12.5.25

OPINIÃO: Manu era um dos bons

 

Manuel Gonçalves, Manu para os amigos e agora para o todo o país, tinha 19 anos e o sonho de ser polícia. Foi assassinado com várias facadas, à porta do Bar Académico, em Braga, faz hoje um mês. Manu não era um rufia, não terá provocado ninguém, não estaria à procura de problemas, mas acabou morto porque enfrentou um criminoso que se preparava para adulterar a bebida de uma rapariga com uma substância conhecida como “Boa-noite Cinderela”, usada para incapacitar e violar meninas e mulheres.

Depois de os pais de Manu terem pedido ao Ministério Público a abertura de inquérito para apuramento de eventuais responsabilidades criminais da Associação Académica da Universidade do Minho, a quem pertence o bar que estava concessionado, do gestor e de um segurança do espaço, é agora a vez da família da jovem avançar com uma ação contra o suspeito da tentativa de viciação da bebida e os responsáveis do bar.

Este trágico episódio deixa-nos duas importantes reflexões. A primeira é um alerta para os perigos que se escondem numa saudável noite de copos: a aparente facilidade com que se recorre a drogas que deixam as vítimas, mulheres principalmente, vulneráveis a crimes como violação e roubo. A segunda é uma nota de esperança. Vivemos num mundo extremado pelo individualismo em que a competição derrubou a cooperação e o oportunismo venceu a empatia. Num tempo em que as redes sociais são palco fácil para vedetismos tão instantâneos quanto fúteis. Estamos todos, enquanto sociedade, mais egoístas. Mas ainda há quem arrisque defender a pessoa do lado. Quem ouse levantar a voz para denunciar uma injustiça. Quem não tenha medo de fazer o que está certo. Manu morreu a defender uma colega de uma possível violação. Era um dos bons. Não estivesse a palavra gasta pelo mau uso, diria que um verdadeiro herói.

Helena Norte – Jornal de Notícias - 12 maio, 2025