Depois de ter rasgado o acordo nuclear com o Irão, Trump, sem autorização do congresso americano, à revelia da Nato e da paralisada ONU, infringiu as leis internacionais e mandou assassinar o general iraniano Soleimani, em visita oficial a Bagdad no Iraque. Este herói dos xiitas, que enfrentou os talibãs e desmantelou o “califado” do Estado Islâmico, destacou-se como o grande inimigo dos terroristas do DAESH/ISIS. Tal como Bush, Trump escudou-se em perigos fictícios que não foram comprovados.
Os americanos que já eliminaram os amigos Saddam Hussein e Kadafi continuam a contribuir para que não haja paz naquela região. Este louco eleito pelos americanos ainda ameaçou destruir 52 locais, património cultural iraniano, talvez inspirado pelos crimes cometidos pelo Estado Islâmico em Palmira. Israel, o “improvável” amigo da Arábia Saudita que acusa o Irão de inimigo do mundo e que armou grupos terroristas como a Al-Quaida de Bin Laden e o Daesh nada dizem. Por que será?
Esta atitude que é bélica, política e económica, também tem o seu quê de religioso, já que o alvo foi o n.º 2 do aiatolá Ali Khamenei. O médio oriente já foi turco, árabe e agora temos assistido a uma intenção do domínio persa. Este incidente só veio reforçar os mais conservadores xiitas em minoria no islão, que respondem a esta afronta com ameaças de retaliação. Esta disputa religiosa secular entre sunitas e xiitas nasceu após a morte de Maomé e no atual contexto, dura há décadas com os americanos pelo meio a disputarem petróleo e a venda de material bélico.
Os sunitas mais representados pela aliada americana Arábia Saudita, são mais ortodoxos e pregam o ódio contra os xiitas com muita expressão no Irão. Depois da revolução em 1979, os xiitas apareceram como uma ameaça aos sunitas em particular no Golfo Pérsico. E neste contexto, aparecem os americanos como aliados e fornecedores de armamento que permite à Arábia Saudita (sunitas) manter uma guerra terrível no Iémen (xiita), assim como o apoio aos israelitas (judeus) para continuar a hostilizar Gaza, alimentando a fúria e o radicalismo do HAMAS (sunita), esvaziando o Movimento de Libertação Nacional da Palestina (FATAH), organização política e militar de Yasser Arafat.
Acontece que, devido a esta atitude criminosa, um avião ucraniano com 176 civis inocentes, foi abatido pelo exército iraniano que refletiu com um erro, o ódio criado com esta situação. O choque atingiu os próprios iranianos que pedem a demissão dos responsáveis políticos e do líder religioso. Mas se o povo iraniano tem sido vítima das políticas de isolamento com sanções económicas ao país, Trump tornou mais difícil a luta deste povo que há muito, protesta contra um governo de direita, autoritário e teocrático. Exemplo disso foram as manifestações no passado novembro, fortemente reprimidas.
O Iraque, maioritariamente xiita, vítima de grupos terroristas sunitas, dá sinais de que não quer a presença do invasor americano, que viola de forma escandalosa o seu território e a Europa não descolou da ofensiva louca americana. O Presidente iraniano, Hassan Rouhani avisou: - “Hoje, o soldado americano está em perigo, amanhã o soldado europeu pode estar em perigo”.
Agora, o argumento de treino de militares para combater o terrorismo, está em causa e a pergunta que se coloca, é o que ainda estão a fazer os militares portugueses naquela região? Por que que temos um orçamento de estado a absorver verbas que faltam à saúde e à educação, a manter uma NATO que não tem uma posição séria e quando se sabe, que temos um número estúpido de generais com mais oficiais e sargentos do que praças, que não chegam para impedir um desaparecimento de armas? E, os soldados da paz, os bombeiros que tanta falta fazem, têm valores a receber em atraso como missões e apoios…
A ONU nada faz contra o imperialismo americano, russo e chinês. Os crimes contra a humanidade, sem excluir os ambientais, ficam impunes. O mundo está cada vez mais desequilibrado e a confundir as pessoas que, bombardeadas nas redes sociais e até, em alguma imprensa, fazem com que digam que já não acreditam em ninguém… Mas esta maioria acaba sempre a ser dominada por uma minoria.
No Brasil governa um homem que mente e destila ódio e na América é candidato a renovar o cargo, um Trump que deixa acanhados os mais lunáticos da política internacional. E até em Portugal, o Ventura das faturas falsas e atual rei das incoerências, sobe nas sondagens. Tudo indica que as pessoas não assumem, que gostam de ser enganadas e que o comodismo as impede de perder um pouco de atenção com a realidade e com as coisas importantes da vida. É assim que os problemas crescem!
Paulo Cardoso in Desabafos - Crónica na Rádio Portalegre - 7/1/2020