O ano de 2019 começou com seca, seguiu com Centeno a cativar e acabou com inundações e números negros na violência doméstica. Destaco os 25 mil milhões € dos contribuintes, já enterrados na banca e as previsões de novos problemas no Novo Banco, que não sabe onde andam os 60 milhões do BES. Há 10 anos que cada português paga 15€ por mês para salvar bancos, ou seja 180€ ano. E o endividamento cresce e faz caminho para o pior.
Durante o ano, foi evidente o mau funcionamento da Educação e o caos que se instaurou na Saúde. Permaneceu a precariedade e a nova escravatura laboral; a pobreza, até de quem trabalha e a falta de políticas para salvaguardarem os nossos velhos e as nossas crianças. Salvam-se bancos, mas afunda-se um país! São estas as regras da União Europeia, nas mãos do sistema financeiro embrulhado em escandalosas lavagens de dinheiro. As fake news em contraponto com as denúncias do WikiLeaks e Football Leaks, acabam por ajudar a abafar os escândalos europeus, como os Swiss Leaks e Lux Leaks. Até a extrema-direita fala contra a corrupção, mas não defende o fim dos offshore que promove os Panamá Papers e Paradise Papers.
Não se defendem as pessoas, mas os interesses dos banqueiros e dos grandes grupos económicos. As leis do trabalho condicionam a vida das pessoas e o desenvolvimento do país – até na natalidade! Também na regionalização, PS e PSD têm andado de mãos dadas, numa regionalização encapotada que promovem há anos, ao arrepio da constituição, dos interesses das regiões e da coesão territorial.
O termo alterações climáticas passou a ter mais peso, face às catástrofes e aos perigos que a biodiversidade sofre. Greta Thunberg, personalidade do ano para a revista “Time”, passou de fenómeno a ativista impulsionadora dos jovens e adultos que rejeitam a irresponsabilidade dos governantes que, reféns do lucro, fecham os olhos aos ataques que o capitalismo faz à natureza.
Trump prossegue a lucrar e a gozar no papel de presidente ganancioso á custa do contribuinte; negoceia com um ditador chinês que é amigo do ditador norte coreano, que continua entretido com os mísseis balísticos; temos uma Europa sem rumo a fechar os olhos a regimes como o de Viktor Orbán na Hungria e Mateo Salvini em Itália. Bolsonaro e Putin fazem os seus jogos de interesses e Erdogán mostra porque não faz sentido a Turquia entrar na U.E neste atual cenário. Hong Kong com máscaras para impedir os gases disparados pela ditadura chinesa, enquanto a França se vestiu de coletes amarelos e os ingleses andaram às voltas com o Brexit. E continuamos a assistir à atitude criminosa de Israel em relação à Palestina.
No ano em que a direita portuguesa teve derrotas históricas, o PS recusou uma nova geringonça pressionado pela CIP, no que toca às leis laborais da troika. O ano terminou a digerirmos um O.E. com excedente orçamental, ou seja, os contribuintes a garantirem uma almofada para a banca, enquanto a Cultura continua a ser desprezada. Quase contranatura, o Presidente Marcelo, face à crise da direita, pediu à esquerda, unidade na aprovação do OE. E, 2019 fecha com a dívida bruta das Administrações Públicas a continuar a subir e a obrigar os contribuintes a uma carga fiscal alta, para os seus rendimentos.
Ouvimos falar dos sucessos de Jorge Jesus, Ronaldo, João Félix, D. Tolentino, Centeno, entre outros. Mas para mim, a figura do ano em Portugal, é André Ventura, mas pelas piores razões. Este arrivista dissidente do PSD, não se envergonhou das subvenções vitalícias aprovadas pelo Bloco Central PS/PSD, incluindo do seu porta-voz nacional, Sousa Lara, de má memória por ter censurado o escritor Saramago e que não envergonhou Ventura; ele mesmo, que não teve vergonha de apoiar Passos Coelho e Paulo Portas na intenção de “empobrecer os portugueses” e surge como um D. Sebastião virginal, mas sem soluções concretas.
O Chega em franca ascensão com uma legalização duvidosa, mas com um programa de que ninguém tem dúvidas, apesar de ter sido escondido. Este programa fundador, cujo ideólogo é um reconhecido ativista de extrema-direita, visa acabar com a escola pública e a saúde pública. Ventura, também não tem vergonha de ser investigado num caso de corrupção “o Tutti Fruti”, com desvio de dinheiros públicos, nem tem vergonha de ser incoerente.
Mas eu prefiro destacar outros portugueses com grandes feitos no desporto, na ciência e na cultura que passam pelos noticiários de forma fugaz, como filhos de um deus menor. E pela negativa no ano de 2019, destaco entre várias, a perda de um grande homem, o José Mário Branco que partiu, mas deixou a inquietação.
* Paulo Cardoso - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre - 3/1/2020Nota: Ilustração do filme de Nelson Guerreiro e Pedro Fidalgo sobre a vida e obra de José Mário Branco – “Mudar de Vida”