Sou assim, um sentimental inveterado. Dois dias de chuva
continuada bastaram para trazer o saudosismo de volta à minha memória. E
recordo-me dos amigos que fiz em Portalegre nos tempos de estudante. Da escola
de São Lourenço, do liceu, do magistério... dos cafés Facha, Central, Alentejano
e Tarro, alguns ainda do Plátano. Da tasca Marchão, Escondidinho, do David, Painel
e outros dos quais já o nome me não vem à lembrança.
Dos amigos vem-me um esboço, por vezes já esbatido, de
adolescentes primaveris de 15, 16, 17, 18, anos, já não tenho nomes para os
rostos nem rostos para nomes. É o pagamento em memória que a vida nos cobra.
Juntos descobríamos a bebida, a droga, o amor, o sexo, a
vida...
Felizmente, todos se fizeram homens e mulheres cada qual,
como convém, à sua maneira...
Só eu, apenas eu, continuo o mesmo adolescente imberbe e
impuro, incerto, volátil, deficiente no seu não crescimento.
Jaime Crespo