23.8.16

CANTINHO do EMIGRANTE: Eu, aqui, tão longe!...

E' triste emigrar, mas mais triste é sentirmo-nos portugueses de "segunda classe", na terra que nos viu nascer. Sim! Digo isto, porque nos cá longe vamos perdendo os hábitos e os nossos costumes, até mesmo a expressão da nossa língua, porque o nosso português é muito mal falado, não só porque a erosão do tempo nos foi apagando as boas recordações, muito embora, nos desloquemos todos os anos, ao nosso lindo país, a terra dos 3 éfes: Fátima, Futebol e Fados, como aqui é conhecido Portugal...
Os emigrantes actuais, não são nada menos corajosos do que os das décadas de 60/70, muito embora as dificuldades de integração na sociedade sejam as mesmas, mas temos que reconhecer, que os primitivos abriram o caminho, fazendo a viagem em condições muito penosas, ao contrário de hoje.
Como a saudade me faz falar, digo que 42 anos de emigrado não são 42 dias, por isso muita coisa aconteceu. O nascimento dos meus filhos e dos meus netos, fizeram com que eu ficasse “cortado” ao meio, entre a França e Portugal, pois não os quero abandonar, apostando em ficar por cá, muito embora a todos os momentos sinta o meu coração palpitar, quando se fala de Portugal, e este ano ainda mais, porque por motivos de doença grave, talvez não possa ir matar saudades à minha querida terra, desfrutar um pouco da minha casa que tenho em Nisa, ver a família e os amigos...
 "O sentir", é qualquer coisa que nos atrai, como se fosse o aproximar do negativo à realidade, mas quando lá vou, fico com o coração despedaçado, de não ver em lado nenhum, uma recompensa em "Honra dos Emigrantes", isto é, num lado qualquer da vila, um sinal alusivo à memoria de todos os emigrantes, pois quase todas as vilas e aldeias já o fizeram. Que me desculpem se repito muita vez os mesmos argumentos, mas nunca é de mais falar num assunto que julgo de interesse de todos os nisenses.
Por isso, uma vez mais, venho lembrar à nossa autarquia, em especial à senhora presidente, Dra. Idalina Trindade, que tem uma dívida para com os emigrantes, estes que labutam cá longe e que ao longo de décadas têm contribuído para a divulgação e o desenvolvimento da sua terra e país.
Em face do exposto, deixo aqui três sugestões ao Município de Nisa, para que ao menos, possam concretizar uma:
1 - Homenagem ao Emigrante (Monumento).
2 – Atribuição de nome a uma rua da vila (Rua do Emigrante).
3 - Afixar uma lápide (Memória dos Emigrantes).
Este reconhecimento, merecido, contribuiria para devolver a dignidade perdida de todos aqueles que cá longe, ajudam ou ajudaram a dignificar o nome de Portugal!
Lembro que, juntamente com outros nisenses contribuí para que o sonho da geminação entre Nisa e Azay le Rideau se tornasse realidade, pois esta vila foi como nossa mãe, que nos soube acolher de braços abertos, onde muitos nisenses se instalaram e trabalharam, colaborando na vida activa da região.
Só lamento o facto de “estar cá tão longe", mas não estou arrependido, porque consegui o que talvez não conseguisse em Portugal, desfrutando da minha reforma e da minha casa, junto da minha esposa, filhos e netos, embora o estado de saúde actual, não seja favorável, mas com a fé que eu tenho em Deus tudo se ultrapassará.
Despeço-me com um forte abraço para todos vós, até à próxima!
António Conicha in "Alto Alentejo" - 18/5/2016