2.12.20

COISAS DA CORTE DAS AREIAS (8) - As Excelências

Manuel Granchinho e José Vieira da Fonseca foram dois dos principais impulsionadores da construção do Cine Teatro Nisense
Vão aparecendo por aí, sugando aqui e acolá, ávidas criaturas que procurando “alimento” para o seu superior egocentrismo característico de menoridade.
Na atribuição destas qualificações que não convém vulgarizar, participam, naturalmente, por um lado, o lisonjeado, feliz da vida pela distinção não referendada e pelo outro lado, o mesureiro lançando a semente à terra e perspectivando, se o tempo correr favorável, uma razoável colheita futura.
Excelência é qualidade, logo, a atribuição deve ser cuidada, não vá a peanha escorregar e arrastar na queda o título, daí que quem o recebe muito cuidado deve ter ao aceitá-lo não vá mais tarde perdê-lo.
Como exemplo refira-se o que a imprensa ainda há poucos dias divulgou (DN 5/12/09):
O genro do Rei de Espanha, o ainda marido da infanta Elena, Jaime Marichalar, vai “perder a graça de Excelência”.
Favinhas contadas, esta é uma situação que connosco nunca acontecerá, mas já aconteceu em Nisa por incompetência ou por maldade. Estamos a referir-nos àquela lápide, solidária, da maltratada Fonte do Rossio, onde a “Excelência” também constava, muito justamente, recordando o passado e transmitindo ao futuro o que foi a inauguração da referida fonte pelo Presidente da República, General Óscar Carmona, em 7 de Maio de 1932.
A lápide soltou-se da fonte e na queda não partiu. O autor destas linhas mais o João “Abel” foram entregá-la no quartel da GNR, na altura sob o comando do sr. tenente Abóbora, e sem que se saiba porquê, em vez de reposta no local (estão lá os furos) sumiu. Se a dita um dia aparecer e for aplicada no sítio certo, significa que ficará voltada a nascente quando, originariamente o estava a sul. Um “engano” revelador do pouco cuidado havido por parte de quem desmontou e voltou a montar o “puzle”.
Gosto das pessoas sem fingimento. Gosto de quem colocou no nosso Mercado Municipal aquela lápide que diz apenas: “ Este Mercado foi inaugurado no dia 28 de Julho de 1962”.
E gosto daquela outra, ainda mais simples, no Quartel dos Bombeiros, que diz, tão simplesmente. “Inaugurado em 19-2-1989”.
O essencial está lá, o resto é conversa e quem quiser beber mais informação vá às “fontes”:
Estas lhe dirão que na primeira inauguração era presidente da Câmara, o dr. Mário Relvas Fraústo e na segunda, o então 1º Ministro e actual Presidente da República, Professor Cavaco Silva.
Mas, confessamo-lo, a placa que mais prazer nos dá ler é a que testemunha a inauguração do Cine Teatro de Nisa, em 9 de Outubro de 1931.
É preciso ser-se grande e eles foram-no! É preciso ser-se “Excelências” e eles demonstraram que o eram, os fundadores, os obreiros de tão importante empreendimento.
Uma obra paga com dinheiros seus e não do erário público.
São Excelências porque colocaram na lápide o nome da Companhia de Teatro e de actores, famosos e não os seus.
Não o fizeram eles, mas é sempre tempo de alguém o fazer, pelo merecimento que lhes é devido.
Aproxima-se o ano de 2011. Oitenta (80) anos, completará o Cine Teatro. Oitenta (80) anos a “Viver Cultura” e não 10, como constou durante certo tempo, numa tarja exposta na entrada principal, entretanto substituída, repondo a verdade sobre a história do nosso Cine Teatro.
*João Francisco Lopes in "O Distrito de Portalegre" - 7/1/2010