Nisa e o seu artesanato no olhar de uma
jovem *
Outro tipo de artesanato que alguns
artesãos dizem ser o mais divulgado, são os alinhavados.
No Grupo de Alinhavados de Nisa, onde
estão 12 pessoas, a mestra Antónia Polido, de 58 anos, trabalha
desde os 10 anos nos alinhavados, portanto há 48 anos. A responsável
pelas mãos trabalhosas desta artesã foi a sua mãe, que hoje se
pode orgulhar.
Afirma gostar do trabalho e de estar
com o grupo, embora a sua vista fique cansada ao executar os
alinhavados.
Pega-se no linho e risca-se o desenho
do avesso do linho. Alinhava-se com linhas de alinhavar do avesso.
Volta-se o linho para o lado direito, fazendo-se o contorno das
flores, a que se dá o nome de caseado. Volta-se novamente do avesso,
parase desfiar, para puxar os fios. De seguida , volta-se do lado
direito para fazer o crivo simples nos “olhos” das flores. Crivo
é como uma renda formada por buraquinhos de vários feitios. Para
além deste crivo, existemuitos outros tais como: crivo aberto e
fechado com duas pernas; aberto e fechados simples, carreiras, quatro
abertos e quatro fechados, crivo da cadeirinha, tem este nome porque
o feitio é igual ao assento de bunho (material de que é feito o
assento das cadeiras.Depois é só passar o trabalho a ferro e está
pronto.
Afirma que os alinhavados tornam-se
mais vivos acompanhados pela renda de bilros, para além disso há um
cuidado a ter, mãos e e roupa sempre limpa.
Antónia Polido diz que as peças
grandes são as mais difíceis de fazer, como toalhas de mesa e
lençóis. O preço mais baixo verifica-se numa base para copos, mil
e quinhentos escudos, o mais alto é uma toalha que atinge os três
mil escudos.
Uma das missões principais desta
mestra é ensinar, porque acha que é pena este artesanato acabar, é
um trabalho histórico desta vila, desde sempre se fez em Nisa, sendo
as peças típicas. Apesar de criar modelos novos, acha que os mais
bonitos são sempre os antigos.
Trabalha desde as 9 da manhã à 1 da
manhã, as encomendas são muitas, algumas pedidas por fax, não
vendem mais porque é difícil este artesanato, chega a dizer:
“trabalho feito, trabalho vendido.”
Para além de achar que é um trabalho
bem divulgado, diz que devia haver mais pessoas a fazer, e se não
arranjarem uma escola, os alinhavados vão desparecer, e é de ter
pena.
Os seus planos são: continuar a fazer
trabalhos enquanto puder.
Os caramelos são outro tipo de
artesanato, digamos que são semelhantes aos alinhavados e mais
antigos que estes. A diferença reside apenas num pormenor. Enquanto
que nos alinhavados faz-se o
contorno das flores e depois os
alinhavados, nos outros primeiro são feitas as flores e depois os
alinhavados. Dos caramelos são feitas peças tais como: panos e
quadros.
Este artesanato é extremamente
trabalhoso, sendo classificado pela frase: “ Oh Jesu! Que
enfadamento! E que raiva e que tormento! Que cegueira e que
canseira”.
As rendas também têm o seu poder de
encanto, como é o caso da renda de bilros. É uma renda que desperta
os olhos dos que vêem, principalmente pelos bilros, sendo estes os
instrumentos que fazem a renda e que eram feitos pelos pastores, hoje
talvez já não se façam. Para além destes, o material necessário
é o desenho, as linhas, alfinetes, o rebolo (espécie de almofada
bem cheia de palha onde se faz a renda, também onde se fixam os
bilros) e o cavalete, onde se fixa o rebolo.
Olinda Marques trabalha esta renda
desde os 14 anos e aprendeu com a sua mãe. Hoje com 43 anos diz que
se apanhar uma ocupação melhor deixava esta actividade, porque é
cansativo e não tem ordenado certo, dizendo que acha esta renda
divulgada sendo típica de Nisa, porque os alinhavados sempre foram
acompanhados de bilros. Enquanto que a renda do Norte é mole, não
estando os bilros bem apertados, a de Nisa é precisamente o
contrário, bilros bem apertados e renda dura.
Esta artesã explicou-nos então como
se faz a renda de bilros. Prega-se o desenho no rebolo, começando
por colocar os bilros ao longo do desenho com os alfinetes. O desenho
não pode ser um qualquer, já que na realização deste não se
podem juntar mais de quatro birlos. As linhas são enroladas aos
birlos, mas tem que se ter cuidado para não partir nenhuma linha,
senão vêem-se os nós. A marca da linha que utiliza é “Coração”
nº 20, mas podem utilizar-se outras. Pode então iniciar-se o
trabalho. Mas todo o artesanato tem a sua técnica, na renda de
bilros não se podem juntar na execução da peça mais e quatro
bilros, por vezes chegam a juntar-se oito, já que o desenho o
obriga, mas aí já a artesã sabe o que fazer. Depois da peça
acabada faz-se o seu remate. Cortam-se as linhas do bilros e está a
peça feita. Trabalha mais no Verão, seis a oito horas. Assim como
vende mais nesta estação.
A renda de bilros tem uma série de
utilidades, servindo para aplicar à volta dos panos e cabeceiras de
lençóis. Dela fazem-se toalhas de mesa e naperons. É raro esta
renda vir em revistas, mas isso não impede que ainda haja algumas
encomendas.
Disse-nos que duas semanas é o tempo
suficiente para aprender, demorando depois um tempinho mais para
atingir a perfeição. Quem faz esta renda nos dias de hoje são as
pessoas mais idosas.
Esta renda faz-se ao metro, às
tirinhas. Um pano pequeno demora cerca de uma semana. Para fazer uma
tira para uma toalha são precisos dois meses, mas para uma toalha,
normalmente, são necessárias dez tiras, portanto faz-se num ano e
oito meses. Mais de um ano e meio a trabalhar esta renda miudinha.
Sete contos o metro é o preço mais caro, sendo o mais barato de mil
e quinhentos escudos.
Interesse, sim, tem esta renda, que
apesar do tempo ocupado, vale a pena!
* Patrícia Porto – Fev. 1997