A
Câmara de Nisa reúne amanhã, quarta-feira, com uma ordem de trabalhos alargada
e na qual, pela primeira vez em quase três anos de mandato, serão discutidos
pontos agendados sob proposta dos vereadores da oposição /CDU e PSD), dois
deles, justamente, os que motivaram a retirada dos vereadores daqueles partidos
da sessão camarária de 3 de Agosto e deram origem à destemperada Nota da “Presidência” na mesma data.
Não
deixa de ser curioso o facto de a esta sessão – de acordo com a assinatura da
convocatória – não assistir a presidente da Câmara, a gozar, talvez, merecido
período de férias, após as atribulações das últimas semanas.
Com
o cenário da “Nisa em Festa” ainda próxima no horizonte, a sessão do executivo
agendada para amanhã, pode muito bem significar um ponto de viragem na gestão
municipal, até aqui marcada por forte componente egocêntrica e autoritária, sem
espaço para a discussão de ideias entre todos os eleitos municipais e a
apresentação de propostas alternativas para a valorização e desenvolvimento do
concelho.
Que
o caminho seguido não foi nem é o melhor, longe disso, começam a reconhecê-lo
os eleitos e apoiantes das forças políticas representadas nos órgãos do
município.
É
intolerável, em pleno regime democrático e de exaltação das liberdades
fundamentais, que haja, um funcionário que seja, discriminado, quer pelas suas
ideias políticas ou pela sua ligação à gestão municipal anterior. Tratando-se
de um quadro superior da autarquia, pago pelo dinheiro dos contribuintes e
colocado num gheto ou num bunker, para nada fazer, a situação é ainda mais
vergonhosa. Não se trata, apenas - tal
como o têm denunciado estruturas sindicais -, de uma situação de assédio
profissional. O caso é mais sério e profundo. O que está em causa é a negação,
o impedimento de um profissional da autarquia de trabalhar e desenvolver
plenamente as suas capacidades e aptidões profissionais em prol do concelho e
dos seus munícipes. O que está em causa é a dignidade humana de uma pessoa,
funcionário municipal paga para trabalhar e não o contrário. E quem paga o
salário, mensalmente, deste trabalhador, deste técnico, não é a presidente da
Câmara, somos todos nós, cidadãos, que residimos no concelho de Nisa.
É
para mim inexplicável, perante o absurdo e a vergonha desta situação, que a
mesma se tenha mantido (e mantenha) desde há praticamente três anos, sem que os
órgãos do município (Câmara e Assembleia Municipal) tenham tomado qualquer
medida prática e de denúncia.
É
um silêncio cúmplice, aterrador. Estou à vontade para falar sobre o assunto.
Denunciei, no passado ainda recente, situações laborais idênticas e, lamento,
sinceramente, que a actual titular do cargo de presidente da Câmara não tenha
retirado das mesmas os indispensáveis ensinamentos, prosseguindo a mesma inviezada
e tortuosa política.
A
repressão e a discriminação não levam a lado nenhum. Não enobrece, antes
empobrece, moral e eticamente, quem a pratica. Já alguém escreveu que “a união
faz a força” e/ou que “vêem mais dez olhos do que quatro”, significando isto
que as diferentes sensibilidades políticas e ideológicas representadas no
município de Nisa, respeitando, naturalmente, as diferenças, unidas teriam mais
capacidade de elevar a gestão e dinamização do concelho a outros patamares.
Aliás, a relação de forças existente no município e em resultado das eleições
de 2013, a
isso aconselhariam. De outro modo, se o actual modelo de gestão se mantiver, se
o “eu” persisitir em ser mais forte que o “nós”, o concelho continuará a
regredir e a desaproveitar um momento fulcral de travar o despovoamento e a
desertificação.
A
convocatória da sessão de amanhã, refere num dos pontos a proposta de “Adesão
do Município à Rota Europeia do Queijo”. Tal proposta é, no mínimo,
surpreendente.
Como
explicar esta proposta, quem, ainda há pouco tempo – e sem o justificar de
forma clara – forçou a saída do Município de Nisa de uma Associação, a
Naturtejo, com todos os prejuízos que tal decisão acarreta?
Como
explicar esta proposta, quem, a nível do Alentejo, não tem passado qualquer
“cartão” a iniciativas emblemáticas como a Festa Ibérica da Olaria e do Barro
(Reguengos de Monsaraz) ou a Feira do Queijo do Alentejo (Serpa)? Não servimos
(não há dinheiro) para a Naturtejo e os eventos atrás mencionados e há para a
“Rota Europeia”?
Admitindo,
embora, que a proposta tenha razão de ser, o ideal, neste como noutros
assuntos, seria que todos os eleitos fossem envolvidos e até que se houvesse um
fórum, alargado, sobre os caminhos de futuro a trilhar pelo município.
Tenho
para mim, que mais tarde ou mais cedo – e a Naturtejo não afastou,
definitivamente, a integração de Nisa naquela associação – esta questão voltará
a colocar-se.
O
Município de Nisa não pode perder, com pretextos vagos, a participação na
Naturtejo e o valioso património que lhe está associado.
Há
caminhos que, colectivamente, vale a pena percorrer e a cooperação intermunicipal é um deles.
Mário
Mendes