“Há um ano atrás a Saúde estava pior do que está agora.” A afirmação é de Luís Montenegro, que acrescentou que atualmente “espera-se menos tempo para ter uma consulta e para ter uma cirurgia”. É irónico que o primeiro-ministro faça essa avaliação após uma semana em que três grávidas deram à luz em ambulâncias e quando falhou na promessa de reduzir o número de doentes sem médico de família e a espera para cirurgia.No domingo, um bebé nasceu na ambulância dos Bombeiros do Seixal antes de a mãe chegar ao Hospital de S. Francisco Xavier. Na terça-feira, uma mulher teve o filho numa viatura dos bombeiros em Alvalade do Sado, à porta do centro de saúde. Na quinta-feira, os bombeiros do Seixal voltaram a assistir uma grávida, que teve o filho dentro da ambulância enquanto aguardava referenciação. A estes casos soma-se o de outra parturiente que viu o filho nascer num corredor do hospital do Barreiro. No último ano, pelo menos cinco dezenas de bebés nasceram em ambulâncias, sem acesso a cuidados especializados, porque os serviços de obstetrícia estão encerrados e não raras vezes a referenciação falha e ninguém sabe para onde encaminhar uma mulher em trabalho de parto. Mas não é só a saúde materno-infantil que está a falhar. De fevereiro para março, mais 28 500 pessoas não tinham médico de família atribuído. No total, são 1 593 802 – um milhão e meio, um número recorde. O ano de 2024 terminou com mais de 1200 doentes oncológicos à espera de cirurgia para lá do tempo de resposta aceitável e 17 mil intervenções não oncológicas por agendar. Recorde-se que o Governo tinha prometido que, até ao fim do ano, estariam marcadas todas as cirurgias cujos tempos de resposta estivessem ultrapassados.
É verdade que Montenegro não está sozinho no
falhanço. Antes dele, já Costa tinha gorado o compromisso de reduzir os doentes
a descoberto. Mas dizer que a Saúde está melhor é insultar todos aqueles a quem
o SNS continua a falhar.
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Helena
Norte – Jornal de Notícias - 28 abril, 2025