Os afluentes dos rios funcionam como viveiros,
os peixes sobem as linhas de água quando o inverno termina e se aproxima a
primavera. Aí depositam as ovas, vem o verão os peixinhos crescem, mantém-se
até que a nova estação das chuvas ocorra e os leve para o rio. Assim devia ser,
no caso da ribeira de Nisa o problema não é a poluição industrial, a alteração
deve-se ao facto da mudança de uso, sem se pensar na hidrografia como uma rede
complexa. A barragem da Póvoa e Meadas passou a ser mais importante fonte
abastecimento de água para consumo humano de todo o distrito de Portalegre, é
preciso libertar um pouco de água, especialmente no verão para a permanência de
vida, equilíbrio, para que alguns pontos se mantenham com os recém nascidos
peixes. Para diluir os esgotos domésticos recebidos das ETARs, senão a ribeira
de Nisa não é mais que um esgoto onde proliferam as infestantes mimosas.
Os
pescadores do Arneiro no concelho de Nisa pescam agora lagostins do Lousiana
não somente por causa da poluição vinda da produção da pasta de eucalipto em
Rodão, mas também porque carpas, bogas, barbos, achigãs e outros peixes não se
podem reproduzir, é a mensagem, a de um habitante desta região, o senhor
Silveiro.
Rio
Tejo esgoto, não se deve somente às afrontas mais visíveis, aos efluentes das
indústrias, aos transvases para a agricultura intensiva no sul Espanha, á
Central Nuclear de Almaraz, aos esgotos de Madrid. Isso não quer dizer que é um
problema sem solução, que a nossa agricultura passe a ser o eucaliptal, até
porque temos um problema bem grave, que nos lembramos somente nesta altura os
fogos. Há que olhar o Tejo como um sistema complexo e não somente um vector.
José
Maria Moura