(Ensaio de uma crónica com morte não anunciada mas
previsível)
Não sei da justeza da ação e muito menos sei dos contornos
legais, não sendo jurista, gostava que alguém da área se pronunciasse pois
tanto julgo saber, desde os tempos de D. Maria que o monopólio dos jogos de
fortuna e azar está entregue à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, para pagar
as suas obras caritativas. Processo a ser analisado pelo excelso doutor Relvas,
master em direito sobre jogos de fortuna ou azar. O azar que nós temos...
Ao promover a venda de rifas e sorteios com prémio julgo que
o governo está a fazer concorrência desleal à SCML, mas isso sou eu a pensar.
Com este comportamento, o governo iguala o comportamento de
qualquer direção do mais comum dos clubes desportivos de uma qualquer aldeia
recôndita do interior do país que perante a necessidade de adquirirem umas
chuteiras novas para o clube, patrocinam uma rifa e sorteiam um porco, um
borrego ou uma vaca, vacas agora, não, que os tempos estão delas magras.
Como as vacas (ou os bois, mas esses costumam ir à frente da
carroça) estão magras, o governo sorteia bólides de alta cilindrada. Azar o meu
se me calhar, pois não tenho dinheiro para o suportar.
Mas acho muito bem esta iniciativa, acho mesmo que o
governo, à míngua do que fazer, podia mesmo dedicar-se à promoção de eventos
populares.
Deixo aqui duas ou três sugestões que podem fazer furor e
toda a diferença em próximos escrutínios eleitorais.
Talvez já vá tarde, mas é portuguesa a arte do
desenrascanço, que tal o governo organizar em Lisboa, capital do ex-império mas
sem tradição na matéria, tradição que anda mais para Ovar, Mealhada, Sines ou Madeira, organizar, dizia eu, um majestático corso carnavalesco em Lisboa?
Logo de seguida e ganha a embalagem, também podia organizar,
nos claustros da assembleia, o baile da Pinha, ou Pinhata, tradição pascoal.
Lá para o pino do verão, em meados de agosto, podia
organizar uma festa popular, daquelas onde vem os emigrantes todos, que agora
voltaram a ser bastantes, com toiradas à vara larga, para não ferir os amigos
dos animais, no Campo Pequeno, bandas filarmónicas a desfilarem pelas avenidas,
novas e velhas, com serões abrilhantados por conjuntos de baile e pela meia
noite a atuação de artistas populares, por exemplo, o Quim Barreiros, o Tony Carreira e o Emanuel.
As senhoras de São Vicente de palma fariam ótimos brindes
para a quermesse, as senhoras do governo fariam as rifas que seriam vendidas no
bazar por um Paulo Portas trajado de varina.
Para o povo digerir tudo isto, um bufete com minis,
sardinhada, febras e entremeada, torresmos e açorda.
Bora lá, todos à festança, na qual, como costume, nem
faltará a dona Constança (a Cunha e Sá, não sei, parece muito elitista).
Mas antes da abastança das rifas e dos carros que aí vem, lá
diz o povo na sua eterna sabedoria "cautelas (lá está) e caldos de
galinha, nunca fizeram mal a ninguém"
Jaime Crespo