Nisa e o seu artesanato no olhar de uma
jovem *
Passamos dos trapos para as já
conhecidas frioleiras. Catarina Porto, doméstica, 40 anos,
dedicou-se a esta arte aos 16 anos por curiosidade.
As frioleiras são conhecidas pelos
naperons. Mas esta artesã acha que a arte não tem fronteiras, como
tal, partiu em busca de novos encantos. Foi com uma experiência que
surgiram os quadros em frioleiras, já lá vão cerca de oito anos. A
partir daí foi dar largas à imaginação, surgindo outras
modalidades como: golas para blusas, argolas para colocar
guardanapos, fitas de finalista, almofadas de cheiro, saquinhos para
os lenços de papel e bases para copos.
O material necessário para proceder à
execução deste artesanato é uma agulha, que tem o nome de navete,
linhas, tesoura, pano e cola, já que os trabalhos são colados.
Para passar à prática, enche-se a
navete com linha, podendo esta ser de qualquer qualidade embora a D.
Catarina faça com uma seu gosto. A linha dá a volta aos dedos da
mão esquerda, trabalhando a mão direita com a navete. Esta vai à
mão esquerda inúmeras vezes formando um caseado, e deste resulta a
peça que se desejar. Da parte teórica à prática existe uma certa
diferença, ouvindo-se o barulhinho da linha a soltar-se da navete,
resultando desta observação mais confusão do que compreensão,
devido à rapidez que acumula muitos anos de prática.
Depois de se terem as peças
necessárias, procede-se à colagem no pano, estando neste gravado a
química as linhas direitas do desenho.
É com uma tesoura muita pequena e com
bicos muito afiados que a colagem é efectuada.
Há trabalhos que se pode executar numa
hora, havendo outros que demoram um mês.
Quanto aos preços, estes poderão
oscilar entre os 300 escudos (argolas para colocar guardanapos) e os
60 contos (quadro grande).
Apesar de trabalhar nas horas vagas o
aborrecimento não existe. O que prefere fazer são os quadros, isto
porque têm muita variedade. A D. Catarina tem a ajuda do seu marido,
o sr. João Porto, carpinteiro, 44 anos, que fabrica as molduras para
os quadros. Trabalham durante todo o ano, mas mesmo assim esta artesã
acha que os quadros não estão muito divulgados, embora as
frioleiras de naperons sejam conhecidas por todo o lado.
Os bordados também são umas das
preciosidades desta vila e quem o pode provar é a Paula Estróia de
26 anos, dedicando-se aos quadros há cerca de 7 anos. A sua
profissão de comerciante não impede que mantenha a sua paixão
pelos bordados, tendo ainda tempos livres para praticar esta
actividade.
Os trabalhos são variados: camas,
toalhas, jogos de quarto, panos de sala, quadros, almofadas,
almofadinhas de cheiro, bolsinhas de cheiro e almofadinhas para fixar
agulhas.
O material necessário para a
realização de uma peça bordada são: agulhas, linhas (que podem
ser das marcas DMC e Âncora, linha da Madeira, de seda, etc.) pano,
tesoura e, como diz esta artesã, “boa disposição”.
Quadros bordados, são usuais em todo o
lado, mas o “ponto de cadeia” - espécie de uma corrente em que
os pontos se encadeiam – é o bordado mais típico de Nisa, sendo
assim a sua realização: passa-se o desenho em papel vegetal,
tiram-se as medidas e centra-se o desenho no meio do pano.
Seguidamente, passa-se o desenho com papel químico, do papel vegetal
para o pano, pode então começar-se a bordar. Se o pano for feltro,
alinhava-se por cima do desenho a químico, pois o químico tem
tendência a desaparecer no feltro.
Ao bordar é indispensável ter o
cuidado de não passar muitas vezes com as mãos por cima do pano,
pois dessa forma a linha começa a perder o brilho. O tempo na
realização destes trabalhos é variado, pois uma almofadinha pode
fazer-se numa hora, hora e meia, um quadro entre três semana a um
mês, e um cobertor entre 6 a 7 meses. Os preços vão desde os 350
escudos (bolsinha de cheiro) a um quadro entre os 60 e 70 contos.
Sem ajudas, lá ai participando na
Feira de Artesanato em Nisa, pois foi a única exposição onde
participou, durante dois ou três anos seguidos, com cerca de 50
peças, em cada ano.
Os compradores são de todo o país,
mas os nisenses não entram neste grupo, já que quase todas as
mulheres sabem bordar. Afirma ainda que quanto a vendas, não se
vende muito pois o custo de vida está muito elevado.Tem pena que os bordados um dia venham
a desaparecer e exclama: “Da minha parte não desaparecem, mas o
que se há-de fazer?” Diz que gostaria que houvesse mais pessoas a
fazer bordados, para estes não se irem perdendo.
A Câmara não a apoia, não a convida
para exposições noutros locais e é claro, aqui fica o recado: “
devia apoiar mais os artesãos, pelo menos a transportar as pessoas
para fora.” Costuma dizer-se “Nisa bordada” e é de facto!
* Patrícia Porto – Fev. 1997