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1.4.25

NISA: Patrícia Porto na “Semana da Leitura” da Biblioteca Escolar


Convidámos a nisense Patricia Porto para nos falar do seu fascínio pelas palavras escritas e ditas.

📣O livro "Artesanato de Nisa" é a sua aventura mais recente e foi apresentado no passado dia 8 de março.

🌷Estará com a turma do 10ºA/B na manhã do próximo dia 4, sexta feira e  integrará o júri do Concurso Interconcelhio de Leitura 'Ser Leitor é Cool!', neste mesmo dia!

Obrigada, Patricia Porto❗️ 🫶

13.3.25

NISA: Apresentação do livro "Artesanato de Nisa - O Legado de um Povo", de Patrícia Porto

No passado 8 de março, o Dia Internacional da Mulher foi palco para o lançamento do meu livro "Artesanato de Nisa, o legado de um povo". Dia propício para o lançamento, não fosse o dia escolhido a dedo, uma vez que maioritariamente o artesanato nisense é realizado por mulheres.

Foi na Sede da União de Freguesias do Espírito Santo, Nossa Senhora da Graça e S. Simão que pelas 15h30 a sala começou a encher.

Este meu trabalho tem muitos anos de vida, mas só agora deu os seus primeiros passos. A convite e sugestão do Sr. Mário Mendes, aceitei transformar este trabalho em livro. Da sua ideia à conceção foi num ápice que tudo aconteceu. Em menos de 1 mês estava já na editora, preparava-se o seu lançamento sem sequer ter tempo para digerir que aquelas folhas escritas à mão em 1997 iam ter vida e cor.

Já com a sala cheia, as cadeiras começaram a faltar e as portas abriram-se para que quem não conseguiu lugar pudesse assistir no corredor...


O Sr. João Malpique, Presidente da União de Freguesias fez o seu discurso. Enalteceu o artesanato de Nisa e o trabalho que têm feito em prol da cultura e da sua divulgação. Financiou este livro pois para esta União de Freguesias o artesanato não pode morrer, devemos sim dar-lhe cada vez mais vida.

Seguiu-se o Sr. Mário Mendes, que além de ser o impulsionador do nascimento deste livro, fez uma viagem pelo artesanato e costumes da nossa vila de Nisa que para muitos foi novidade, vidas passadas que deram origem à vila que é hoje.

De seguida fiquei eu com a palavra! Sem ser escritora ou historiadora, fiz questão que soubessem que este trabalho é uma homenagem ao nosso artesanato e aos artesãos que são responsáveis por tais maravilhas. Artesãos que ainda continuam a trabalhar as artes com toda a paixão, artesãos, alguns que já nos deixaram e levaram consigo as suas artes, artesãos que temem o fim uma vez que não há seguidores para fazer perdurar estas obras de arte. Ficou o desejo de se criarem soluções para que se possa ensinar a fazer o nosso artesanato a quem queira aprender ou, estimular a que o queiram fazer para a tradição não se perder.


O Sr. João Ribeirinho Leal, meu amigo, fez questão de deixar umas palavras e, com o seu discurso genuíno e memória como ninguém, criou na sala um verdadeiro cenário de histórias nisenses onde o público mergulhou com enorme saudosismo e satisfação.

Terminadas as palavras, o meu amigo Nuno Cebola, meu artilheiro, uma vez que nasceu no mesmo ano que eu, com o seu acordeão encheu a sala de música e de mais tradição, enquanto eu numa mesa assinava os livros que iam sendo comprados. A fila que aguardava era considerável e a minha alegria era muito maior. Ver a adesão da população foi incrível o que mostra que o artesanato de Nisa é Rei, mas não podemos deixá-lo sair do trono.

Deixei a minha contribuição para o meu concelho, cada linha foi escrita com amor e que a sua leitura seja feita do mesmo modo.

De resto só me resta terminar com uma única palavra, Gratidão!


Patrícia Porto

Março/2025


27.2.25

NISA: Lançamento do livro de Patrícia Porto sobre o Artesanato de Nisa

 

Este livro é um relato sobre “A Alma dos Artesãos de Nisa: Um Tributo à Tradição e à Cultura”.

Entre as colinas e planícies da bela Vila de Nisa, reside uma riqueza que vai além do que os olhos podem ver. É uma riqueza tecida pelos habilidosos dedos dos seus artesãos, aqueles que ao longo dos tempos moldaram não apenas objetos, mas também a própria identidade cultural desta terra encantadora. Este livro é um tributo a todos os artesãos do concelho de Nisa, incluindo os que já partiram, pois cada um deles deixou uma marca indelével na cultura regional, concelhia e local.

Este livro é uma homenagem a cada artesão que, com o seu talento e esforço, contribuiu para a rica tapeçaria cultural de Nisa. É uma celebração às suas vidas, às suas histórias e às suas obras.

Que possamos todos reconhecer e valorizar o legado que nos deixaram, porque vamos continuar a apoiar e a incentivar os novos artesãos que mantêm viva esta magnífica tradição.

Livro foi editado com o apoio da União de Freguesias do Espírito Santo, Nossa Senhora da Graça e São Simão – NISA


9.4.24

NISA, Branca Alentejana (VII)

Nisa e o seu artesanato no olhar de uma jovem *
Passamos dos tecidos para a cortiça. Quem olha para os sobreiros não imagina que se podem fazer da cortiça inúmeros objectos com algumas utilidades, mas é bem verdade!
Com 57 anos, António Policarpo é comprador e tomador de cortiça desde novo, mas faz objectos desde que a Feira de Artesanato teve início em Nisa.
Aprendeu sozinho, mas para criar uma peça a cortiça tem que ter uma certa preparação, então o senhor António deu-nos a explicação, com orgulho no seu trabalho, sendo, actualmente, a única pessoa que faz este trabalho em Nisa.
Para fazer um canado (1), recipiente onde os lavradores levavam a comida - mais propriamente, o almoço – para o campo, primeiramente tira-se a cortiça do sobreiro, desde a terra até ao limite. Esta operação é efectuada com a ajuda de uma tranca (de pau) de dois metros para auxiliar o companheiro e com uma machada.
Depois de retirada fica a secar, indo em seguida a cozer. Depois com uns pesos endireita-se a cortiça. Sendo esta de primeira, quando estiver direita tira-se-lhe a côdea (casca preta) com umas facas, as quais já lhe têm chegado ao peito. Após lhe ter titrado a côdea, torna-se a meter a cortiça em água morna e enrola-se para tomar a forma do canado. Prega-se o fundo com pregos de madeira feitos pelo senhor António e depois colam-se os enfeites. Seguidamente, para lhe colocar a asa que normalmente é de madeira de salgueiro, marca o meio com duas sovelas. Depois de verificado o meio, coloca-se a asa, lixando-a para ficar lisa.
Outra das peças bastante conhecidas em Nisa são os couchos (2), os quais servem para colocar a comida já pronta, mas normalmente são conhecidos para servir as sopas de peixe.
A maneira de se fazer um coucho é de facto interessante. Depois da cortiça passar pelas fases já descritas anteriormente, marca-se a largura da cortiça em terra bem dura. Cava-se a terra pela zona marcada e leva-se a cortiça ao lume, indo logo para o buraco escavado. Faz-se pressão afundando a cortiça e tapa-se com terra. Depois de tapada bate-se com um maço (instrumento utilizado pelos calceteiros para bater a calçada) e fica assim uns dias, sendo fundamental regar a terra e ir sempre batendo com o maço. Passados uns dias está o coucho feito, mas nem sempre, pois como nos diz o senhor António, custa-lhe muito quando ao enrolar a cortiça para fazer um canado e ao tirar a cortiça debaixo da terra, a cortiça se parte, dizendo que um cuidado a ter é a cortar e a dobrar a cortiça, acrescenta também que as peças pequenas são as mais chatas de fazer.
Os objectos fundamentais para trabalhar a cortiça são facas, objectos corticeiros e lixas para lixar as peças.
Para retirar a cortiça, depende dos anos, mas a partir de Maio e Junho é o mais habitual. Dois meses é o tempo necessário para tirar a cortiça, mas só de nove em nove anos, em menos tempo é proibido, já que a cortiça ainda não está feita.
Anteriormente foi falado na cortiça de primeira, mas da primeira à quinta são boas para fabricação. Existem outros tipos de cortiça, como a cortiça virgem – primeira vez que é tirada -, a acortiça secundeira, que como o próprio nome indica, é a segunda vez de nove em nove anos, que é retirada e finalmente a cortiça amadia, quando já foi refinada e tem a qualidade exigida para a produção de rolhas.
Bom, mas que objectos tem o senhor António para vender? Objectos vários que como distracção, trabalho e diversidade são criados: couchos, canados, chapéus, tropeças (bancos usados antigamente), bancos normais, colmeias, moinhas, canados para pôr o gelo juntamente com a garrafa, miniaturas,, machadinhos e cabaças (para conterem água).
Quanto a exposições já foi a muitas, nomeadamente, Fundão, Marvão, FIL (Lisboa), Santarém, França e algumas mais de que não se lembra.
É nos tempos livres que imagina e cria estes objectos, por vezes esquecendo-se do almoço. Os preços vão desde os quinhentos escudos, como é o caso de canados em miniatura, a dez contos como canados grandes e couchos. Afirma que os compradores além dos estrangeiros, em Portugal são mais da zona norte.
Trabalhos já vistos na televisão, foram os que mostram D. António e sua esposa, e afirma que na vila de Nisa estes objectos vendem-se mal, então é caso para dizer que “santos da casa não fazem milagres!”
NOTAS
(1) - Noutras zonas do Alentejo designa-se por tarro e segundo a Infopédia este é "recipiente onde se recolhe o leite que se vai ordenhando" ou uma "espécie de tacho de cortiça, com tampa, onde os pastores do Alentejo levam os alimentos".
(2) - O coucho descrito neste texto é o de maior tamanho e com finalidade diferente do outro, mais pequeno e que é próprio para beber água pelos trabalhadores no campo alentejano, no sul de Portugal.
* Patrícia PortoFev. 1997

26.3.24

NISA, Branca e Alentejana (VI)

 
Nisa e o seu artesanato no olhar de uma jovem *
Maria de Lourdes Paralta acha que estes trabalhos também mereciam umas quadras e solta a sua veia poética (1).
“ Ó raparigas de Nisa-a-Nova
As vossas mãos valem ouro
Quem com vocês casar
Leva consigo um tesouro

Vocês fazem obras primas
Lindos cobertores bordados
Bonitas rendas de bilros
E os célebres alinhavados

O Centro de Artesanato Regional de Nisa trabalha para que a perfeição da arte aplicada à máquina se mantenha, e é com perfeição que nascem os inúmeros trabalhos em feltros tão bem divulgados.
Ana Maria de 36 anos trabalha desde os 14 anos nesta actividade, desde que saiu da escola. Portanto, há 22 anos que as suas mãos conhecem todos os pontos e as voltas que a tesoura dá.
Neste Centro podem ser adquiridas bases para copos, colchas, pegas, saias de camilha, cobertores, miudezas, marcadores para livros, jogos de coctail, almofadas para fixar as agulhas, as famosas saias vermelhas com o rameado preto (já referidas anteriormente) e é com esta peça de vestuário, juntamente com o xaile branco bordado que se forma o traje mais conhecido de Nisa, custando a saia dezassete contos e quinhentos. Para além desta saia, existem outras peças de vestuário normais como capas, saia e casaco.
A D. Ana Maria explicou-nos então o processo de realização de uma peça de feltro. Sobrepõem-se duas partes de tecido (feltro), alinhava-se o papel vegetal que contém o desenho, em cima dos tecidos, vai à máquina e coze-se por cima do desenho. Depois tiram-se os alinhavados assim como o papel vegetal e os restos deste, pois com a máquina de costura ao cozer, não saem. Recorta-se o tecido à volta da parte da máquina, tendo cuidado em não o cortar, caso contrário o trabalho fica danificado. É desta forma que temos uma peça feita. Pode ser feita uma pega em quinze minutos, enquanto que um cobertor ocupa dois ou três dias.
Neste centro todas as pessoas trabalham numa peça, tendo cada pessoa a sua função. Os preços variam e vão desde uma base para copos de centoe quarenta escudos a uma capa de trinta e cinco contos. Quanto às vendas, é conforme a estação doa no. No Verão vendem-se mais “miudezas"; no Inverno mais vestuário e camilhas.
Este artesanato também esteve patente em muitas exposições, entre elas, as do Casino Estoril e um pouco por todo o país, enviando mesmo peças para o estrangeiro.
Na revista “Casa Viva” e na televisão estes trabalhos já tiveram o seu “direito de antena”.
Nove horas diárias são ocupadas com os trabalhos em feltro, que se desaparecerem será triste, pois já são uma tradição muito antiga, mas mesmo assim a D. Ana Maria não aconselha esta actividade às filhas, o que quer realmente para elas é o estudo.
Vários prémios já foram alcançados por este Centro e se os receberam é porque os mereciam!
* Patrícia PortoFev. 1997
NOTA
(1)Paralta, Maria de LourdesMemorial em verso da notável Vila de Nisa, sua história, gentes, usos e costumes – Edição da autora, com o apoio da Câmara Municipal de Nisa e da Assembleia Distrital de Portalegre - 1982

22.3.24

NISA, Branca e Alentejana (V)

Nisa e o seu artesanato no olhar de uma jovem *
Lenços e sacos de guardanapos são confeccionados com o bordado de lagarteira. A linha é de seda, podendo ser outra. O desenho escolhido para bordar foram as letras do alfabeto. Para bordar estes lenços de mil escudos e os sacos de guardanapos de dois mil escudos, o bastidor é imprescindível. Bastidor é uma roda de madeira que estica o pano e é assim que está pronto para se bordar. A contornar estas peças é utilizada uma renda industrial, que se fosse feita, o trabalho era a dobrar.
Os famosos xailes bordados, com a sua beleza são uma das peças do traje de Nisa. São pretos e brancos. Estes só se vêm no Carnaval com a respectiva saia de feltro vermelha, com um rameado preto em toda a volta da saia, também em feltro. Os xailes pretos já são usados em qualquer altura, mas mais à noite.
Para bordá-los é necessário o tecido em forma de quadrado, que cortado ao meio (ficando em forma de triângulo) dá para dois xailes, linhas de bordar de uma a mais cores, agulha, tesoura, dedal, papel vegetal e papel químico.
Começa por riscar-se o desenho para o pano, através do papel vegetal para o químico e deste para o pano. Depois preenche-se o desenho através do ponto de cadeia. Quando o bordado estiver finalizado, faz-se o remate do xaile em lã com uma agulha de croché. Seguidamente fazem-se as lérias, sendo estas um croché, um cordão em linha. No meio das lérias (do cordão) fazem-se as franjas de rabinho de gato, têm este nome porque formam um certo relevo e são fofinhas tal como um rabinho de gato. Para se fazerem estas franjas, colocam-se quatro linhas de lã (que têm pouco mais de um centímetro) no meio de um léria, continuando a fazer o mesmo na léria e nas outras.
Os xailes pretos fazem-se precisamente da mesma forma, só que as franjas são de compra, vindas de Lisboa.
Para fazer esta arte, a D. Antónia Polido diz-nos que se aprende em mês e meio ou dois meses, sendo precisamente dois meses o tempo necessário para executar um xaile bordado.
Vendem-se bem, principalmente para o Carnaval, as encomendas são muitas, mas as mãos limpas como nos alinhavados é um cuidado a ter tal como noutro bordado.
O preço de um xaile branco ou preto são 35 contos, dependendo por vezes dos ramos, mas este preço é o mais habitual.
Toda a vida a D. Antónia se lembra de se usarem estes xailes na vila de Nisa. Multicolores ou de uma cor só, estes xailes típicos desta vila chamam a atenção, só é pena não ser sempre Carnaval.
E já que estamos a falar de bordados, porque não falar dos lindos cobertores bordados que também fazem história?
Apesar de terem uma boa venda, assim como as encomendas, ocupam muitas horas e escusado será dizer que é um trabalho cansativo. Em dois meses pode aprender-se a bordar um cobertor, mas a D. Antónia diz que “em menos de um ano não se consegue fazer um”.
Estou a falar de cobertores que custam precisamente quinhentos contos, recebendo o grupo de alinhavados um prémio por um cobertor preto. A entrega do prémio foi em Lisboa no Centro de Emprego.
Para começar a bordar um cobertor são necessários dois metros e meio de feltro. De seguida elabora-se o desenho precisamente como nos xailes bordados, depois é pôr mãos à obra utilizando linhas de bordar. Não têm franja mas sim um picôt, sendo este um remate em croché a recortes em caseado.
Estes cobertores, assim como os xailes, sempre se fizeram em Nisa. A cama da noiva era de alinhavados, o cobertor era bordado e posto ao fundo da cama em forma de leque, como se pode observar nas exposições. Muitas pessoas em Nisa sabem bordar cobertores e xailes, mas como diz a frase: A tradição já não é o que era”.
Segue-se a arte aplicada à mão. Este trabalho não é designado por arte aplicada, mas sim por trabalhos em feltro, já que o material principal é o feltro, seguindo-se então as linhas para bordar.
Unem-se duas partes de feltro, alinhava-se o desenho (que está no papel vegetal) por cima e aplica-se à mão. As cores do feltro são várias de acordo com o desenho. É com cores que se criam cobertores, saias de camilha, jogos de cozinha, jogos de quartos e pegas. Em três meses cria-se um cobertor com seis pessoas a trabalhar nele, enquanto que uma pega faz-se em dois, três dias trabalhando nela apenas uma pessoa.
Antigamente este tipo de trabalho fazia-se à mão, mas como surgiram as máquinas tudo mudou, embora neste grupo a arte aplicada seja à mão.
Relativamente aos preços mais altos, um cobertor fazendo-se mais depressa que um bordado, custa 300 contos, o mais baixo é de mil escudos, como é o caso de uma pega ou de uma base para copos. É cansativo, mas o trabalho tem que estar “limpinho e perfeito”.
Os trabalhos tais como alinhavados, caramelos, renda de bilros, lenços, saquinhos de guardanapos, xailes e cobertores bordados e arte aplicada à mão, tivemos oportunidade de verificá-los no Grupo de Alinhavados de Nisa. São trabalhos que já estiveram expostos em hotéis, feiras de artesanato, como em Nisa, na FIL (Lisboa) Norte, Algarve e Espanha. “Não têm conto!”, diz-nos a D. Antónia Polido. Trabalhos conhecidos por jornais e televisões que dispensam qualquer tipo de apresentação. Acham que os trabalhos estão bem divulgados, dizem as artesãs. Têm compradores de todo o país e estrangeiro, nomeadamente, espanhóis, franceses, americanos, alemães e italianos.
Quanto à Câmara, o que têm a dizer é que ajuda a divulgar estes trabalhos, mas quanto aos jovens, o caso já se torna diferente. A esta actividades os jovens não aderem, aderem sim quando há subsídios e acções de formação, porque há dinheiro, caso contrário não há interesse. Mas há sempre alguém que aprecia. Quando há excursões, há rapazes que apreciam mais do que as raparigas, mas isso é conforme o gosto da pessoa.
D. Antónia disse-nos que uma jovem de Lisboa vinha todos os verões para este grupo, e foi nele que fez todo o seu enxoval, por isso podemos dizer que "há juventude e juventude."

* Patrícia PortoFev. 1997


18.3.24

NISA, Branca Alentejana (IV)

 
Nisa e o seu artesanato no olhar de uma jovem *
Outro tipo de artesanato que alguns artesãos dizem ser o mais divulgado, são os alinhavados.
No Grupo de Alinhavados de Nisa, onde estão 12 pessoas, a mestra Antónia Polido, de 58 anos, trabalha desde os 10 anos nos alinhavados, portanto há 48 anos. A responsável pelas mãos trabalhosas desta artesã foi a sua mãe, que hoje se pode orgulhar.
Afirma gostar do trabalho e de estar com o grupo, embora a sua vista fique cansada ao executar os alinhavados.
Para dar início a este trabalho são necessárias linhas, linho, agulha, dedal, tesoura, papel vegetal, papel químico e uma almofada para apoiar o trabalho enquanto é executado. A máquina de costura é utilizada somente para a confecção de blusas, o resto pode ser tudo à mão.
Pega-se no linho e risca-se o desenho do avesso do linho. Alinhava-se com linhas de alinhavar do avesso. Volta-se o linho para o lado direito, fazendo-se o contorno das flores, a que se dá o nome de caseado. Volta-se novamente do avesso, parase desfiar, para puxar os fios. De seguida , volta-se do lado direito para fazer o crivo simples nos “olhos” das flores. Crivo é como uma renda formada por buraquinhos de vários feitios. Para além deste crivo, existemuitos outros tais como: crivo aberto e fechado com duas pernas; aberto e fechados simples, carreiras, quatro abertos e quatro fechados, crivo da cadeirinha, tem este nome porque o feitio é igual ao assento de bunho (material de que é feito o assento das cadeiras.Depois é só passar o trabalho a ferro e está pronto.
Afirma que os alinhavados tornam-se mais vivos acompanhados pela renda de bilros, para além disso há um cuidado a ter, mãos e e roupa sempre limpa.
É desta forma que nascem as toalhas de mesa, demorando algumas dois anos a fazer, jogos de cama, centros de mesa, jogos de quarto, cestas do pão, sendo precisos 15 dias para a sua execução, bases para copos e peças de roupa como as blusas, sendo estas muito fabricadas.
Antónia Polido diz que as peças grandes são as mais difíceis de fazer, como toalhas de mesa e lençóis. O preço mais baixo verifica-se numa base para copos, mil e quinhentos escudos, o mais alto é uma toalha que atinge os três mil escudos.
Uma das missões principais desta mestra é ensinar, porque acha que é pena este artesanato acabar, é um trabalho histórico desta vila, desde sempre se fez em Nisa, sendo as peças típicas. Apesar de criar modelos novos, acha que os mais bonitos são sempre os antigos.
Trabalha desde as 9 da manhã à 1 da manhã, as encomendas são muitas, algumas pedidas por fax, não vendem mais porque é difícil este artesanato, chega a dizer: “trabalho feito, trabalho vendido.”
Para além de achar que é um trabalho bem divulgado, diz que devia haver mais pessoas a fazer, e se não arranjarem uma escola, os alinhavados vão desparecer, e é de ter pena.
Os seus planos são: continuar a fazer trabalhos enquanto puder.
Os caramelos são outro tipo de artesanato, digamos que são semelhantes aos alinhavados e mais antigos que estes. A diferença reside apenas num pormenor. Enquanto que nos alinhavados faz-se o
contorno das flores e depois os alinhavados, nos outros primeiro são feitas as flores e depois os alinhavados. Dos caramelos são feitas peças tais como: panos e quadros.
Este artesanato é extremamente trabalhoso, sendo classificado pela frase: “ Oh Jesu! Que enfadamento! E que raiva e que tormento! Que cegueira e que canseira”.
As rendas também têm o seu poder de encanto, como é o caso da renda de bilros. É uma renda que desperta os olhos dos que vêem, principalmente pelos bilros, sendo estes os instrumentos que fazem a renda e que eram feitos pelos pastores, hoje talvez já não se façam. Para além destes, o material necessário é o desenho, as linhas, alfinetes, o rebolo (espécie de almofada bem cheia de palha onde se faz a renda, também onde se fixam os bilros) e o cavalete, onde se fixa o rebolo.
Olinda Marques trabalha esta renda desde os 14 anos e aprendeu com a sua mãe. Hoje com 43 anos diz que se apanhar uma ocupação melhor deixava esta actividade, porque é cansativo e não tem ordenado certo, dizendo que acha esta renda divulgada sendo típica de Nisa, porque os alinhavados sempre foram acompanhados de bilros. Enquanto que a renda do Norte é mole, não estando os bilros bem apertados, a de Nisa é precisamente o contrário, bilros bem apertados e renda dura.
Esta artesã explicou-nos então como se faz a renda de bilros. Prega-se o desenho no rebolo, começando por colocar os bilros ao longo do desenho com os alfinetes. O desenho não pode ser um qualquer, já que na realização deste não se podem juntar mais de quatro birlos. As linhas são enroladas aos birlos, mas tem que se ter cuidado para não partir nenhuma linha, senão vêem-se os nós. A marca da linha que utiliza é “Coração” nº 20, mas podem utilizar-se outras. Pode então iniciar-se o trabalho. Mas todo o artesanato tem a sua técnica, na renda de bilros não se podem juntar na execução da peça mais e quatro bilros, por vezes chegam a juntar-se oito, já que o desenho o obriga, mas aí já a artesã sabe o que fazer. Depois da peça acabada faz-se o seu remate. Cortam-se as linhas do bilros e está a peça feita. Trabalha mais no Verão, seis a oito horas. Assim como vende mais nesta estação.
A renda de bilros tem uma série de utilidades, servindo para aplicar à volta dos panos e cabeceiras de lençóis. Dela fazem-se toalhas de mesa e naperons. É raro esta renda vir em revistas, mas isso não impede que ainda haja algumas encomendas.
Disse-nos que duas semanas é o tempo suficiente para aprender, demorando depois um tempinho mais para atingir a perfeição. Quem faz esta renda nos dias de hoje são as pessoas mais idosas.
Já participou em muitas exposições, para isso teve que começar a trabalhar muito tempo antes, porque parafazer esta renda demora-se muito tempo. De todo o país e estrangeiro, pessoas já apreciaram e compraram.
Esta renda faz-se ao metro, às tirinhas. Um pano pequeno demora cerca de uma semana. Para fazer uma tira para uma toalha são precisos dois meses, mas para uma toalha, normalmente, são necessárias dez tiras, portanto faz-se num ano e oito meses. Mais de um ano e meio a trabalhar esta renda miudinha. Sete contos o metro é o preço mais caro, sendo o mais barato de mil e quinhentos escudos.
Interesse, sim, tem esta renda, que apesar do tempo ocupado, vale a pena!
* Patrícia PortoFev. 1997

15.3.24

NISA, Branca Alentejana (III)

Nisa e o seu artesanato no olhar de uma jovem *
Passamos dos trapos para as já conhecidas frioleiras. Catarina Porto, doméstica, 40 anos, dedicou-se a esta arte aos 16 anos por curiosidade.
As frioleiras são conhecidas pelos naperons. Mas esta artesã acha que a arte não tem fronteiras, como tal, partiu em busca de novos encantos. Foi com uma experiência que surgiram os quadros em frioleiras, já lá vão cerca de oito anos. A partir daí foi dar largas à imaginação, surgindo outras modalidades como: golas para blusas, argolas para colocar guardanapos, fitas de finalista, almofadas de cheiro, saquinhos para os lenços de papel e bases para copos.
O material necessário para proceder à execução deste artesanato é uma agulha, que tem o nome de navete, linhas, tesoura, pano e cola, já que os trabalhos são colados.
Para passar à prática, enche-se a navete com linha, podendo esta ser de qualquer qualidade embora a D. Catarina faça com uma seu gosto. A linha dá a volta aos dedos da mão esquerda, trabalhando a mão direita com a navete. Esta vai à mão esquerda inúmeras vezes formando um caseado, e deste resulta a peça que se desejar. Da parte teórica à prática existe uma certa diferença, ouvindo-se o barulhinho da linha a soltar-se da navete, resultando desta observação mais confusão do que compreensão, devido à rapidez que acumula muitos anos de prática.
Depois de se terem as peças necessárias, procede-se à colagem no pano, estando neste gravado a química as linhas direitas do desenho.
É com uma tesoura muita pequena e com bicos muito afiados que a colagem é efectuada.
Há trabalhos que se pode executar numa hora, havendo outros que demoram um mês.
Quanto aos preços, estes poderão oscilar entre os 300 escudos (argolas para colocar guardanapos) e os 60 contos (quadro grande).
Apesar de trabalhar nas horas vagas o aborrecimento não existe. O que prefere fazer são os quadros, isto porque têm muita variedade. A D. Catarina tem a ajuda do seu marido, o sr. João Porto, carpinteiro, 44 anos, que fabrica as molduras para os quadros. Trabalham durante todo o ano, mas mesmo assim esta artesã acha que os quadros não estão muito divulgados, embora as frioleiras de naperons sejam conhecidas por todo o lado.
Nunca pensou em deixar este trabalho, vai sim continuar a trabalhar para que as pessoas de todo o país e emigrantes continuem a comprar estes trabalhos. Lamenta que não haja mais exposições onde pudesse participar. É este o mundo das pecinhas que dão origem a grandes obras.
Os bordados também são umas das preciosidades desta vila e quem o pode provar é a Paula Estróia de 26 anos, dedicando-se aos quadros há cerca de 7 anos. A sua profissão de comerciante não impede que mantenha a sua paixão pelos bordados, tendo ainda tempos livres para praticar esta actividade.
Os trabalhos são variados: camas, toalhas, jogos de quarto, panos de sala, quadros, almofadas, almofadinhas de cheiro, bolsinhas de cheiro e almofadinhas para fixar agulhas.
O material necessário para a realização de uma peça bordada são: agulhas, linhas (que podem ser das marcas DMC e Âncora, linha da Madeira, de seda, etc.) pano, tesoura e, como diz esta artesã, “boa disposição”.
Quadros bordados, são usuais em todo o lado, mas o “ponto de cadeia” - espécie de uma corrente em que os pontos se encadeiam – é o bordado mais típico de Nisa, sendo assim a sua realização: passa-se o desenho em papel vegetal, tiram-se as medidas e centra-se o desenho no meio do pano. Seguidamente, passa-se o desenho com papel químico, do papel vegetal para o pano, pode então começar-se a bordar. Se o pano for feltro, alinhava-se por cima do desenho a químico, pois o químico tem tendência a desaparecer no feltro.
Ao bordar é indispensável ter o cuidado de não passar muitas vezes com as mãos por cima do pano, pois dessa forma a linha começa a perder o brilho. O tempo na realização destes trabalhos é variado, pois uma almofadinha pode fazer-se numa hora, hora e meia, um quadro entre três semana a um mês, e um cobertor entre 6 a 7 meses. Os preços vão desde os 350 escudos (bolsinha de cheiro) a um quadro entre os 60 e 70 contos.
Sem ajudas, lá ai participando na Feira de Artesanato em Nisa, pois foi a única exposição onde participou, durante dois ou três anos seguidos, com cerca de 50 peças, em cada ano.
Foi na mestra do Asilo que as suas mãos aprenderam esta arte de bordar, tudo pelo gosto aos bordados.
Os compradores são de todo o país, mas os nisenses não entram neste grupo, já que quase todas as mulheres sabem bordar. Afirma ainda que quanto a vendas, não se vende muito pois o custo de vida está muito elevado.Tem pena que os bordados um dia venham a desaparecer e exclama: “Da minha parte não desaparecem, mas o que se há-de fazer?” Diz que gostaria que houvesse mais pessoas a fazer bordados, para estes não se irem perdendo.
A Câmara não a apoia, não a convida para exposições noutros locais e é claro, aqui fica o recado: “ devia apoiar mais os artesãos, pelo menos a transportar as pessoas para fora.” Costuma dizer-se “Nisa bordada” e é de facto!
* Patrícia PortoFev. 1997

11.3.24

NISA, Branca Alentejana (II)

 
Nisa e o seu concelho no olhar de uma jovem *
Hoje todo o Portugal sabe que existe uma vila repleta de encantos, encantos que estão em redor do artesanato. Seria injusto falar apenas parcialmente neste artesanato, onde existe tanta coisa para desvendar e principalmente para apreciar. Como tal, a palavra promenor é a indicada para descrever cada um desses trabalhos.
Para falar do Artesanato de Nisa, começa primeiramente pelas mantas de trapos, também conhecidas no concelho por mantas rapaz. Baltazar Cebolais de 68 anos e Matilde Anselmo de 65, ambos reformados, é este o casal que leva a cabo o artesanato das mantas. O senhor Baltazar há 36 anos que entrou no mundo dos trapos. A sua esposa começou com 13 anos. Pelo motivo do desemprego, a D. Matilde ensina esta arte ao seu marido, começando os dois a trabalhar em conjunto.
Mantas, passadeiras e tapetes que a partir de trapinhos às tirinhas (os trapos podem ser de um tecido qualquer, menos de ganga porque esta é muito dura) tomam forma com a ajuda do tear manual, que foi comprado há largos anos nos Cebolais, visto que surgiram os teares mecânicos e os manuais foram postos à venda. Este tear é constituído pelas peanhas ou pedais, o órgão onde se enrola a linha, o pente, aperta os trapinhos, o resiste e a peça que quando bate o tear, vai desenrolando as linhas e ordenando os trapos. As queixas é onde se mete o pente e o que bate o trapo, servindo as caixas para segurar as liceiras, sendo estas que dividem as linhas. Os braços são outra parte deste tear, servindo para segurar os cordéis. Estes seguram as caixas trocando estas o trapo; nas canelas enrolam-se os trapos, metendo-se na lançadeira, passando esta o trapo de um lado para outro com a ajuda da mão direita. A urdideira serve para meter os fios para a teia: o regulador de pressão situado à frente do tear, como o próprio nome indica, tem a função de fazer peso, de maneira a que, quando o tear estiver em funcionamento, não se levante a parte da frente.
Para fazer a largura da teia temos o restelo; as célebres canas da Índia também têm a sua função nesta actividade, as quais servem para cruzar as linhas para não se embaraçarem, havendo também para esta função a ripa de urdir. Seguidamente temos a roda de encher as canelas, as quais se enchem com os trapinhos; a dobadoura serve para dobar (fazer novelos) linhas, lãs e o que houver necessidade. O banco da franja trabalha para o acabamento da manta, enquanto a mão da D. Matilde, com prática, trabalha com rapidez, fazendo uma franjinha para se aplicar à volta de toda a manta.
Então, está na hora de iniciar uma peça. Primeiramente tem que se urdir a teia, ou seja, fazer a largura da manta.Depois, mete-se no órgão e tem que se meter os fios nas liceiras e no pente. Prepara-se o tear, enchem-se as canelas, metendo-se estas na lançadeira. Pode começar-se a tecer a peça com o cuidado de não partir nenhuma linha, caso contrário a manta sai defeituosa.
Uma passadeira pequena de metro e meio, tem de realização cerca de duas horas e custa 600 escudos. Uma manta demora cerca de 4 horas e custa três contos e quinhentos, mas se os clientes fornecerem os trapos, a manta só custa um conto e trezentos.
A D. Matilde afirma que o preço é pouco para o trabalho que dá, tornando-se cansativo, mas as pessoas acham que o preço pedido é sempre de mais.
Quando se fala em jovens, a resposta foi: “Eles querem lá agora saber disto! Não sabem apreciar.”
Apesar de algumas pessoas darem valor a este tipo de trabalho.
Quanto a exposições, diz-nos a D. Matilde, “estas mantas já estiveram expostas aos olhos de todos em Nisa e de norte a sul do país.
A Câmara não ajuda a divulgar esta actividade, esquece-se que o artesanato é variado, como tal, a D. Matilde refere-nos: “Nunca vi numa folha sequer, uma manta; as bilhas vêem-se muito e os alinhavados em muitas revistas. Só numa revista francesa é que apareceram as mantas, mas a Câmara nunca fez publicidade às mantas.”
Todo o ano este casal trabalha na execução destas peças de trapos. Antigamente, as mantas eram muito utilizadas nas camas, mas hoje já não é assim, como diz o poeta Luís de Camões: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, por isso, as mantas são utilizadas para cobrir sofás, para levar para o campo e para a praia.
Os compradores chegam a deslocar-se à casa da D. Matilde e do senhor Baltazar, compradores de todo o lado, Porto, Lisboa, de todos os cantos do país e até mesmo da América. Esta classe etária verifica-se dos vinte e poucos anos para cima. Vende bem, mas as encomendas agora não são muitas. Gostava que a filha aprendesse, mas é uma actividade que não dá lucro. Este casal afirmou que esta actividade está em extinção, pois a juventude quer outras vidas. Quanto a planos, a D. Matilde disse: “Estou no fim. Já sou velha demais para ter planos.”
É um artesanato que, segundo este casal, está pouco divulgado, como tal, o artesanato não é só um, é este e mais algum.
Um trabalho cheio de cores, trabalhoso e com necessidade de apoios, pois não merece morrer assim!

Patrícia Porto – Fev. 1997

10.3.24

NISA, Branca Alentejana (I)

Nisa e o seu concelho no olhar de uma jovem de 18 anos *
Quando falamos em Nisa, raramente nos lembramos daquela que existiu a quatro quilómetros da actual, estou a falar de Nisa-a-Velha. Como tudo na vida tem a sua origem, Nisa também teve há muitas centenas de anos, sendo considerada a vila mais antiga do distrito de Portalegre.
Já lá vão mais de setecentos anos de muita história e de muitas mãos mágicas das quais saiu um “feitiço” que dura até hoje.
Nisa-a-Velha situava-se na Nossa Senhora da Graça (Padroeira de Nisa), um monte com duzentos e setenta e cinco metros de altitude. A presença dos romanos nesta zona não alimenta quaisquer dúvidas, vivendo vários núcleos destes não muito longe da actual Nisa. Outras provas que justificam este acontecimento, são os inúmeros objectos encontrados. No cimo do monte de Nª Srª da Graça situava-se o castelo.
D. Afonso, irmão de D. Dinis, realizava obras para fortificar Castelo de Vide. O Rei não autoriza, mas D. Afonso continua em frente com as obras já iniciadas. Este, prevendo perigo para o seu lado, abriga-se em Portalegre, pedindo homens e mantimentos às populações vizinhas. A população de Nisa-a-Velha, fiel ao Rei, não aceita as suas preces. D. Afonso, revoltado, invade esta população com o seu exército, queimando as habitações, mas para que não ficassem de pé as paredes em pedra, manda destruí-las.
A população chora lágrimas de desgosto e saudade, isto no ano de 1280 da era de César, portanto, no ano de 1242 da nossa era. D. Dinis observa as terras férteis que se situavam junto do antigo castelo de Ferron, é então que tem a ideia de construir novas habitações para a população, já que esta ficou sem os seus bens para não desrespeitar o Rei.
É precisamente aqui que chegamos ao final de Nisa-a-Velha e ao início de Nisa-a-Nova, construindo-se novas habitações e transformando os campos onde toda a erva tinha licença para nascer em campos altamente cultivados.
Mas porquê o nome de “Nisa”? Ainda não existe uma explicação concreta, diz-se que “Nisa” era o nome de uma grega, o que se sabe é que é um nome pequeno mas de riquezas tamanhas.
Nasceu a Nisa que é hoje: Situada no extremo setentrional do Alto Alentejo, altitude de 304 metros.
A paisagem típica de Nisa assim como de todo o Alentejo é assinalada por montados de sobre e azinho, algumas matas de eucaliptos, pinheiros, oliveiras que se estendem ao longo dos campos, terras semeadas, bacêlos de subsistência. Sol que queima, saudade de muitos emigrantes.
Escutem! Já soa o trotear ao longe e os chocalhos do rebanho que se aproxima! É este o Alentejo que nos seduz e nos ensina a ter gosto pelas maravilhas campestres.
Terra de uma linguagem popular, sendo a sua pronúncia confundida com a açoriana, terra de tradições. Tradição, palavra remota que apesar do passar dos tempos não se esquece. Vila de trajes marcantes, jóias afamadas, devoção, folclore, o reviver dos tempos.
Dizem os “velhos”: Antes é que era bom...”, tempos que já não voltam, mas esta vila de hoje tem muito para oferecer.
Nisa “lá fora” é conhecida principalmente por um motivo, motivo esse que passa montes, vales, fronteiras, estradas... Artesanato! É este o motivo mais forte que me leva a ter a caneta na mão, escrever neste papel e a ter um certo orgulho. Nisa, tens riqueza! Houve em tempos quem cantasse:
… Nisa terra Natal
Aguarela do Alto Alentejo
Nisa terra airosa
Princesa dos encantos
Mostra aos viajantes
Como és tão formosa.


* Patrícia PortoFev. 1997


21.12.18

NISA - Natal: O Silêncio dos Inocentes

Mais um ano dado por passado, mais uma consoada se aproxima: luzes, prendas, é este o espírito natalício.
Para nós é um Natal sem neve, mas nem por isso deixa de ser Natal, o que para alguns, com neve ou sem neve, esta época é sempre como outra triste qualquer. Que diferença lhes faz comer bacalhau com a respectiva couve e batatas? Pois talvez já não conheçam o seu sabor!
Perante o frio cortante, debaixo de mantas ou dentro de caixas de papelão, vêem os pinheiros brilhantes nas moradias; ouvem as badaladas da meia-noite, e esta gente, simplesmente permanece na consoada de todas as noites.
É nestas alturas, principalmente, que nos devemos imaginar nessas condições, só assim a nossa opinião sobre esta quadra começa a mudar.
Natal é Verdade!
Natal é Justiça!
Natal é Amor!
Natal é Liberdade!
Diz a velha canção que a cada ano que passa entra pelos nossos ouvidos, mas, em plenas ruas, em plenas esquinas, o Natal de muita gente resume-se simplesmente em “nada”.
Pessoas que talvez, já nem se lembrem de como é abrir um presente, de como é estar em família e dizer: Feliz Natal.
De facto ninguém é igual, nem todos nasceram com um lugar no mundo. Claro que nem sempre podemos ajudar o próximo, mas pensar nas diferentes formas de viver o Natal faz parte da palavra Solidariedade, a primeira regra do Ser Humano.
Patrícia Porto – Notícias de Nisa” – 24 Dez. 1997