Este ano a popularidade da nossa árvore do Rossio [1] deixou-nos a todos orgulhosos, assim como, muitos feitos notáveis por parte de verdadeiros lutadores desta bonita terra, que, também nos deixam de coração cheio. Não nos faltam motivos para gostar de Portalegre, mas também não nos faltam argumentos para lamentar o estado a que chegámos.
A nossa condição de envelhecimento, desertificação e a pobre realidade económica, não é de agora e os vários apelos para o poder central olhar pelo Alto Alentejo, caíram sempre num poço de promessas. Enquanto por cá assistimos à desunião entre pessoas, autarcas e outras forças, aqueles que tentaram mexer com o poder parlamentar, esbarraram no muro da indiferença.
A avaliar pelo recente anúncio no melhoramento de estradas no interior, 500 milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência para novas estradas em Portugal, queremos acreditar e até exigir, que é desta que vai ser concluído o IC13 e feito o melhoramento do IP2; adiamentos, ou “esquecimentos” que muito têm prejudicado esta região ao longo dos tempos. Já agora e porque não uma ligação decente entre Portalegre e Elvas e entre Portalegre e a A23, sem passarmos na ponte da barragem do Fratel?
A barragem do Pisão, continua mais uma vez dependente de novos estudos para se saber se é viável, enquanto baloiça na corda bamba de financiamentos incertos; a ferrovia que vai ser melhorada na ligação de Évora a Caia, mas sem garantias para o abandonado Alto Alentejo.
O Programa Nacional para a Coesão Territorial, não pode ser um documento de 144 páginas; tem de ser um programa efetivo e para levar a sério. Por exemplo, lermos na página 37 que o Centro de Formação de Portalegre/Escola da Guarda Nacional Republicana apresenta um incumprimento na calendarização para 2017/2018. Sabermos que estamos em 2021 e que não se dá o pontapé de partida, dá origem a que se comente que estamos perante tacticismo eleitoral, ou manobras de entretimento…
Um programa a sério e corajoso, começava por deslocalizar serviços públicos como o ensino superior para o interior; apostar na ferrovia, ligando todo o interior, com ligações à vizinha Espanha, incentivar a fixação de empresas e investir no património histórico, cultural e gastronómico do interior, tendo em vista o turismo.
Pensar que a mudança de executivos camarários vai resolver os nossos problemas é não ver um palmo de terra à frente. É verdade que precisamos de bons autarcas, com boas e sustentáveis políticas e essas escolhas têm de ser feitas. Em Portalegre até a requalificação de um tribunal é um exemplo do que aqui temos – lento, muito lento e parado. E aqui as escolhas no plano autárquico nada contam.
Enquanto o centralismo instalado não permitir uma regionalização a sério, as nossas escolhas estão sempre condicionadas. Ou alguém está à espera que um autarca consiga a tão desejada ampliação do Hospital Dr. José Maria Grande em Portalegre e acabar com as macas nos corredores?
Estamos em ano de eleições autárquicas e o mínimo que se pede, são propostas sérias. Apostar nas pessoas, no património, na arte e na cultura não depende do poder central, mas, também é preciso enfrentá-lo sem medo e exigir uma reparação por décadas de abandono. Por vários governos, PS e PSD/CDS fomos ignorados pela simples razão de que só elegemos dois deputados. Da nossa parte, também há culpa, porque já devíamos ter marchado todos juntos, gentes da gente de todos os partidos, sem partidos, rumo a Lisboa e mostrar ao mundo que aqui, também vive gente.
Um pouco por todo o país com câmaras de várias cores políticas e independentes, percebemos duas coisas no poder autárquico: Está dependente da economia local e do poder central. Pelo país fora assistimos a casos que nada dignificam este exercício fundamental do poder local. É preciso escolher, mas é preciso acreditar em projetos.
Nesta nossa tendência para o fatalismo e para realçar os pontos negativos, podemos dizer que Portalegre não é a Palestina, mas não está muito longe disso; desprezados, esquecidos e atacados… somos atacados em tempo de eleições com promessas, somos esquecidos quando os nossos pedidos ficam na gaveta e desprezados quando pedimos ajuda. Mas, também não somos palestinianos, porque ainda não lutamos pela nossa terra.
Paulo Cardoso - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre - 21-05-20211] https://www.publico.pt/2020/11/26/ciencia/noticia/arvore-portuguesa-2021-imponente-platano-rossio-portalegre-1940729