Segundo o recente Decreto-Lei n.º
142/2008 um Monumento Natural corresponde a “ uma ocorrência natural contendo
um ou mais aspectos que, pela sua singularidade, raridade ou representatividade
em termos ecológicos, estéticos, científicos e culturais, exigem a sua
conservação e a manutenção da sua integridade” e a sua classificação “visa a
protecção dos valores naturais, nomeadamente ocorrências notáveis do património
geológico, na integridade das suas características e nas zonas imediatamente
circundantes”. Com a candidatura das Portas de Ródão a Monumento Natural
pretendeu-se alertar para o riquíssimo património geológico, geomorfológico,
mineiro, paleontológico, paisagístico, ecológico, arqueológico no sentido de o
proteger e valorizar. Esta longa caminhada, que reuniu as Câmaras Municipais de
Nisa e Velha Velha de Ródão, encabeçada pela Associação de Estudos do Alto
Tejo, foi iniciada em 2005, tendo sido reunidos especialistas de variadas áreas
que conduziram diversos estudos de recolha de informação e caracterização dos
valores de toda a área das Portas de Ródão. A integração das Portas de Ródão no
Geopark Naturtejo veio trazer ao local mais notoriedade e ao mesmo tempo maior
necessidade de protecção perante possíveis ameaças.
Segundo o Comunicado do Conselho
de Ministros de 26 de Março de 2009, “este notável conjunto natural, que
sobressai pela imponente garganta escavada pelo rio nas cristas quartzíticas da
serra do Perdigão, com um estrangulamento de 45 metros de largura,
caracteriza-se pela existência de um relevante património natural, de valores
geológicos, biológicos e paisagísticos, e por um importante património
cultural, constituído por sítios arqueológicos que documentam a presença humana
desde o Paleolítico Inferior, e por manifestações culturais de natureza
etnológica, resultantes de um modo de vida muito próprio de uma população
ribeirinha, que encontrou no rio Tejo o factor de contacto entre gentes e
regiões física e geograficamente afastadas”.
A singularidade das Portas de
Ródão
A beleza cénica desde geomonumento
tem sido unânime ao longo dos tempos, porém a sua singularidade caracteriza-se
por variadíssimos aspectos. Do ponto de vista geológico as Portas de Ródão
contam uma importante história dos últimos 600 milhões de anos marcados por
grandes episódios da história da vida na Terra, caracterizados pela presença
vários tipos de rochas, por inúmeras estruturas geomorfológicas, por fósseis,
culminando com eventos mais recentes relacionados com a exploração mineira dos
recursos naturais. Do ponto de vista biológico existem espécies vegetais de
grande interesse como o zimbro e aves nidificantes com elevado estatuto de
protecção, entre as quais Cegonha-preta, Águia-de-Bonelli, Abutre-do-Egipto,
Bufo-real, ou Grifo. Relativamente a elementos históricos destacam-se a
existência de monumentos e sítios classificados ou em vias de classificação
(Castelo de Ródão, capela da Srª do Castelo, Estação arqueológica da Foz do
Enxarrique, Conhal do Arneiro) e a presença humana no Paleolítico, Neolítico,
época romana, medieval e invasões peninsulares. Quanto às áreas de sensibilidade
ecológica existem escarpas quartzíticas e vales encaixados onde se desenvolvem
importantes azinhais.
Nos últimos 600 milhões de anos…
A história geológica das Portas de
Ródão nos últimos 600 milhões de anos está bem preservada nas rochas que nos
contam uma imensidão de acontecimentos. Na base desta história estão rochas que
foram outrora areias e argilas de um grande oceano que banhava a região. Esses
sedimentos foram-se consolidando e formaram rochas duras a que chamamos
genericamente xistos e grauvaques. Ao longo da formação destas rochas algumas
marcas de seres vivos ficaram preservadas, nomeadamente Cruziana, pistas de
alimentação de trilobites que terão aqui vivido há 480-450 milhões de anos.
Estas rochas que formaram o fundo do oceano foram erguidas então formando
grandes serras que alteraram profundamente a paisagem. Toda a história recente
das Portas de Ródão está relacionada com o rio Tejo e com formação do seu vale.
Este rio terá em tempos corrido acima do seu nível actual (cerca de 260 metros acima do
leito actual), procurando escavar o seu leito nas serranias quartzíticas, tendo
sido responsável pelo aplanamento dos topos das cristas quartzíticas tão
características no local. Durante os últimos 200 mil anos este território tem
sido palco de sucessivos povoamentos que deixaram vestígios, como por exemplo,
a mina de ouro romana do Conhal do Arneiro.
Em redor das Portas de Ródão
O Geopark Naturtejo tem
identificados 19 geossítios (locais de interesse geológico) na área das Portas
de Ródão, locais que porventura menos impressionantes, são igualmente
singulares na memória da história da Terra.
Destaque-se o Miradouro do Cabeço
da Achada onde o Tejo cruza a Serra das Talhadas, os Miradouros do Castelo de
Ródão e das Portas de Ródão, de onde se observam os relevos quartzíticos
cortados pelo Tejo e as estruturas relacionadas com a exploração mineira do
Conhal do Arneiro, também visível do Miradouro da Serrinha.
Note-se a “Ilha” da Fonte das
Virtudes cujas areias foram sendo exploradas o que fez com que, com a ajuda da
subida do nível das águas devido à Barragem do Fratel, este pedaço de terra se
tornasse uma ilha.
Quanto aos fósseis destaque-se o
corte de estrada junto à Ponte em
Vila Velha de Ródão que representa a importante Formação do
Quartzito Armoricano com fósseis muito representativos, três jazidas de
graptólitos, colónias de seres planctónicos, cuja espécie foi ali encontrada
pela primeira vez em Portugal e uma jazida de trilobites conhecida desde o
século XIX.
No que respeita exploração mineira
existe a Buraca da Faiopa que terá sido supostamente uma mina de ferro,
analisando os vestígios nas paredes da depressão e o Conhal do Arneiro onde se
terá explorado ouro.
Que actividades?
O Geopark Naturtejo desenvolve um
conjunto de actividades que englobam Programas Educativos, Workshops, Rotas
Turísticas e Comemorações de Datas nas Portas do Ródão. Os professores de todos
os níveis de ensino podem tirar partido da conteúdos relacionados com diversos
disciplinas, envolvendo gravuras rupestres, fauna e flora, geologia,
geomorfologia, paleontologia, recursos minerais. Estes programas, acompanhados
por técnicos especializados, têm como objectivo sensibilizar e educar para
temáticas geológicas e ambientais através do contacto directo no campo com a
Natureza. As Rotas Turísticas trazem muitos visitantes às Portas do Ródão, não
só pela paisagem, mas por todos os elementos que constituem este monumento
natural, de modo a que o número de visitantes tem crescido consideravelmente
todos os anos.
Que futuro?
Com a classificação das Portas do
Ródão como Monumento Natural, pertencente à Rede Nacional de Áreas Protegidas,
sob a tutela do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade vão
ser criadas novas regras para aquele local. Segundo a lei serão adoptadas
medidas compatíveis com os objectivos da sua classificação, nomeadamente a
limitação ou impedimento das formas de exploração ou ocupação susceptíveis de
alterar as suas características e a criação de oportunidades para a
investigação, educação e apreciação pública. Estas medidas que serão
estabelecidas pelo Decreto-Regulamentar em publicação e limitarão as
actividades naquele local, no que respeita recolhas de seres vivos ou rochas,
introdução de novas espécies, aproveitamento de águas, prática de desportos
organizados, construções e alterações da paisagem, com o objectivo de preservar
e dignificar o mais possível aquele Monumento Natural, numa óptica sustentável
de usufruto educativo e turístico.
Texto: Joana Rodrigues (2009)