13.8.16

Património que Nisa não pode desprezar: Monumento Natural das Portas de Ródão

Segundo o recente Decreto-Lei n.º 142/2008 um Monumento Natural corresponde a “ uma ocorrência natural contendo um ou mais aspectos que, pela sua singularidade, raridade ou representatividade em termos ecológicos, estéticos, científicos e culturais, exigem a sua conservação e a manutenção da sua integridade” e a sua classificação “visa a protecção dos valores naturais, nomeadamente ocorrências notáveis do património geológico, na integridade das suas características e nas zonas imediatamente circundantes”. Com a candidatura das Portas de Ródão a Monumento Natural pretendeu-se alertar para o riquíssimo património geológico, geomorfológico, mineiro, paleontológico, paisagístico, ecológico, arqueológico no sentido de o proteger e valorizar. Esta longa caminhada, que reuniu as Câmaras Municipais de Nisa e Velha Velha de Ródão, encabeçada pela Associação de Estudos do Alto Tejo, foi iniciada em 2005, tendo sido reunidos especialistas de variadas áreas que conduziram diversos estudos de recolha de informação e caracterização dos valores de toda a área das Portas de Ródão. A integração das Portas de Ródão no Geopark Naturtejo veio trazer ao local mais notoriedade e ao mesmo tempo maior necessidade de protecção perante possíveis ameaças. 
Segundo o Comunicado do Conselho de Ministros de 26 de Março de 2009, “este notável conjunto natural, que sobressai pela imponente garganta escavada pelo rio nas cristas quartzíticas da serra do Perdigão, com um estrangulamento de 45 metros de largura, caracteriza-se pela existência de um relevante património natural, de valores geológicos, biológicos e paisagísticos, e por um importante património cultural, constituído por sítios arqueológicos que documentam a presença humana desde o Paleolítico Inferior, e por manifestações culturais de natureza etnológica, resultantes de um modo de vida muito próprio de uma população ribeirinha, que encontrou no rio Tejo o factor de contacto entre gentes e regiões física e geograficamente afastadas”.
A singularidade das Portas de Ródão
A beleza cénica desde geomonumento tem sido unânime ao longo dos tempos, porém a sua singularidade caracteriza-se por variadíssimos aspectos. Do ponto de vista geológico as Portas de Ródão contam uma importante história dos últimos 600 milhões de anos marcados por grandes episódios da história da vida na Terra, caracterizados pela presença vários tipos de rochas, por inúmeras estruturas geomorfológicas, por fósseis, culminando com eventos mais recentes relacionados com a exploração mineira dos recursos naturais. Do ponto de vista biológico existem espécies vegetais de grande interesse como o zimbro e aves nidificantes com elevado estatuto de protecção, entre as quais Cegonha-preta, Águia-de-Bonelli, Abutre-do-Egipto, Bufo-real, ou Grifo. Relativamente a elementos históricos destacam-se a existência de monumentos e sítios classificados ou em vias de classificação (Castelo de Ródão, capela da Srª do Castelo, Estação arqueológica da Foz do Enxarrique, Conhal do Arneiro) e a presença humana no Paleolítico, Neolítico, época romana, medieval e invasões peninsulares. Quanto às áreas de sensibilidade ecológica existem escarpas quartzíticas e vales encaixados onde se desenvolvem importantes azinhais.
Nos últimos 600 milhões de anos…
A história geológica das Portas de Ródão nos últimos 600 milhões de anos está bem preservada nas rochas que nos contam uma imensidão de acontecimentos. Na base desta história estão rochas que foram outrora areias e argilas de um grande oceano que banhava a região. Esses sedimentos foram-se consolidando e formaram rochas duras a que chamamos genericamente xistos e grauvaques. Ao longo da formação destas rochas algumas marcas de seres vivos ficaram preservadas, nomeadamente Cruziana, pistas de alimentação de trilobites que terão aqui vivido há 480-450 milhões de anos. Estas rochas que formaram o fundo do oceano foram erguidas então formando grandes serras que alteraram profundamente a paisagem. Toda a história recente das Portas de Ródão está relacionada com o rio Tejo e com formação do seu vale. Este rio terá em tempos corrido acima do seu nível actual (cerca de 260 metros acima do leito actual), procurando escavar o seu leito nas serranias quartzíticas, tendo sido responsável pelo aplanamento dos topos das cristas quartzíticas tão características no local. Durante os últimos 200 mil anos este território tem sido palco de sucessivos povoamentos que deixaram vestígios, como por exemplo, a mina de ouro romana do Conhal do Arneiro.
Em redor das Portas de Ródão
O Geopark Naturtejo tem identificados 19 geossítios (locais de interesse geológico) na área das Portas de Ródão, locais que porventura menos impressionantes, são igualmente singulares na memória da história da Terra.
Destaque-se o Miradouro do Cabeço da Achada onde o Tejo cruza a Serra das Talhadas, os Miradouros do Castelo de Ródão e das Portas de Ródão, de onde se observam os relevos quartzíticos cortados pelo Tejo e as estruturas relacionadas com a exploração mineira do Conhal do Arneiro, também visível do Miradouro da Serrinha.
Note-se a “Ilha” da Fonte das Virtudes cujas areias foram sendo exploradas o que fez com que, com a ajuda da subida do nível das águas devido à Barragem do Fratel, este pedaço de terra se tornasse uma ilha.
Quanto aos fósseis destaque-se o corte de estrada junto à Ponte em Vila Velha de Ródão que representa a importante Formação do Quartzito Armoricano com fósseis muito representativos, três jazidas de graptólitos, colónias de seres planctónicos, cuja espécie foi ali encontrada pela primeira vez em Portugal e uma jazida de trilobites conhecida desde o século XIX.
No que respeita exploração mineira existe a Buraca da Faiopa que terá sido supostamente uma mina de ferro, analisando os vestígios nas paredes da depressão e o Conhal do Arneiro onde se terá explorado ouro.
Que actividades?
O Geopark Naturtejo desenvolve um conjunto de actividades que englobam Programas Educativos, Workshops, Rotas Turísticas e Comemorações de Datas nas Portas do Ródão. Os professores de todos os níveis de ensino podem tirar partido da conteúdos relacionados com diversos disciplinas, envolvendo gravuras rupestres, fauna e flora, geologia, geomorfologia, paleontologia, recursos minerais. Estes programas, acompanhados por técnicos especializados, têm como objectivo sensibilizar e educar para temáticas geológicas e ambientais através do contacto directo no campo com a Natureza. As Rotas Turísticas trazem muitos visitantes às Portas do Ródão, não só pela paisagem, mas por todos os elementos que constituem este monumento natural, de modo a que o número de visitantes tem crescido consideravelmente todos os anos.
Que futuro?
Com a classificação das Portas do Ródão como Monumento Natural, pertencente à Rede Nacional de Áreas Protegidas, sob a tutela do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade vão ser criadas novas regras para aquele local. Segundo a lei serão adoptadas medidas compatíveis com os objectivos da sua classificação, nomeadamente a limitação ou impedimento das formas de exploração ou ocupação susceptíveis de alterar as suas características e a criação de oportunidades para a investigação, educação e apreciação pública. Estas medidas que serão estabelecidas pelo Decreto-Regulamentar em publicação e limitarão as actividades naquele local, no que respeita recolhas de seres vivos ou rochas, introdução de novas espécies, aproveitamento de águas, prática de desportos organizados, construções e alterações da paisagem, com o objectivo de preservar e dignificar o mais possível aquele Monumento Natural, numa óptica sustentável de usufruto educativo e turístico.
Texto: Joana Rodrigues (2009)