18.3.24

NISA, Branca Alentejana (IV)

 
Nisa e o seu artesanato no olhar de uma jovem *
Outro tipo de artesanato que alguns artesãos dizem ser o mais divulgado, são os alinhavados.
No Grupo de Alinhavados de Nisa, onde estão 12 pessoas, a mestra Antónia Polido, de 58 anos, trabalha desde os 10 anos nos alinhavados, portanto há 48 anos. A responsável pelas mãos trabalhosas desta artesã foi a sua mãe, que hoje se pode orgulhar.
Afirma gostar do trabalho e de estar com o grupo, embora a sua vista fique cansada ao executar os alinhavados.
Para dar início a este trabalho são necessárias linhas, linho, agulha, dedal, tesoura, papel vegetal, papel químico e uma almofada para apoiar o trabalho enquanto é executado. A máquina de costura é utilizada somente para a confecção de blusas, o resto pode ser tudo à mão.
Pega-se no linho e risca-se o desenho do avesso do linho. Alinhava-se com linhas de alinhavar do avesso. Volta-se o linho para o lado direito, fazendo-se o contorno das flores, a que se dá o nome de caseado. Volta-se novamente do avesso, parase desfiar, para puxar os fios. De seguida , volta-se do lado direito para fazer o crivo simples nos “olhos” das flores. Crivo é como uma renda formada por buraquinhos de vários feitios. Para além deste crivo, existemuitos outros tais como: crivo aberto e fechado com duas pernas; aberto e fechados simples, carreiras, quatro abertos e quatro fechados, crivo da cadeirinha, tem este nome porque o feitio é igual ao assento de bunho (material de que é feito o assento das cadeiras.Depois é só passar o trabalho a ferro e está pronto.
Afirma que os alinhavados tornam-se mais vivos acompanhados pela renda de bilros, para além disso há um cuidado a ter, mãos e e roupa sempre limpa.
É desta forma que nascem as toalhas de mesa, demorando algumas dois anos a fazer, jogos de cama, centros de mesa, jogos de quarto, cestas do pão, sendo precisos 15 dias para a sua execução, bases para copos e peças de roupa como as blusas, sendo estas muito fabricadas.
Antónia Polido diz que as peças grandes são as mais difíceis de fazer, como toalhas de mesa e lençóis. O preço mais baixo verifica-se numa base para copos, mil e quinhentos escudos, o mais alto é uma toalha que atinge os três mil escudos.
Uma das missões principais desta mestra é ensinar, porque acha que é pena este artesanato acabar, é um trabalho histórico desta vila, desde sempre se fez em Nisa, sendo as peças típicas. Apesar de criar modelos novos, acha que os mais bonitos são sempre os antigos.
Trabalha desde as 9 da manhã à 1 da manhã, as encomendas são muitas, algumas pedidas por fax, não vendem mais porque é difícil este artesanato, chega a dizer: “trabalho feito, trabalho vendido.”
Para além de achar que é um trabalho bem divulgado, diz que devia haver mais pessoas a fazer, e se não arranjarem uma escola, os alinhavados vão desparecer, e é de ter pena.
Os seus planos são: continuar a fazer trabalhos enquanto puder.
Os caramelos são outro tipo de artesanato, digamos que são semelhantes aos alinhavados e mais antigos que estes. A diferença reside apenas num pormenor. Enquanto que nos alinhavados faz-se o
contorno das flores e depois os alinhavados, nos outros primeiro são feitas as flores e depois os alinhavados. Dos caramelos são feitas peças tais como: panos e quadros.
Este artesanato é extremamente trabalhoso, sendo classificado pela frase: “ Oh Jesu! Que enfadamento! E que raiva e que tormento! Que cegueira e que canseira”.
As rendas também têm o seu poder de encanto, como é o caso da renda de bilros. É uma renda que desperta os olhos dos que vêem, principalmente pelos bilros, sendo estes os instrumentos que fazem a renda e que eram feitos pelos pastores, hoje talvez já não se façam. Para além destes, o material necessário é o desenho, as linhas, alfinetes, o rebolo (espécie de almofada bem cheia de palha onde se faz a renda, também onde se fixam os bilros) e o cavalete, onde se fixa o rebolo.
Olinda Marques trabalha esta renda desde os 14 anos e aprendeu com a sua mãe. Hoje com 43 anos diz que se apanhar uma ocupação melhor deixava esta actividade, porque é cansativo e não tem ordenado certo, dizendo que acha esta renda divulgada sendo típica de Nisa, porque os alinhavados sempre foram acompanhados de bilros. Enquanto que a renda do Norte é mole, não estando os bilros bem apertados, a de Nisa é precisamente o contrário, bilros bem apertados e renda dura.
Esta artesã explicou-nos então como se faz a renda de bilros. Prega-se o desenho no rebolo, começando por colocar os bilros ao longo do desenho com os alfinetes. O desenho não pode ser um qualquer, já que na realização deste não se podem juntar mais de quatro birlos. As linhas são enroladas aos birlos, mas tem que se ter cuidado para não partir nenhuma linha, senão vêem-se os nós. A marca da linha que utiliza é “Coração” nº 20, mas podem utilizar-se outras. Pode então iniciar-se o trabalho. Mas todo o artesanato tem a sua técnica, na renda de bilros não se podem juntar na execução da peça mais e quatro bilros, por vezes chegam a juntar-se oito, já que o desenho o obriga, mas aí já a artesã sabe o que fazer. Depois da peça acabada faz-se o seu remate. Cortam-se as linhas do bilros e está a peça feita. Trabalha mais no Verão, seis a oito horas. Assim como vende mais nesta estação.
A renda de bilros tem uma série de utilidades, servindo para aplicar à volta dos panos e cabeceiras de lençóis. Dela fazem-se toalhas de mesa e naperons. É raro esta renda vir em revistas, mas isso não impede que ainda haja algumas encomendas.
Disse-nos que duas semanas é o tempo suficiente para aprender, demorando depois um tempinho mais para atingir a perfeição. Quem faz esta renda nos dias de hoje são as pessoas mais idosas.
Já participou em muitas exposições, para isso teve que começar a trabalhar muito tempo antes, porque parafazer esta renda demora-se muito tempo. De todo o país e estrangeiro, pessoas já apreciaram e compraram.
Esta renda faz-se ao metro, às tirinhas. Um pano pequeno demora cerca de uma semana. Para fazer uma tira para uma toalha são precisos dois meses, mas para uma toalha, normalmente, são necessárias dez tiras, portanto faz-se num ano e oito meses. Mais de um ano e meio a trabalhar esta renda miudinha. Sete contos o metro é o preço mais caro, sendo o mais barato de mil e quinhentos escudos.
Interesse, sim, tem esta renda, que apesar do tempo ocupado, vale a pena!
* Patrícia PortoFev. 1997