No final de 2018, a propósito dos festejos do novo ano que entrava, apelei, neste mesmo espaço, para não trocarmos um abraço por um like. Escrevia sobre as preocupações das pessoas que, com a evolução tecnológica, colocaram, por exemplo, a falta de Wi-Fi ou de bateria nos smartphones ao mesmo nível da privação de bens essenciais ou instabilidade financeira.
Entramos em 2019 cada vez mais isolados, mais individualistas. A viver mais no mundo virtual, a misturar a verdade com a mentira. Confundindo as pessoas e as prioridades. Saímos de 2020 da mesma forma. Pior, na verdade. Empurrados para dentro de casa por uma doença cega e, em variadíssimos casos, baralhados por medidas sanitárias tardias ou contraditórias, vivendo os dias a olhar para números de infetados e de mortos na esperança de os ver a descer nos gráficos.
É inequívoco que neste Natal devemos trocar um abraço por um like. Será igual, ou mais forçoso ainda, no Ano Novo. Mas que os executemos com consciência e não por imposição de regras ilusórias de duvidoso cumprimento, como, por exemplo, absurdo, a estipulada pelo Governo belga que permite o ajuntamento de quatro pessoas para celebrar o Natal, mas só uma delas pode usar a casa de banho.
Conheceremos as medidas amanhã. O Governo já fez saber que não pretende separar os familiares mais próximos e que apostará na pedagogia. Ninguém tem dúvidas que será um exercício difícil, tendo em conta que o anúncio do arranque da vacinação já em janeiro poderá trazer uma falsa sensação de segurança a uma população que já se habituou a conviver com o vírus.
Que haja clareza no anúncio das restrições e que as medidas sejam realistas. Todos já perdemos algo desde março. Que não se perca o bom senso, mesmo que outros já se tenham desapoderado dele.
Manuel Molinos - Jornal de Notícias - 4/12/2020
Entramos em 2019 cada vez mais isolados, mais individualistas. A viver mais no mundo virtual, a misturar a verdade com a mentira. Confundindo as pessoas e as prioridades. Saímos de 2020 da mesma forma. Pior, na verdade. Empurrados para dentro de casa por uma doença cega e, em variadíssimos casos, baralhados por medidas sanitárias tardias ou contraditórias, vivendo os dias a olhar para números de infetados e de mortos na esperança de os ver a descer nos gráficos.
É inequívoco que neste Natal devemos trocar um abraço por um like. Será igual, ou mais forçoso ainda, no Ano Novo. Mas que os executemos com consciência e não por imposição de regras ilusórias de duvidoso cumprimento, como, por exemplo, absurdo, a estipulada pelo Governo belga que permite o ajuntamento de quatro pessoas para celebrar o Natal, mas só uma delas pode usar a casa de banho.
Que haja clareza no anúncio das restrições e que as medidas sejam realistas. Todos já perdemos algo desde março. Que não se perca o bom senso, mesmo que outros já se tenham desapoderado dele.
Manuel Molinos - Jornal de Notícias - 4/12/2020