como se pode observar nas exposições. Muitas pessoas em Nisa sabem
bordar cobertores e xailes, mas como diz a frase: A tradição já
não é o que era”.
Unem-se duas partes de feltro,
alinhava-se o desenho (que está no papel vegetal) por cima e
aplica-se à mão. As cores do feltro são várias de acordo com o
desenho. É com cores que se criam cobertores, saias de camilha,
jogos de cozinha, jogos de quartos e pegas. Em três meses cria-se um
cobertor com seis pessoas a trabalhar nele, enquanto que uma pega
faz-se em dois, três dias trabalhando nela apenas uma pessoa.
Antigamente este tipo de trabalho
fazia-se à mão, mas como surgiram as máquinas tudo mudou, embora
neste grupo a arte aplicada seja à mão.
Relativamente aos preços mais altos,
um cobertor fazendo-se mais depressa que um bordado, custa 300
contos, o mais baixo é de mil escudos, como é o caso de uma pega ou
de uma base para copos. É cansativo, mas o trabalho tem que estar
“limpinho e perfeito”.
Os trabalhos tais como alinhavados,
caramelos, renda de bilros, lenços, saquinhos de guardanapos, xailes
e cobertores bordados e arte aplicada à mão, tivemos oportunidade
de verificá-los no Grupo de Alinhavados de Nisa. São trabalhos que
já estiveram expostos em hotéis, feiras de artesanato, como em
Nisa, na FIL (Lisboa) Norte, Algarve e Espanha. “Não têm conto!”,
diz-nos a D. Antónia Polido. Trabalhos conhecidos por jornais e
televisões que dispensam qualquer tipo de apresentação. Acham que
os trabalhos estão bem divulgados, dizem as artesãs. Têm
compradores de todo o país e estrangeiro, nomeadamente, espanhóis,
franceses, americanos, alemães e italianos.
Quanto à Câmara, o que têm a dizer é
que ajuda a divulgar estes trabalhos, mas quanto aos jovens, o caso
já se torna diferente. A esta actividades os jovens não aderem,
aderem sim quando há subsídios e acções de formação, porque há
dinheiro, caso contrário não há interesse. Mas há sempre alguém
que aprecia. Quando há excursões, há rapazes que apreciam mais do
que as raparigas, mas isso é conforme o gosto da pessoa.
D. Antónia disse-nos que uma jovem
de Lisboa vinha todos os verões para este grupo, e foi nele que fez
todo o seu enxoval, por isso podemos dizer que "há juventude e
juventude."
* Patrícia Porto – Fev. 1997