16.8.16

OPINIÃO: E se voltássemos à Naturtejo?

A Câmara de Nisa reúne amanhã, quarta-feira, com uma ordem de trabalhos alargada e na qual, pela primeira vez em quase três anos de mandato, serão discutidos pontos agendados sob proposta dos vereadores da oposição /CDU e PSD), dois deles, justamente, os que motivaram a retirada dos vereadores daqueles partidos da sessão camarária de 3 de Agosto e deram origem à destemperada Nota da “Presidência” na mesma data.
Não deixa de ser curioso o facto de a esta sessão – de acordo com a assinatura da convocatória – não assistir a presidente da Câmara, a gozar, talvez, merecido período de férias, após as atribulações das últimas semanas.
Com o cenário da “Nisa em Festa” ainda próxima no horizonte, a sessão do executivo agendada para amanhã, pode muito bem significar um ponto de viragem na gestão municipal, até aqui marcada por forte componente egocêntrica e autoritária, sem espaço para a discussão de ideias entre todos os eleitos municipais e a apresentação de propostas alternativas para a valorização e desenvolvimento do concelho.
Que o caminho seguido não foi nem é o melhor, longe disso, começam a reconhecê-lo os eleitos e apoiantes das forças políticas representadas nos órgãos do município.
É intolerável, em pleno regime democrático e de exaltação das liberdades fundamentais, que haja, um funcionário que seja, discriminado, quer pelas suas ideias políticas ou pela sua ligação à gestão municipal anterior. Tratando-se de um quadro superior da autarquia, pago pelo dinheiro dos contribuintes e colocado num gheto ou num bunker, para nada fazer, a situação é ainda mais vergonhosa.  Não se trata, apenas - tal como o têm denunciado estruturas sindicais -, de uma situação de assédio profissional. O caso é mais sério e profundo. O que está em causa é a negação, o impedimento de um profissional da autarquia de trabalhar e desenvolver plenamente as suas capacidades e aptidões profissionais em prol do concelho e dos seus munícipes. O que está em causa é a dignidade humana de uma pessoa, funcionário municipal paga para trabalhar e não o contrário. E quem paga o salário, mensalmente, deste trabalhador, deste técnico, não é a presidente da Câmara, somos todos nós, cidadãos, que residimos no concelho de Nisa.
É para mim inexplicável, perante o absurdo e a vergonha desta situação, que a mesma se tenha mantido (e mantenha) desde há praticamente três anos, sem que os órgãos do município (Câmara e Assembleia Municipal) tenham tomado qualquer medida prática e de denúncia.
É um silêncio cúmplice, aterrador. Estou à vontade para falar sobre o assunto. Denunciei, no passado ainda recente, situações laborais idênticas e, lamento, sinceramente, que a actual titular do cargo de presidente da Câmara não tenha retirado das mesmas os indispensáveis ensinamentos, prosseguindo a mesma inviezada e tortuosa política.
A repressão e a discriminação não levam a lado nenhum. Não enobrece, antes empobrece, moral e eticamente, quem a pratica. Já alguém escreveu que “a união faz a força” e/ou que “vêem mais dez olhos do que quatro”, significando isto que as diferentes sensibilidades políticas e ideológicas representadas no município de Nisa, respeitando, naturalmente, as diferenças, unidas teriam mais capacidade de elevar a gestão e dinamização do concelho a outros patamares. Aliás, a relação de forças existente no município e em resultado das eleições de 2013, a isso aconselhariam. De outro modo, se o actual modelo de gestão se mantiver, se o “eu” persisitir em ser mais forte que o “nós”, o concelho continuará a regredir e a desaproveitar um momento fulcral de travar o despovoamento e a desertificação. 
A convocatória da sessão de amanhã, refere num dos pontos a proposta de “Adesão do Município à Rota Europeia do Queijo”. Tal proposta é, no mínimo, surpreendente.
Como explicar esta proposta, quem, ainda há pouco tempo – e sem o justificar de forma clara – forçou a saída do Município de Nisa de uma Associação, a Naturtejo, com todos os prejuízos que tal decisão acarreta?
Como explicar esta proposta, quem, a nível do Alentejo, não tem passado qualquer “cartão” a iniciativas emblemáticas como a Festa Ibérica da Olaria e do Barro (Reguengos de Monsaraz) ou a Feira do Queijo do Alentejo (Serpa)? Não servimos (não há dinheiro) para a Naturtejo e os eventos atrás mencionados e há para a “Rota Europeia”?
Admitindo, embora, que a proposta tenha razão de ser, o ideal, neste como noutros assuntos, seria que todos os eleitos fossem envolvidos e até que se houvesse um fórum, alargado, sobre os caminhos de futuro a trilhar pelo município.
Tenho para mim, que mais tarde ou mais cedo – e a Naturtejo não afastou, definitivamente, a integração de Nisa naquela associação – esta questão voltará a colocar-se.
O Município de Nisa não pode perder, com pretextos vagos, a participação na Naturtejo e o valioso património que lhe está associado. 
Há caminhos que, colectivamente, vale a pena percorrer e a cooperação intermunicipal é um deles.
Mário Mendes