Por ser verdade, me assumo e divulgo:
Sei que não sou uma pessoa fácil, mas também estou longe de
ser homem de trato complicado. As complicações tenho-as na cabeça, na ordem das
ideias.
Confesso que politicamente tenho uma posição difícil de
defender e de me movimentar. Estou assim só,
só de uma banda só. Num caminho solitário mas apesar de tudo, também
solidário.
Andei entre o trotskismo da IV Internacional e o
anarcossindicalismo da CNT.
Do trotskismo separa-me a questão do partido único, a
ditadura do proletariado; dos anarquistas, a organização social.
Dos primeiros penso que o partido único conduzirá
inevitavelmente a uma ditadura totalitária; dos segundos, a falta de uma
estrutura social forte, chame-se estado ou outra coisa qualquer, levará
inevitavelmente ao domínio dos mais fortes sobre os mais fracos.
De qualquer modo, de ambas as correntes me afastei porque
enchem a boca de liberdade e direitos dos trabalhadores mas escudados no seu
umbigo nada mais vêm que obter uma réstia de poder efémera.
São duas lições que retirei da história.
Entre estas nuvens duvidosas do pensamento e a falta de
certezas que completassem o puzzle das minhas dúvidas, surgiu-me no horizonte o Bloco de Esquerda como uma organização política aparentemente afetada pelas
mesmas dúvidas que eu e inflamada de uma modernidade que aparentava quebrar o
gelo político que divide as chamadas esquerdas e empurrar para o devido lugar,
as páginas da história a velha e novas direitas.
Entre as minhas contradições, aderi ao Bloco, saí por dá cá
aquela palha, readeri, voltei a sair e voltei a pedir a adesão...
Reconheço-lhes todo o direito a dizerem-me "eh pá, vai
tratar-te para outro lado, ao psiquiatra, por exemplo, e depois volta a falar
connosco".
Responderia como Vasco Santana: "compreendido!"
Esperei o tempo suficiente por uma justificação, ou antes
por um simples aviso da decisão de recusarem o meu pedido.
Nem decisão, nem justificação, apenas a cobardia do
silêncio. Soube da decisão por intermédio de terceiros.
Estive para calar, mas como os políticos e suas organizações
medram na medida em que nós vamos consentindo todos os atropelos, todas as
cobardias, todos os silêncios... tenho que vir declarar que o Bloco de Esquerda
por detrás de toda a fachada de modernidade, não passa de mais uma organização
política igual a todas as outras, quer apropriar-se das nossas consciências,
convive mal com a divergência e muito bem com aqueles que apesar de medíocres
seguem a voz do dono.
E assim, o país vai de carreirinho...
Jaime Crespo