12.5.25

OPINIÃO: Fumos negros que ensombram o mundo

 


Entre as comemorações do 25 de Abril e o 1.º de Maio passámos por um apagão elétrico que assustou muita gente e infelizmente causou uma vítima mortal. Mas o 25 de Abril não foi apagado, apesar do momento de consternação pela morte do Papa Francisco. Mas foi vergonhosa a tentativa de a extrema-direita boicotar a tradicional e pacífica festa que se realiza todos os anos pela Av. da Liberdade. Esta gente é violenta, verbalmente ofensiva e não tiveram qualquer intenção de se manifestarem, mas sim, de criar conflitos.

O 25 de Abril continua por cumprir e os ataques aos seus valores intensificam-se com o Iniciativa Liberal e o Chega a atacarem direitos fundamentais sustentados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. E a reboque, PSD e CDS já entram nessa deriva.

Quanto ao apagão, o mais grave foi o apagão na reação do governo que reuniu, mas não atuou; já entidades como forças de segurança, bombeiros incluídos, profissionais de saúde, autarquias e técnicos que restabeleceram a energia, merecem um bem-haja. Se muitas pessoas tiveram discernimento para manter a calma, outras agiram como se fosse um cenário de guerra, mas isto, também se deveu a declarações irresponsáveis e à falta de respostas.

O 1.º de Maio celebra-se na rua; não foi o da campanha com Tony Carreira num ambiente que devia ser aberto a todos, mas que foi limitado. Se festejamos as conquistas dos trabalhadores, também sabemos que há muito por fazer, quando despedimentos e insolvências manhosas são permitidas; quando as mulheres são penalizadas em relação aos homens e quando os jovens enfrentam um mercado de trabalho assente na precariedade.

E quem sustenta estas políticas? Vão desde o PS à extrema-direita. Por isso, são necessárias forças e políticas que defendam as pessoas e não as grandes negociatas. Não me refiro aos negócios de Montenegro, afinal são ou eram para gerir os bens de família e rechear contas bancárias que tentou esconder; mas partimos do princípio que já não tem mais nada para esconder, pois foi obrigado, à força a declarar a carteira de clientes pendurados do Estado.

Cavaco Silva foi a pessoa mais “correta” para afiançar a ética de Montenegro; afinal, destruiu a economia, enganou quando afiançou que o BES estava sólido; deu pensões a dois PIDES que negou a Salgueiro Maia e ignorou o Nobel de Saramago… A lista de anormalidades é grande e foi neste senhor que muitos portugueses apostaram em maiorias absolutas e na presidência da república.

Não é de admirar que Albuquerque e Isaltino sejam eleitos. Também não é de estranhar que depois de tudo, Montenegro esteja a disputar as eleições. Já agora, depois do Chega eleger 50 deputados para a A.R. e autarcas, muitos deles agarrados com contas à justiça, começo a acreditar que existe uma miopia política generalizada e por isso já tenho muita dificuldade em aceitar os queixumes de pessoas que votam neste tipo de candidatos.

Acresce o problema pouco acautelado em Portugal, que tem a ver com as sondagens que influenciam e bipolarizam as eleições. Valem o que valem, mas são um ataque à democracia e Portugal não acautela este fenómeno como acontece em vários países da União Europeia. Por isso, temos pessoas que não votam porque se consideram intocáveis, inteligentes e para estes “cegos” os partidos são todos iguais. Depois temos os calculistas que vão na onda das sondagens e ainda temos os dos votos de protesto que votam naquele partido que é contra tudo e todos, mesmo sabendo que dali não vem nada. Mas como é que isto acontece?

Uma boa explicação está nas escolas. Ouvem-se alguns professores que votam em Montenegro porque descongelou as progressões e esquece-se de quem lutou por eles durante muitos anos; nem se lembram que ao seu lado estão os funcionários mal pagos que continuam a marcar passo… perguntem nas escolas como chegam muitos alunos no ponto de vista da educação; perguntem como reagem alguns pais a demonstrarem a razão do embrutecimento dos seus filhos. Perguntem sobre os níveis de vandalismo nas escolas e da violência entre alunos. Depois, têm a resposta e percebem como se elegem arruaceiros, interesseiros e mentirosos.

Ontem saiu fumo branco da chaminé da Capela Sistina no Vaticano; o americano Prevost sucedeu ao argentino Bergoglio. Esperemos que ajude a diluir os fumos negros que ensombram o mundo.

·        Paulo Cardoso - 09-05-2025 - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre