O fenómeno dos extremismos é global e será preciso analisar tendências
transversais. Desde logo o imediatismo e a estupidificação nas redes, a
desinformação e a forma como estamos a ser empurrados para bolhas que estreitam
a nossa perspetiva do mundo. O individualismo tem horror à diferença e à
alteridade. O insulto, a agressividade e o ódio têm vindo a ser normalizados e
assistimos até a uma certa dessensibilização coletiva, evidente na forma como
lidamos com Gaza, com a não-vida das mulheres no Afeganistão ou com a violência
no Sudão.
Temos de olhar para o que está a partir-nos, porque a extrema-direita
capitaliza a divisão e não conseguimos combater o que não compreendemos. A
política assenta no princípio da equidade e a sua missão é permitir que cada
pessoa tenha direito a ser inteira. Está obrigada a ir à raiz social do
problema e perceber o fascínio por projetos que dividem e segregam.
Este não é um combate que opõe esquerda a direita e polarizar só nos
enfraquece. É um combate civilizacional, de todos os democratas para quem a
diversidade, a liberdade e a coesão social não são meras palavras. Não se
responde à gritaria com mais gritos, rótulos ou preconceitos, mas com firmeza,
ideias e valores. A democracia que permite espaço ao que a corrói é a mesma que
tem de derrubar o ódio e a ação antidemocrática.
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Inês Cardoso – Jornal de Notícias - 21 maio,
2025