23.2.14

TRADIÇÃO ORAL: As Alcunhas de Nisa (8)

Se o Padre Santo soubera,
O gostinho que tem o fado;
Iria buscar a Severa,
Pr´a ter uma hora, a seu lado.

Foi um Fadista de fama,
Que o diga a fidalguia;
Por essas vielas de Alfama,
Bairro Alto e Mouraria.

A Mª de Traz meteu na caixa
O Serol que s´agarra ao dente;
Achou-lh´a Cepa-Barácha,
Viu-se parvo com ell´o Pé Quente.

Queixou-se em seguida o Conixa,
N´uma manhã de Marzia;
Armou o Má-Tripa tal rixa,
Só morreu quem mal não fazia.

Apanhou o Guitas do Coco,
Ficou-se rindo o Pão de Milho;
Ficou cheio de sangue o Barroco,
Viu-se o Pinga-Fresca n´um sarilho.

Entrou na rixa um Dentana,
Que gostava de Papas-Quentes;
Só foi pr ó hospital o Fatana,
Ficaram, os mais, todos doentes.

Com Mau Tempo veiu o Latão,
Que fugiu ao ouvir uma bomba;
Se não lhe acode o Calhabamba,
Que seria do Baíca e do Zangão!

O Esdruba que não é de ferro,
E o Pichinha que não é guloso,
Foram depois dar parte ao Chinferro,
Que passa por ser Mentiroso.

Baila o meigo cordeirinho,
De sua mãe já apartado;
Vae ser feito d´ afogadinho,
Ou morrerá, no forno, assado.

Com 7 Serrilhas no queixo,
Andam bestas pr´ahi aos coices;
Jogam os miúdos ao eixo,
Ceifa-se o Restolho com foices.

Quem será um Leopardo,
De quem tomei também nota?
Querem ver que é um Janota,
Que usa sempre um fato pardo?

E quem vem a ser um Torrinha,
Que tem Olho de Goraz?
E uma que Contas-Faz,
Ou antes, já as fez, coitada?

Ouvem-se de noite uns urros,
Que parecem ser de Toura;
Não há éguas filhas de burros,
Criam-se os coelhos na loura.

Tenho os miolos em água feitos,
Não tenho de Ferro à Cabeça;
Mas ainda que não pareça,
Ando illudido com certos sujeitos.

Chorae, pois, fadistas, chorae,
Que chorando, se alivia, às vezes;
Lembrae-vos que sois Portugueses,
E tudo que passou já lá vae.

Já passa de 300 e tal,
O numero dos vossos alcunhas;
Lá vão mais dois: o Gadunhas,
Sobrinho do Vertical.