À medida que vamos sabendo mais sobre a real dimensão do apagão que mergulhou Portugal nas trevas, cresce a convicção de que o desastre só não foi maior porque o povo, apesar de tudo, é sereno. E porque tivemos sorte na mitigação da crise. Um dia a mais sem energia e telecomunicações e podemos apenas imaginar o que teria sido. Naturalmente que não há um guião infalível que nos salve de eventos extraordinários como este, ainda por cima havendo uma tão grande dependência energética de um país externo (Espanha, onde radicou a origem do mal) e sendo o sistema de abastecimento elétrico tão intrincado. Mas é a partir de agora, que a normalização vai sendo reposta, que devemos começar a pensar em precaver-nos para a possibilidade de uma repetição.E não venham dizer-me que não haverá uma segunda vez, porque se há uma certeza instalada é a de que a sociedade moderna, tecnológica e responsiva em que estamos emaranhados se move com pés de barro. É agora que o planeamento deve começar a ser feito. Basta ver a forma como comunicámos com a população (o Governo parecia uma barata tonta ao retardador), e como, de forma atabalhoada, se foi priorizando a resposta dos serviços essenciais do Estado, para se ter uma noção das múltiplas fragilidades a que fomos expostos. Não sendo esta uma questão partidária, importa reter que, na escala de prioridades e tempos mediáticos dos nossos dirigentes políticos, tudo soa a trivial ao pé de uma crise energética que durou umas horas e que, mesmo assim, pode ter custado mil milhões de euros à economia do país. Por isso, ponham pés ao caminho. Não estamos preparados.
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Pedro Ivo
Carvalho – Jornal de Notícias - 03 maio, 2025