1. Parecem sem fim as
possibilidades que o Estado encontra para ir ao bolso dos portugueses. A
imaginação não podia ser mais fértil. Quando julgamos impossível obrigarem-nos
a contribuir mais ainda para o bolo comum, eis uma ideia curiosa,
surpreendente. Se vive numa casa bem exposta ao sol, virada para uma bela
paisagem, prepare-se: haverá um agravamento do valor a pagar pelo imposto
municipal sobre imóveis (IMI).
Como quase tudo proveniente da
Autoridade Tributária, a medida é algo indecifrável para o comum cidadão. Neste
caso, trata-se de um coeficiente de localização e operacionalidade relativa,
que, por sua vez, integra ainda um coeficiente de qualidade e conforto. Pois
bem, se vive numa casa confortável, terá de pagar, é essa, em suma, a
sustentação do imposto. Perante isto, teremos também de ser imaginativos. Antes
de os diligentes funcionários da Autoridade Tributária reavaliarem a casa, não
percamos tempo. Convoque-se, com urgência, uma reunião de condomínio ou
promova-se um encontro de vizinhos: e avance-se com a plantação, o mais rápido
possível, de uma barreira de árvores. Atenção aos pormenores. Só valem árvores
de folha perene, para que a sombra se mantenha ao longo de todo o ano. E, já
agora, talvez seja boa ideia optar por árvores de crescimento célere, de modo a
tapar rapidamente a paisagem.
Admito as dificuldades
financeiras inerentes à manutenção das igrejas. Mas sei também que os nossos
impostos devem ser para aí encaminhados. O que pagamos pelo sol, pela paisagem
magnífica que sirva, enfim, para preservar a talha dourada e os frescos dos
nossos monumentos.
Paula Ferreira in Jornal de Notícias" - 2/8/2016