A RUA DO OUTEIRO *
Linda Rua do Outeiro
onde temos tanta esquina,
tens muito que apreciar,
desde baixo até acima.
Lá tens uma linda igreja,
a do Espírito Santo;
casa de Nosso Senhor,
esta igreja é um encanto.
Lá tens um lindo jardim,
dois bancos de cantaria
que esperam quem vai e vem
com tristeza e alegria.
E tens árvores bem lindas,
a modo de esplanada;
no Outeiro tudo brilha,
mesmo as pedras da calçada.
Tens uma mestra também
que ensina a trabalhar,
tudo em bela perfeição,
costura, malhas, bordar.
Tens prédios de alta classe
e outras casas mais pobres,
mas todos ali se estimam,
sejam do povo ou dos nobres.
Também tens um bom Café,
para todo o paladar,
que está de manhã à noite
o freguês a esperar.
Param lá camionetas,
todo o dia, num vai-vem;
muita gente parte e volta,
o Outeiro tudo tem.
Vem gente de toda a classe,
vem alegria e tristeza;
esta rua tudo vale,
pois tem graça e firmeza.
Quando à hora da chegada,
muita gente vai esperar,
para verem os que vão,
e os que estão a
chegar.
Em tempos, tinhas um forno,
onde se cozia o pão,
mas já acabou há anos,
e é hoje uma Pensão.
Tens uma loja antiga,
já mais velha do que eu;
onde tanta coisa boa
se comprou e se vendeu.
Lá tens uma padaria,
com bom pão para comer;
também tens a mercearia
com muita coisa a vender.
Também tens um armazém
que compra milho e feijão;
vende lá boa hortaliça,
fornece azeite à nação.
Tem ainda uma outra casa,
que p´ra homem vende artigos,
para todas as idades,
em modelos bem bonitos.
Tens um comércio de classe
com tudo o que se procura;
tudo agrada e tem bom gosto,
lindas montras de ventura.
Com agrado, ali recebem,
toda a grande freguesia,
tratam bem os que lá vão,
com a maior cortesia.
Lá tem os seus empregados,
que aviam com atenção:
“Diga lá, senhor freguês,
que nos vai comprar, então?”
Tens uma Papelaria,
numa casa antiguinha;
ali nada mete vista,
porque a casa é pequenina.
Mas em breve estreará
nova casa (que alegria!);
Deus queira que em boa hora
se abra a Papelaria.
Irá ficar bem bonita,
e lindas montras vai ter.
Esta rua do Outeiro
mais terá inda que ver.
Linda rua do Outeiro,
no seu Largo vai parar;
que passa nesta rua,
tem muito que apreciar.
Linda rua do Outeiro,
onde passa a mocidade;
Outeiro dos paralelos,
és bonita de verdade!
Maria Pinto
* Rua do Outeiro ou do Espírito Santo, actualmente Rua Júlio Basso
A FONTE DO FREIXO
A água da Fonte do Freixo
é bem boa ouvi dizer.
E quem padece do fígado
deve esta água beber.
Se para curar o fígado
esta água tem virtude,
quem beber, continuando,
alcançará a saúde.
É boa para lavar,
faz a roupa tão branquinha!
Até dá gosto lavar
roupa naquela fontinha.
Não necessita de “Omo”,
a roupa fica branquinha.
Faz-se lhe uma barrela;
até escalda a pulguinha.
Chega a haver vinte mulheres,
naquele tanque a lavar.
Muitas até vão de noite,
pró pé da bica ficar.
A água às vezes parece
um caldinho de feijão,
mas faz a roupa branquinha
e gasta pouco sabão.
Depois de todas lavarem,
vão fazer o jantarinho:
batatas com hortelã
farinheiras e toucinho.
Ali se sentam, à sombra,
o bom jantar a comer;
depois da barriga cheia,
água fresca vão beber.
Depois vão colher a roupa,
P´ra dentro do canastrão,
Vêm todas satisfeitas,
De caldeirinho na mão.
Às vezes também se zangam,
É preciso o pé ligeiro
Algumas pensam ser donas,
Querem o lugar primeiro.
Todas estas lavadeiras,
Tiveram um bom pensar:
Deram todas uns escudos,
Para o tanque se limpar.
Estava o tanque entupido,
Todo cheio de lucharia.
Foram três homens limpá-lo,
Lá andaram todo o dia.
Houve algumas que ajudaram,
Aquele tanque a assear;
Agora até mete gosto,
Estar no tanque a lavar.
Canta-se uma cantiga,
Não custa o dia a passar.
Às vezes deixam a roupa
E vão-se pôr a dançar.
Ó boa Fonte do Freixo
Para nós és logradouro.
Bate, bate, lavadeira
A roupa no lavadouro.
Tanta gente a esta fonte
Agora vai lá beber.
Deita fama a tua água
Todos a querem trazer.
Eu não sei se é verdade
O valor que água tem.
Quem beber continuado
Começa a sentir-se bem.
Bela fonte, não sabia,
Que tinhas tal valimento,
Deus queira que a tua água
Cure todo o sofrimento.
Vá tudo à Fonte do Freixo
Encher o seu garrafão;
E bebem uma pinguinha,
À hora da refeição.
Maria Pinto