Eis aqui um tema que já devia ter sido esgotado há uma boa meia dúzia de meses. Mas tal não foi possível, por motivos que não vêm agora ao caso. Vamos agora fechar esta figura das “Pontes do Passado”, testemunhos e guardiãs de acontecimentos e memórias já distantes no tempo, e por via disso, a caminho do esquecimento.
O Ribeiro de Fevelro tem uma ponte (entre outras) que referimos a seguir pela sua originalidade e antiguidade.
Vamos encontrá-la no antigo caminho do Pé da Serra para Salavessa, cerca de 200 metros a jusante do actual em serviço, na estrada que liga as duas povoações. Tem simples mas robustos pilares (2) que suportam, ou suportavam, o tabuleiro, como se vê nas fotografias que ilustram o texto. São construídos em pedra (xisto), razoavelmente altos, unidos por grossos troncos de madeira aparelhada em quadrado, quatro em cada arco.
É a típica ponte por aqui chamada de madeira, sendo certo não o ser na totalidade, bem pelo contrário.
Por aqui, o Fevelro corre sereno, em parte porque alguns açudes, bonitas e bem concebidas obras de arte, lhe refreiam a pressa, pressentindo já por perto a presença do majestoso rio Tejo, seu destino final, ali pertinho do “Buraco”.
Grandes pescarias se fizeram por ali, imediações da Foz, tanto maiores se contadas pelos próprios, sabidos pescadores da nossa terra que para o sítio se deslocavam, em bicicleta ou motorizada, ocasionalmente em grupo um qualquer “pó-pó” já idoso, gasolina paga por todos, recorrendo ao velho e sempre actual processo da “vaquinha”, contas feitas logo ali no Monte do José dos Santos.
Também nós algumas vezes, poucas, por lá andámos pescando, o que não acontecia mais a montante, sítios do Monte Queimado, do Pai Lázaro, do Pinheiro, onde também fomos parceiros na destruição de espécies como o Bordalo, menos espertos que as esguias enguias que nunca capturámos e que eram abundantes naquelas límpidas e espelhadas águas do Ribeiro de Fevelro.
Neste espaço existem dois pontões de pedra, bem pertinhos um do outro (70 metros), estreitos porque só para pessoas ou animais, estilo antigo, mas que nos garantem não ser bem assim (terão menos de 100 anos), informação que aceitamos, embora duvidando, ao menos, de um deles, já o outro garantimos até ter sido construído por alguém da família “Estudante” de Pé da Serra. Um deles tem tabuleiro, o outro, somente os pilares.
Ao longo do ribeiro, contemplando-o e às pontes, muitas “coisas do tempo dos mouros” por lá existem, espreitando quem por ali passeia, esperando alguns artefactos serem transferidos para um qualquer Museu Municipal de Nisa, que um dia nascerá.Pontão do Vale da Boga
“Joinha”, assim lhe chama o professor Jorge de Oliveira, distinto arqueólogo da Universidade de Évora.
Finalmente restaurada em 2006, aguarda e agradece a visita dos apreciadores destas “coisas”. O ribeiro que sob o dito pontão corre é o da Bruceira, ou Vale da Boga, nome adquirido após a junção, ali pertinho e a montante, dos regatos das Romãs e do Retiro.
Tem este ribeiro, dois conjuntos de passadeiras (poldras) que se avistam mutuamente pela proximidade (80 metros).
O primeiro conjunto após o pontão e no sentido descendente serve a Azinhaga da Fonte do Cão, o outro situa-se na antiga via romana que ligava a antiga cidade de Ammaia (S. Salvador da Aramenha) ao norte de Portugal, descendo até aqui após passagem pela Fonte do cego, sendo que ambos os caminhos, tal qual o do pontão do Vale da Boga, feitos já um só, se encaminhavam para vários destinos após entroncarem na “Carreira Velha”. Das passadeiras descendo com o ribeiro, seguia vereda não pública, utilizada a “butes” pelos funcionários da Hidra (HEAA) que se deslocavam para as oficinas da Central da Bruceira.
O troço final desta caminhada diária de 3,5 Km era feito até à estrada para Montalvão pela tapada da Fonte da Bica, que tinha, não sabemos se ainda tem, uma fonte com este nome.
O pontão do Vale da Boga é muito bonito, estreito, um pouco arqueado, pena é que por ali corram as águas da ETAR de Nisa, não fosse isso e bem que o espaço poderia ser alindado e aproveitado para ali passear, “matando” um pouco do tempo que vai sobrando.
Junto à Foz, na Ribeira de Nisa, conhecemo-lo bem, a este ribeiro, andámos por ali 40 anos, vimo-lo correr somente águas provindas do céu, e era um espectáculo ver as bogas saltar junto à ponte e nadar apressadas corrente acima aquando da desova. Esta ponte que referimos, na Estrada para Montalvão, conhece-a o leitor? Quantas vezes, a transpôs? Provavelmente muitas e já parou para a olhar? Faça-o e vai ver que valeu a pena, tem muito mais de 100 anos e não resistimos a fazer-lhe referência pelo estilo, originalidade das linhas, é toda ela em granito, toda ela uma riquíssima obra de arte do património concelhio.
O pontão do Vale da Boga, sabe-se agora, no sítio não está só, faz-lhe companhia, uma outra valiosa peça do nosso património, um recém descoberto Menir no alto da colina volta a poente, descoberta que fica a dever-se aos arqueólogos João Caninas e Francisco Henriques, nossos vizinhos de Vila Velha de Ródão, menir que já visitámos na companhia do professor Jorge de Oliveira que ali se deslocou a confirmar a autenticidade do achado.
Tem este menir, a que os autores da descoberta baptizaram da “Fonte do Cão”, cerca de metade do tamanho do outro, o do Patalou, sendo que ambos, fazendo jus à condição de bons alentejanos, teimam em permanecer deitados dormindo o sono dos justos.
O Ribeiro de Fevelro tem uma ponte (entre outras) que referimos a seguir pela sua originalidade e antiguidade.
Vamos encontrá-la no antigo caminho do Pé da Serra para Salavessa, cerca de 200 metros a jusante do actual em serviço, na estrada que liga as duas povoações. Tem simples mas robustos pilares (2) que suportam, ou suportavam, o tabuleiro, como se vê nas fotografias que ilustram o texto. São construídos em pedra (xisto), razoavelmente altos, unidos por grossos troncos de madeira aparelhada em quadrado, quatro em cada arco.
É a típica ponte por aqui chamada de madeira, sendo certo não o ser na totalidade, bem pelo contrário.
Por aqui, o Fevelro corre sereno, em parte porque alguns açudes, bonitas e bem concebidas obras de arte, lhe refreiam a pressa, pressentindo já por perto a presença do majestoso rio Tejo, seu destino final, ali pertinho do “Buraco”.
Grandes pescarias se fizeram por ali, imediações da Foz, tanto maiores se contadas pelos próprios, sabidos pescadores da nossa terra que para o sítio se deslocavam, em bicicleta ou motorizada, ocasionalmente em grupo um qualquer “pó-pó” já idoso, gasolina paga por todos, recorrendo ao velho e sempre actual processo da “vaquinha”, contas feitas logo ali no Monte do José dos Santos.
Também nós algumas vezes, poucas, por lá andámos pescando, o que não acontecia mais a montante, sítios do Monte Queimado, do Pai Lázaro, do Pinheiro, onde também fomos parceiros na destruição de espécies como o Bordalo, menos espertos que as esguias enguias que nunca capturámos e que eram abundantes naquelas límpidas e espelhadas águas do Ribeiro de Fevelro.
Neste espaço existem dois pontões de pedra, bem pertinhos um do outro (70 metros), estreitos porque só para pessoas ou animais, estilo antigo, mas que nos garantem não ser bem assim (terão menos de 100 anos), informação que aceitamos, embora duvidando, ao menos, de um deles, já o outro garantimos até ter sido construído por alguém da família “Estudante” de Pé da Serra. Um deles tem tabuleiro, o outro, somente os pilares.
Ao longo do ribeiro, contemplando-o e às pontes, muitas “coisas do tempo dos mouros” por lá existem, espreitando quem por ali passeia, esperando alguns artefactos serem transferidos para um qualquer Museu Municipal de Nisa, que um dia nascerá.Pontão do Vale da Boga
“Joinha”, assim lhe chama o professor Jorge de Oliveira, distinto arqueólogo da Universidade de Évora.
Finalmente restaurada em 2006, aguarda e agradece a visita dos apreciadores destas “coisas”. O ribeiro que sob o dito pontão corre é o da Bruceira, ou Vale da Boga, nome adquirido após a junção, ali pertinho e a montante, dos regatos das Romãs e do Retiro.
Tem este ribeiro, dois conjuntos de passadeiras (poldras) que se avistam mutuamente pela proximidade (80 metros).
O primeiro conjunto após o pontão e no sentido descendente serve a Azinhaga da Fonte do Cão, o outro situa-se na antiga via romana que ligava a antiga cidade de Ammaia (S. Salvador da Aramenha) ao norte de Portugal, descendo até aqui após passagem pela Fonte do cego, sendo que ambos os caminhos, tal qual o do pontão do Vale da Boga, feitos já um só, se encaminhavam para vários destinos após entroncarem na “Carreira Velha”. Das passadeiras descendo com o ribeiro, seguia vereda não pública, utilizada a “butes” pelos funcionários da Hidra (HEAA) que se deslocavam para as oficinas da Central da Bruceira.
O troço final desta caminhada diária de 3,5 Km era feito até à estrada para Montalvão pela tapada da Fonte da Bica, que tinha, não sabemos se ainda tem, uma fonte com este nome.
O pontão do Vale da Boga é muito bonito, estreito, um pouco arqueado, pena é que por ali corram as águas da ETAR de Nisa, não fosse isso e bem que o espaço poderia ser alindado e aproveitado para ali passear, “matando” um pouco do tempo que vai sobrando.
Junto à Foz, na Ribeira de Nisa, conhecemo-lo bem, a este ribeiro, andámos por ali 40 anos, vimo-lo correr somente águas provindas do céu, e era um espectáculo ver as bogas saltar junto à ponte e nadar apressadas corrente acima aquando da desova. Esta ponte que referimos, na Estrada para Montalvão, conhece-a o leitor? Quantas vezes, a transpôs? Provavelmente muitas e já parou para a olhar? Faça-o e vai ver que valeu a pena, tem muito mais de 100 anos e não resistimos a fazer-lhe referência pelo estilo, originalidade das linhas, é toda ela em granito, toda ela uma riquíssima obra de arte do património concelhio.
O pontão do Vale da Boga, sabe-se agora, no sítio não está só, faz-lhe companhia, uma outra valiosa peça do nosso património, um recém descoberto Menir no alto da colina volta a poente, descoberta que fica a dever-se aos arqueólogos João Caninas e Francisco Henriques, nossos vizinhos de Vila Velha de Ródão, menir que já visitámos na companhia do professor Jorge de Oliveira que ali se deslocou a confirmar a autenticidade do achado.
Tem este menir, a que os autores da descoberta baptizaram da “Fonte do Cão”, cerca de metade do tamanho do outro, o do Patalou, sendo que ambos, fazendo jus à condição de bons alentejanos, teimam em permanecer deitados dormindo o sono dos justos.
João Francisco Lopes - “Jornal de Nisa” - 19/3/2008