Na China, tem início por estes dias, o ano 4712, um ano
associado ao cavalo de madeira, segundo os entendidos na matéria, o “cavalo é
um símbolo universal presente no inconsciente coletivo da humanidade e é
conhecido por ser um grande aliado do ser humano, um trabalhador incansável,
símbolo da força que quando bem direcionada pode nos levar muito longe”.
E, talvez agora, imbuídos neste espirito chinês, possamos
entender com mais exatidão, a indisfarçável euforia governamental, nomeadamente
da Ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, em relação às primeiras
estimativas do INE sobre a evolução da economia portuguesa no primeiro
trimestre do ano corrente. Tudo é uma maravilha, ao olhos de Maria Luís, até
pretende rever em alta o crescimento do PIB, apesar do Banco de Portugal
sugerir “cautela” na análise destes dados, que só são projeções dizem-nos. E os
números quando torturados dizem aquilo que queremos ouvir, principalmente antes
de eleições!
E enquanto o mundo festeja a passagem do ano no oriente –
este ano sem fogo-de-artifício (por motivos de saúde- diz o governo chinês),
nós por cá, nesta ocidental praia lusitana, aqui sim por motivos de saúde
mental, com a comunicação social a encher-nos a cabeça com “lixo noticioso”,
com uma discussão nacional sobre praxes académicas, e com as últimas notícias
sobre transferências de “jogadores da bola”, entre outros temas muito
importantes para o nosso futuro coletivo, certamente!
Temas, deveras importantes, com agenda própria na
comunidade, como o aumento das desigualdades económicas no mundo,
principalmente em países como Portugal, tal como é descrito no relatório
"Governar para as elites: sequestro democrático e desigualdade
económica" da organização não-governamental, com sede no Reino Unido –
OXFAM, no passado dia 20 de Janeiro, afigurando-se como um importante risco
para o progresso humano.
Mas como é que podem estar assim tão eufóricos com dados tão
pouco sustentáveis sobre a economia nacional, quando sabemos que metade da
riqueza mundial é atualmente detida por 1% da população, e em Portugal mais do
que duplicaram os rendimentos nacionais dos mais ricos, em tempos de crise, o
que só vem provar, mais uma vez, que a austeridade quando nasce não é para
todos. Mas estamos no caminho certo! Mas como? Quando as desigualdades aumentam
desta forma dramática.
Mais, alerta que “este aumento das desigualdades deve-se em
grande parte à desregulamentação financeira, aos sistemas fiscais e às regras
que facilitam a evasão fiscal”. Mas isso não importa referir, porque os
mercados podem ficar nervosos.
Ainda segundo o “Relatório de Ultra Riqueza no Mundo 2013” existiam em Portugal
870 pessoas multimilionárias (+10,8%) com fortunas superiores a 25 milhões de
euros cada, totalizando um montante de mais de 100 mil milhões de euros. E aqui
o governo, decidiu distribuir benefícios fiscais a estas pequenas fortunas,
coisa para pobres, sem importância, só para aumentar a clivagem entre os mais
ricos e os mais pobres. Foram benefícios de vários milhões, como por exemplo o
que foi dado à Sociedade Francisco Manuel dos Santos SGPS (Pingo Doce), a
empresa privada que mais recebeu de benefícios fiscais no ano fiscal de 2012,
com 79,9 milhões de euros.
Depois de 2013 – ano da Serpente, com muitos sacrifícios
impostos à maioria dos portugueses que vivem ou viveram do seu trabalho
(pensionistas, desempregados e funcionários públicos), esperemos que este
“cavalo de madeira” venha trazer em 2014 a tão prometida transformação,
principalmente no campo das ideias políticas, que tanta falta faz, neste
Portugal cada vez mais injusto e mais desigual. Para mal dos nossos pecados,
vivemos num país “inconseguido”, como diria a Presidente da Assembleia da
República, Assunção Esteves.
JOSÉ LEANDRO LOPES SEMEDO