A política de Trump é o casamento perfeito entre o oportunismo eleitoral e a absoluta irresponsabilidade na condução da política externa.
"Para ser reeleito, Obama vai começar uma guerra contra o Irão", escrevia Donald Trump há quase uma década. Hoje, em plena pré-campanha para as presidenciais norte-americanas, e com a reeleição cada dia mais comprometida por escândalos internos e pelo fracasso do seu mandato, foi Trump quem levou ao extremo a tensão com o regime iraniano.
A política de Trump é o casamento perfeito entre o oportunismo eleitoral e a absoluta irresponsabilidade na condução da política externa.
A morte do general iraniano Qassem Soleimani na sequência de um ataque dos EUA em solo iraquiano é apenas o culminar de um processo de escalada que vem de longe e que se intensificou nas últimas semanas. O legado de Soleimani não encontrará defesa em quem defende a paz e a democracia no Mundo. Mas o seu assassinato por drones norte-americanos, operados em território de um país terceiro, é um passo em frente no caminho para o abismo da guerra. Na sua política externa, Donald Trump coloca a ambição imperialista acima do Direito Internacional, comprometendo a paz e aumentando a instabilidade em toda a região.
As consequências não se fizeram esperar. Em poucas horas, os apelos belicistas voltaram a encher as ruas do Médio Oriente. Perante o anúncio pelas autoridades iranianas do abandono do acordo nuclear alcançado em 2015, Donald Trump respondeu prometendo "uma resposta desproporcionada" e ameaçando com a destruição de dezenas de alvos em território iraniano (alguns dos quais "importantes para a cultura iraniana", o que configura a admissão, à partida, de um crime de guerra).
Olhando para o que aconteceu nos últimos anos em países como o Brasil ou os Estados Unidos, talvez se arrependa quem apostou na normalização institucional dos populismos e dos seus líderes. O que num dia é retórica populista, no outro é política de ódio. O que hoje é ameaça irresponsável, amanhã será guerra. A extrema-direita nunca evita a violência, porque é violenta a sua política.
Além de ser um gigantesco produtor petrolífero, o Irão é um dos países que controla o Estreito de Ormuz e a ligação entre o Golfo Pérsico e o Oceano. Os interesses económicos e militares norte-americanos arrasaram o Iraque na viragem do século e deixaram rasto por todo o Médio Oriente. Até onde Irão desta vez?
Mariana Mortágua in “Jornal de Notícias” - 7/1/2020