Aquando das eleições legislativas, antecipadas, de 7 de
junho último, muito se falou da queda abruta do Bloco de Esquerda, metade da
votação e metade da representação parlamentar, não é brincadeira.
Uns, a minoria, pediu uma convenção extraordinária para
debater o assunto, os outros, a maioria, que não, não se justificavam duas
convenções tão próximas apenas (!!!) devido aos resultados eleitorais, dos
quais o Bloco nem seria responsável, pois verificara-se uma viragem do
eleitorado à direita e os responsáveis por isso eram Sócrates e o PS.
E contrapuseram a uma nova convenção, um debate democrático
e alargado interno e externo (para os independentes).
Uma coisa que nunca percebi no Bloco foi esta adoção de uma
nomenclatura (convenção, mesa,…), remetendo o nosso imaginário para a Revolução Francesa, uma revolução burguesa, ou mais requintadamente para a maçonaria ou
carbonária. Nestes tempos em que para muitos a utilização das palavras é feita
por uma questão de interesse e não de significado, o estudo de um bom
dicionário faz muita falta, e da história também.
No entanto, passados todos estes meses, urge perguntar por
onde andam esses debates abertos e alargados que ainda ninguém os viu.
Tirando uma secção no jornal on-line esquerda.net chamada de
“debate aberto”, para onde militantes e não militantes podem enviar as suas
opiniões e estas são por lá publicadas, esta iniciativa está a léguas de
constituir o proclamado debate amplo, aberto, livre entre todos, porque o que
se passa naquela secção é mais como a “travessa do fala só” em que cada qual
descarrega a sua opinião e por vezes dissensões pessoais mas debate é coisa que
não existe, quando muito há meia dúzia de opiniões que contam com meia dúzia de
comentários.
Debate aberto? Ora…
O Bloco de Esquerda implantou-se muito rapidamente,
essencialmente em zonas urbanas e entre a juventude que não se revia nos velhos
partidos da esquerda pelas suas ideias inovadoras e pela sua forma clara,
aberta, simples e verdadeira de fazer política. Quem ouvia um militante ou um
dirigente do Bloco falar, sabia que era com aquilo que podia contar e não o seu
contrário.
A partir do momento em que o Bloco começou a entrar em
jogadas políticas, ter agendas escondidas, dizer uma coisa para fazer outra,
não se conseguiu nem impor no mundo do trabalho nem teve a ousadia de criar uma
força sindical oposta ao PCP, não encontrou capacidade mobilizadora para
protestos de rua indo a reboque da CGTP ou do PCP, não ultrapassou o complexo PCP, como partido dominador e controleiro da esquerda, não se conseguiu afirmar
como alternativa democrática e revolucionária ao estalinismo burguês instalado
no PCP e na esquerda, antes lhes tomou os vícios, apenas usando umas vestes
mais modernas, o Bloco condenou-se a representar apenas os movimentos que lhe
deram origem e a estabelecer-se nos agora 8% mas com tendência a descer e a
desaparecer. Isto se quiserem continuar a insistir nos debates do fala só.
A esquerda não precisa de uma réplica do PCP mais modernaça,
bem vestida e mediática.
Um PCP da linha de Cascais pode ter o seu minuto de fama mas
será facilmente descartável.
Um Bloco que apresente novas maneiras de fazer política, uma
política ligada e centrada nas pessoas, que tenha a coragem de promover
verdadeiros debates, francos, abertos, de olhos nos olhos, esse bloco pode ter
futuro.
Mas já será um futuro do qual não participarei, por opção.
Jaime Crespo