15.12.20

COISAS DA CORTE DAS AREIAS (13): Quem cala..., ou como subir o Tejo até à Idade do Bronze

Este é um título de reportagem, publicado no Diário de Notícias de 13/7/2006. Da impressão causada nos dois repórteres, passeando o Tejo é bem elucidativo o que então escreveram e nós reproduzimos.
O que aqui prende qualquer viajante e o fará seguramente voltar é a situação única de uma paisagem quase comovente”
Sabe-se, de Vila velha de Ródão, descendo o rio, os repórteres, ultrapassaram as Portas de Ródão, deliciaram-se com o “lago”, viram um pouco do Conhal, mas não o passearam, referem os abutres mas, adivinha-se, não os terem visto, deduz-se ainda que uma garça e outras espécies se expuseram à curiosidade dos visitantes.
Invertida a marcha, vão agora subir o rio, olhar as margens e os ribeiros que ali terminam a sua actividade. Aqui, o Enxarrique, “paredes-meias” com o Açafal na margem direita. Um pouco acima, na margem oposto o Fivelro e mais além, finalmente, o ribeiro de S. Simão, na freguesia de Montalvão, a dois passos do rio Sever, fronteira com a Extremadura espanhola. É aqui, nas imediações da foz deste ribeiro, que pode ser vista a maior concentração de figuras de arte rupestre não submersas (estação de S. Simão).
Vila de Ródão/Porto do Tejo é terra muito bonita e da qual muito gostamos, logo após, enquanto jovens e aos fins de semana, nós e outros amigos para lá rolávamos, pedalando e ali chegados, alguns teimavam em desafiar o rio a nado, tempos em que o dito, com correntes inconstantes e por vezes rápidas, não poucas vezes nos assustou.
Tinha, então, o Tejo,  belíssima e muito frequentada praia de areia fina, na margem esquerda, onde por perto vivia – e cremos que ainda vive – uma grande e bem sombreada nogueira onde aconteciam os lanches. Por perto e a montante algumas figueiras estiveiras que pelo S. João tinham por hábito “provocar-nos”, acabando por nos oferecer os seus saborosos e “arregoados” frutos.
Sempre o Tejo nos fascinou, ali ou na confluência do Sever; na Lomba da barca ou no Arneiro, na foz do Figueiró e também na Barca da Amieira. O Tejo é o elo de uma corrente
que não separa, antes une, duas províncias, dois distritos, dois concelhos, meia dúzia de freguesias no nosso território. Dois concelhos com uma história, em muitos aspectos, comum, que se espera ir continuar, pois ambos integram a Naturtejo, o Geoparque e ambos dividem, entre si, o recentemente classificado monumento natural Portas de Ródão.
A exemplo do acontecido com as referências à presença templária em Idanha, que abordámos num escrito anterior (ver “O Santo Graal”- 17/1/07), também neste caso estranhámos que em toda aquela curta mas bem conseguida reportagem, não estivesse presente uma única referência ao concelho de Nisa, tanto mais estranho se for tido em conta que a Arte Rupestre visitada se encontra na margem esquerda do rio, na freguesia de Montalvão (Nisa), o mesmo sucedendo com o Conhal em Santana, e que até os grifos referenciados “namoram” preferencialmente nos penhascos a sul, na Serra da Corga (S. Miguel), voltada ao Arneiro, onde muitos casais nidificam.
Mais justos foram os antigos contadores de histórias dos tempos idos, que souberam e quiseram interligar o território das duas margens, inclusive, através da “Lenda da Faiopa”, belíssima lenda que nos fala de “absorventes paixões” envolvendo mouros e cristãos.
Terminada a reportagem sobre o Tejo, que também é “nosso”, mas não parece, “sobrevoaram” Nisa os repórteres, passando por aqui como “cão por vinha vindimada”, a caminho de um concelho vizinho, mais a sul (1) onde abordaram (mas que atrevimentos!) a temática dos “Bordados”, de que Nisa – dizem “eles” por aí – é capital do Norte Alentejano.
Bons parceiros tem Nisa, mas a estas “maldades” bom seria denunciá-las. Endereçá-las para as calendas gregas é que não!
Mais do mesmo
“De um lado chove, do outro faz vento”. E nós aqui no meio... Quiseram os deuses colocar-nos bem nos extremos. Extremo sul da Naturtejo, extremo norte da Região de Turismo do Norte Alentejano.
Assim sendo, “nós aqui no meio”, seríamos “Centro”, lugar de convergência, semelhança... entre organismos..., tendência para um mesmo resultado.
Uma ova! Até parece, isso sim, voltarmos novamente à era do “salve-se quem puder!”, utilizando a velha fórmula de puxar cada vez mais “a brasa à sua sardinha”.
Em Janeiro deste ano, publicava o jornal Fonte Nova pela pena de António Barradinhas, uma reportagem sob o título “Castelo de Vide, Marvão e Portalegre – Triângulo Turístico”, onde se escreve que o conceito não é recente, “já vem dos anos 60”. 
Documentos dos anos 40 temos nós que atestam que já se usava e abusava da expressão, vinte anos antes. Sempre estranhámos o entusiasmo assumido na mensagem divulgada através dos tempos, como se nos restantes 12 concelhos do distrito pouco ou nada exista em termos turísticos, monumentais ou históricos.
Têm razão os “autarcas do Triângulo” quando referem que “o turismo e designadamente as regiões mais pequenas devem começar a ser vistas de uma forma integrada, já que só em conjunto é que poderá haver alguma expressão, alguma força”. 
Sendo esta uma grande verdade, há que praticar a coerência do discurso, além do mais foi esta a razão e o espírito que presidiu à junção de todos os 15 concelhos na Região de Turismo do Norte Alentejano. Ou não terá sido?
Diz-se estar nos plano do Governo acabar com as regiões de turismo, minguá-las em número e rebaptizá-las com outros nomes. Muito bem. Na nova fórmula, só podemos esperar ser tratados como iguais, pode até acontecer inventarem uma nova forma geométrica para o espaço e finalmente, possamos assistir, por mais justa, à promoção por igual de todos os concelhos que formam o distrito de Portalegre.
Como é sabido – pelos vistos, não por toda a gente – o Norte do Distrito começa no Tejo, nunca na Ribeira de S. João ou no Ribeiro do Sor. 
Quem de direito, deve estar atento e denunciar, tomar posição. Calar, não vale, pois, “quem cala...”.
Notas
(1) Castelo de Vide

EFEMÉRIDE
Em 23 de Fevereiro de 1927, segundo a “Revista Turismo – Janeiro/Março de 1947”, a Câmara de Nisa, sob a presidência do dr. Mourato Peliquito, celebrava festivamente a inauguração da luz eléctrica. Fez, agora, 80 anos.
João Francisco Lopes in "Jornal de Nisa" - nº 232 - 23/5/2007