10.3.24

NISA, Branca Alentejana (I)

Nisa e o seu concelho no olhar de uma jovem de 18 anos *
Quando falamos em Nisa, raramente nos lembramos daquela que existiu a quatro quilómetros da actual, estou a falar de Nisa-a-Velha. Como tudo na vida tem a sua origem, Nisa também teve há muitas centenas de anos, sendo considerada a vila mais antiga do distrito de Portalegre.
Já lá vão mais de setecentos anos de muita história e de muitas mãos mágicas das quais saiu um “feitiço” que dura até hoje.
Nisa-a-Velha situava-se na Nossa Senhora da Graça (Padroeira de Nisa), um monte com duzentos e setenta e cinco metros de altitude. A presença dos romanos nesta zona não alimenta quaisquer dúvidas, vivendo vários núcleos destes não muito longe da actual Nisa. Outras provas que justificam este acontecimento, são os inúmeros objectos encontrados. No cimo do monte de Nª Srª da Graça situava-se o castelo.
D. Afonso, irmão de D. Dinis, realizava obras para fortificar Castelo de Vide. O Rei não autoriza, mas D. Afonso continua em frente com as obras já iniciadas. Este, prevendo perigo para o seu lado, abriga-se em Portalegre, pedindo homens e mantimentos às populações vizinhas. A população de Nisa-a-Velha, fiel ao Rei, não aceita as suas preces. D. Afonso, revoltado, invade esta população com o seu exército, queimando as habitações, mas para que não ficassem de pé as paredes em pedra, manda destruí-las.
A população chora lágrimas de desgosto e saudade, isto no ano de 1280 da era de César, portanto, no ano de 1242 da nossa era. D. Dinis observa as terras férteis que se situavam junto do antigo castelo de Ferron, é então que tem a ideia de construir novas habitações para a população, já que esta ficou sem os seus bens para não desrespeitar o Rei.
É precisamente aqui que chegamos ao final de Nisa-a-Velha e ao início de Nisa-a-Nova, construindo-se novas habitações e transformando os campos onde toda a erva tinha licença para nascer em campos altamente cultivados.
Mas porquê o nome de “Nisa”? Ainda não existe uma explicação concreta, diz-se que “Nisa” era o nome de uma grega, o que se sabe é que é um nome pequeno mas de riquezas tamanhas.
Nasceu a Nisa que é hoje: Situada no extremo setentrional do Alto Alentejo, altitude de 304 metros.
A paisagem típica de Nisa assim como de todo o Alentejo é assinalada por montados de sobre e azinho, algumas matas de eucaliptos, pinheiros, oliveiras que se estendem ao longo dos campos, terras semeadas, bacêlos de subsistência. Sol que queima, saudade de muitos emigrantes.
Escutem! Já soa o trotear ao longe e os chocalhos do rebanho que se aproxima! É este o Alentejo que nos seduz e nos ensina a ter gosto pelas maravilhas campestres.
Terra de uma linguagem popular, sendo a sua pronúncia confundida com a açoriana, terra de tradições. Tradição, palavra remota que apesar do passar dos tempos não se esquece. Vila de trajes marcantes, jóias afamadas, devoção, folclore, o reviver dos tempos.
Dizem os “velhos”: Antes é que era bom...”, tempos que já não voltam, mas esta vila de hoje tem muito para oferecer.
Nisa “lá fora” é conhecida principalmente por um motivo, motivo esse que passa montes, vales, fronteiras, estradas... Artesanato! É este o motivo mais forte que me leva a ter a caneta na mão, escrever neste papel e a ter um certo orgulho. Nisa, tens riqueza! Houve em tempos quem cantasse:
… Nisa terra Natal
Aguarela do Alto Alentejo
Nisa terra airosa
Princesa dos encantos
Mostra aos viajantes
Como és tão formosa.


* Patrícia PortoFev. 1997