Nisa e o seu
artesanato no olhar de uma jovem *
Maria de Lourdes
Paralta acha que estes trabalhos também mereciam umas quadras e
solta a sua veia poética (1).
“ Ó raparigas
de Nisa-a-Nova
As vossas mãos
valem ouro
Quem com vocês
casar
Leva consigo um
tesouro
Vocês fazem obras
primas
Lindos cobertores
bordados
Bonitas rendas de
bilros
E os célebres
alinhavados
O Centro de
Artesanato Regional de Nisa trabalha para que a perfeição da arte
aplicada à máquina se mantenha, e é com perfeição que nascem os
inúmeros trabalhos em feltros tão bem divulgados.
Ana Maria de 36
anos trabalha desde os 14 anos nesta actividade, desde que saiu da
escola. Portanto, há 22 anos que as suas mãos conhecem todos os
pontos e as voltas que a tesoura dá.
Neste Centro podem
ser adquiridas bases para copos, colchas, pegas, saias de camilha,
cobertores, miudezas, marcadores para livros, jogos de coctail,
almofadas para fixar as agulhas, as famosas saias vermelhas com o
rameado preto (já referidas anteriormente) e é com esta peça de
vestuário, juntamente com o xaile branco bordado que se forma o
traje mais conhecido de Nisa, custando a saia dezassete contos e
quinhentos. Para além desta saia, existem outras peças de vestuário
normais como capas, saia e casaco.
A D. Ana Maria
explicou-nos então o processo de realização de uma peça de
feltro. Sobrepõem-se duas partes de tecido (feltro), alinhava-se o
papel vegetal que contém o desenho, em cima dos tecidos, vai à
máquina e coze-se por cima do desenho. Depois tiram-se os
alinhavados assim como o papel vegetal e os restos deste, pois com a
máquina de costura ao cozer, não saem. Recorta-se o tecido à volta
da parte da máquina, tendo cuidado em não o cortar, caso contrário
o trabalho fica danificado. É desta forma que temos uma peça feita.
Pode ser feita uma pega em quinze minutos, enquanto que um cobertor
ocupa dois ou três dias.
Neste centro todas
as pessoas trabalham numa peça, tendo cada pessoa a sua função. Os
preços variam e vão desde uma base para copos de centoe quarenta
escudos a uma capa de trinta e cinco contos. Quanto às vendas, é
conforme a estação doa no. No Verão vendem-se mais “miudezas";
no Inverno mais vestuário e camilhas.
Este artesanato
também esteve patente em muitas exposições, entre elas, as do
Casino Estoril e um pouco por todo o país, enviando mesmo peças
para o estrangeiro.
Na revista “Casa
Viva” e na televisão estes trabalhos já tiveram o seu “direito
de antena”.
Nove horas diárias
são ocupadas com os trabalhos em feltro, que se desaparecerem será
triste, pois já são uma tradição muito antiga, mas mesmo assim a
D. Ana Maria não aconselha esta actividade às filhas, o que quer
realmente para elas é o estudo.
Vários prémios já foram alcançados por este Centro e se os receberam é porque os
mereciam!
* Patrícia Porto – Fev. 1997NOTA
(1) – Paralta, Maria de Lourdes – Memorial em verso da notável Vila de Nisa, sua história, gentes, usos e costumes – Edição da autora, com o apoio da Câmara Municipal de Nisa e da Assembleia Distrital de Portalegre - 1982