30.5.25

OPINIÃO: O novo caudilho e os génios do PS


Confirma-se o que se antecipava. No sistema político-partidário português haverá um antes e um depois do 18 de maio de 2025. Não se trata apenas de ter terminado o bipartidarismo e passarmos a um cenário tripartido. Desde esta quarta-feira, com a contagem dos votos da emigração, o Chega, um partido da direita radical populista (a designação dos cientistas políticos) ou de extrema-direita (a definição das pessoas comuns), passa a ser o principal partido de Oposição, algo nunca visto na democracia portuguesa e que, na verdade, ninguém previa.

Recordemos que, há seis anos, valia uns escassos 68 mil votos (1,3%) e que o único deputado era André Ventura. Hoje são um milhão e quatrocentos mil os que votam num caudilho que afirma na televisão, com ar compungido, que corre o risco de ser assassinado por ciganos e que, quando sofreu o célebre refluxo esofágico, julgava ter sido envenenado. São tantos quantos os que confiaram o seu voto ao PS, um dos partidos fundadores da nossa democracia liberal, o de Mário Soares, de Jorge Sampaio ou António Guterres.

A explicação não reside apenas no crescimento do Chega. O novo mantra do comentário político televisivo reduz o que aconteceu à inevitabilidade, ou seja, repetiu-se por aqui um fenómeno europeu. Como se os povos fossem todos iguais e como se os partidos de extrema-direita fossem o primeiro ou segundo maior partido por toda a Europa. É falso. O sistema partidário alterou-se também porque o PS teve o seu pior resultado em quase quatro décadas. Esteve oito anos consecutivos no poder, e, na parte final, com maioria absoluta.

Se corre o sério risco de se tornar irrelevante (por optar por uma Oposição inconsequente, ou por se transformar em mera muleta do PSD), foram os seus dirigentes que o trouxeram até ao abismo. Todos eles, incluindo José Luís Carneiro, vencedor antecipado das eleições internas, por falta de comparência dos restantes génios do PS. Todas as principais figuras socialistas forjaram os seus percursos políticos durante a última década. Têm tanta responsabilidade na derrocada do seu partido quanto Pedro Nuno Santos. Mesmo que nenhum deles tenha alguma vez decidido uma indemnização milionária por WhatsApp.

Rafael Barbosa - 29 maio, 2025