15.3.24

NISA, Branca Alentejana (III)

Nisa e o seu artesanato no olhar de uma jovem *
Passamos dos trapos para as já conhecidas frioleiras. Catarina Porto, doméstica, 40 anos, dedicou-se a esta arte aos 16 anos por curiosidade.
As frioleiras são conhecidas pelos naperons. Mas esta artesã acha que a arte não tem fronteiras, como tal, partiu em busca de novos encantos. Foi com uma experiência que surgiram os quadros em frioleiras, já lá vão cerca de oito anos. A partir daí foi dar largas à imaginação, surgindo outras modalidades como: golas para blusas, argolas para colocar guardanapos, fitas de finalista, almofadas de cheiro, saquinhos para os lenços de papel e bases para copos.
O material necessário para proceder à execução deste artesanato é uma agulha, que tem o nome de navete, linhas, tesoura, pano e cola, já que os trabalhos são colados.
Para passar à prática, enche-se a navete com linha, podendo esta ser de qualquer qualidade embora a D. Catarina faça com uma seu gosto. A linha dá a volta aos dedos da mão esquerda, trabalhando a mão direita com a navete. Esta vai à mão esquerda inúmeras vezes formando um caseado, e deste resulta a peça que se desejar. Da parte teórica à prática existe uma certa diferença, ouvindo-se o barulhinho da linha a soltar-se da navete, resultando desta observação mais confusão do que compreensão, devido à rapidez que acumula muitos anos de prática.
Depois de se terem as peças necessárias, procede-se à colagem no pano, estando neste gravado a química as linhas direitas do desenho.
É com uma tesoura muita pequena e com bicos muito afiados que a colagem é efectuada.
Há trabalhos que se pode executar numa hora, havendo outros que demoram um mês.
Quanto aos preços, estes poderão oscilar entre os 300 escudos (argolas para colocar guardanapos) e os 60 contos (quadro grande).
Apesar de trabalhar nas horas vagas o aborrecimento não existe. O que prefere fazer são os quadros, isto porque têm muita variedade. A D. Catarina tem a ajuda do seu marido, o sr. João Porto, carpinteiro, 44 anos, que fabrica as molduras para os quadros. Trabalham durante todo o ano, mas mesmo assim esta artesã acha que os quadros não estão muito divulgados, embora as frioleiras de naperons sejam conhecidas por todo o lado.
Nunca pensou em deixar este trabalho, vai sim continuar a trabalhar para que as pessoas de todo o país e emigrantes continuem a comprar estes trabalhos. Lamenta que não haja mais exposições onde pudesse participar. É este o mundo das pecinhas que dão origem a grandes obras.
Os bordados também são umas das preciosidades desta vila e quem o pode provar é a Paula Estróia de 26 anos, dedicando-se aos quadros há cerca de 7 anos. A sua profissão de comerciante não impede que mantenha a sua paixão pelos bordados, tendo ainda tempos livres para praticar esta actividade.
Os trabalhos são variados: camas, toalhas, jogos de quarto, panos de sala, quadros, almofadas, almofadinhas de cheiro, bolsinhas de cheiro e almofadinhas para fixar agulhas.
O material necessário para a realização de uma peça bordada são: agulhas, linhas (que podem ser das marcas DMC e Âncora, linha da Madeira, de seda, etc.) pano, tesoura e, como diz esta artesã, “boa disposição”.
Quadros bordados, são usuais em todo o lado, mas o “ponto de cadeia” - espécie de uma corrente em que os pontos se encadeiam – é o bordado mais típico de Nisa, sendo assim a sua realização: passa-se o desenho em papel vegetal, tiram-se as medidas e centra-se o desenho no meio do pano. Seguidamente, passa-se o desenho com papel químico, do papel vegetal para o pano, pode então começar-se a bordar. Se o pano for feltro, alinhava-se por cima do desenho a químico, pois o químico tem tendência a desaparecer no feltro.
Ao bordar é indispensável ter o cuidado de não passar muitas vezes com as mãos por cima do pano, pois dessa forma a linha começa a perder o brilho. O tempo na realização destes trabalhos é variado, pois uma almofadinha pode fazer-se numa hora, hora e meia, um quadro entre três semana a um mês, e um cobertor entre 6 a 7 meses. Os preços vão desde os 350 escudos (bolsinha de cheiro) a um quadro entre os 60 e 70 contos.
Sem ajudas, lá ai participando na Feira de Artesanato em Nisa, pois foi a única exposição onde participou, durante dois ou três anos seguidos, com cerca de 50 peças, em cada ano.
Foi na mestra do Asilo que as suas mãos aprenderam esta arte de bordar, tudo pelo gosto aos bordados.
Os compradores são de todo o país, mas os nisenses não entram neste grupo, já que quase todas as mulheres sabem bordar. Afirma ainda que quanto a vendas, não se vende muito pois o custo de vida está muito elevado.Tem pena que os bordados um dia venham a desaparecer e exclama: “Da minha parte não desaparecem, mas o que se há-de fazer?” Diz que gostaria que houvesse mais pessoas a fazer bordados, para estes não se irem perdendo.
A Câmara não a apoia, não a convida para exposições noutros locais e é claro, aqui fica o recado: “ devia apoiar mais os artesãos, pelo menos a transportar as pessoas para fora.” Costuma dizer-se “Nisa bordada” e é de facto!
* Patrícia PortoFev. 1997