E' triste emigrar, mas mais
triste é sentirmo-nos portugueses de "segunda classe", na terra que
nos viu nascer. Sim! Digo isto, porque nos cá longe vamos perdendo os hábitos e
os nossos costumes, até mesmo a expressão da nossa língua, porque o nosso
português é muito mal falado, não só porque a erosão do tempo nos foi apagando
as boas recordações, muito embora, nos desloquemos todos os anos, ao nosso
lindo país, a terra dos 3 éfes: Fátima, Futebol e Fados, como aqui é conhecido
Portugal...
Os emigrantes actuais, não são
nada menos corajosos do que os das décadas de 60/70, muito embora as
dificuldades de integração na sociedade sejam as mesmas, mas temos que
reconhecer, que os primitivos abriram o caminho, fazendo a viagem em condições
muito penosas, ao contrário de hoje.
Como a saudade me faz falar, digo
que 42 anos de emigrado não são 42 dias, por isso muita coisa aconteceu. O
nascimento dos meus filhos e dos meus netos, fizeram com que eu ficasse
“cortado” ao meio, entre a França e Portugal, pois não os quero abandonar,
apostando em ficar por cá, muito embora a todos os momentos sinta o meu coração
palpitar, quando se fala de Portugal, e este ano ainda mais, porque por motivos
de doença grave, talvez não possa ir matar saudades à minha querida terra,
desfrutar um pouco da minha casa que tenho em Nisa, ver a família e os
amigos...
"O sentir", é qualquer coisa que nos
atrai, como se fosse o aproximar do negativo à realidade, mas quando lá vou,
fico com o coração despedaçado, de não ver em lado nenhum, uma recompensa em
"Honra dos Emigrantes", isto é, num lado qualquer da vila, um sinal
alusivo à memoria de todos os emigrantes, pois quase todas as vilas e aldeias
já o fizeram. Que me desculpem se repito muita vez os mesmos argumentos, mas
nunca é de mais falar num assunto que julgo de interesse de todos os nisenses.
Por isso, uma vez mais, venho
lembrar à nossa autarquia, em especial à senhora presidente, Dra. Idalina
Trindade, que tem uma dívida para com os emigrantes, estes que labutam cá longe
e que ao longo de décadas têm contribuído para a divulgação e o desenvolvimento
da sua terra e país.
Em face do exposto, deixo aqui
três sugestões ao Município de Nisa, para que ao menos, possam concretizar uma:
1 - Homenagem ao Emigrante
(Monumento).
2 – Atribuição de nome a uma rua
da vila (Rua do Emigrante).
3 - Afixar uma lápide (Memória
dos Emigrantes).
Este reconhecimento, merecido,
contribuiria para devolver a dignidade perdida de todos aqueles que cá longe,
ajudam ou ajudaram a dignificar o nome de Portugal!
Lembro que, juntamente com outros
nisenses contribuí para que o sonho da geminação entre Nisa e Azay le Rideau se
tornasse realidade, pois esta vila foi como nossa mãe, que nos soube acolher de
braços abertos, onde muitos nisenses se instalaram e trabalharam, colaborando
na vida activa da região.
Só lamento o facto de “estar cá
tão longe", mas não estou arrependido, porque consegui o que talvez não
conseguisse em Portugal, desfrutando da minha reforma e da minha casa, junto da
minha esposa, filhos e netos, embora o estado de saúde actual, não seja
favorável, mas com a fé que eu tenho em Deus tudo se ultrapassará.
Despeço-me com um forte abraço
para todos vós, até à próxima!
António Conicha in "Alto Alentejo" - 18/5/2016