Evocação do cinquentenário da morte de José Régio continua as atividades em 2020, com a conferência "José Régio e Cristovam Pavia: dois homens, dois escritores", por João Filipe Bugalho
A Câmara Municipal de Portalegre e a Casa-Museu José Régio continuam, em 2020, a evocar o cinquentenário da morte do grande poeta José Régio, com diversas iniciativas que se estenderão até final do ano, e que englobarão concursos em torno da arte de Régio, exposições, conferências, visitas performativas, sessões de poesia, sessões de cinema, debates, maratonas de leitura, lançamentos de livros sobre o poeta, reedições de obras de José Régio, mesas redondas, peças de teatro, visitas temáticas, recitais de música, entre outras.
No dia 9 de janeiro, decorrerá pelas 17h30, na Casa Museu José Régio, a conferência "José Régio e Cristovam Pavia: dois homens, dois escritores", da autoria de João Filipe Bugalho.
João Filipe Flores Bugalho, irmão de Cristovam Pavia, é engenheiro silvicultor, apaixonado pelo campo e pela paisagem, com variados artigos e palestras sobre estes temas.
Pintor há cerca de uma década, é um grande divulgador da obra literária da família, e foi impulsionador do “Ciclo da Presença no Alto Alentejo”, realizado em Castelo de Vide, em outubro de 2019.
Cristovam Pavia, de seu nome civil Francisco António Lahmeyer Flores Bugalho, nasceu a 7 de outubro de 1933 em Lisboa, vindo a falecer sob o rodado dum comboio, na mesma cidade, em 13 de outubro de 1968.
Filho mais velho de Francisco Bugalho, poeta da geração da revista Presença e grande amigo de José Régio, Cristovam Pavia passa grande parte da sua infância na casa de família, nos arredores de Castelo de Vide, moradia onde Régio conviveu com a família. Aqui, começou a admiração de Cristovam Pavia pelo poeta da “Toada de Portalegre”, que José Régio dedicou a seu pai, Francisco Bugalho.
A partir de 1940, Cristovam Pavia morou em Lisboa, ali finalizando os estudos liceais. Adolescente sensível com o sentimento de desajustamento com a realidade e uma precoce maturidade poética, frequentou a Faculdade de Direito de Lisboa, que abandonou para ingressar na Faculdade de Letras. Entre 1960 e a sua morte, viveu entre Lisboa, Castelo de Vide, Paris e Heidelberg, tendo nesta última recebido acompanhamento psicoterapêutico. Deu a lume, em 1959, na coleção Círculo de Poesia, “35 Poemas”, a sua única obra poética publicada em vida. Anteriormente, publicou colaboração poética em jornais e revistas, como o Diário Popular, Árvore, Anteu, Távola Redonda e Serões. Usou, além de Cristovam Pavia, os pseudónimos, ou "semi-heterónimos", Sisto Esfudo, Marcos Trigo e Dr. Geraldo Menezes da Cunha Ferreira.
Manteve com Régio amizade e enviou-lhe com frequência os seus poemas, para que este lhe desse a sua opinião.
A opinião de José Régio foi muito favorável, considerando-a uma poesia muito pura e profunda, sem toques de literatice ou seguidismo das correntes em voga.
Agradam-lhe os seus versos, sobretudo pela espontaneidade, a sobriedade e a frescura de sensibilidade e imaginação que revelam. Dão-lhe a impressão de flores orvalhadas.
"A poesia de Cristovam Pavia é a revelação de si próprio, de uma personalidade em conflito com o mundo em que vive e que procura uma fuga pela recuperação da infância morta, pela aceitação do seu conhecer-se diferente e despojado do que lhe é mais caro (a infância, o amor, o espaço e o tempo em que ambos se situavam), a transformação do seu próprio ser pelo sofrimento, num movimento de ascese e de autodestruição, quando o poeta atinge a consciência de si próprio e da sua voz."
José Bento, "Sobre a Poesia de Cristovam Pavia", in Poesia de Cristovam Pavia, Lisboa, 1982, p.15.