A Medialivre (antiga Cofina), dona dos canais CMTV e NOW, anunciou na véspera do 1.º de Maio o despedimento colectivo de 10 fotojornalistas. Empresa foi adquirida por Cristiano Ronaldo e outros investidores em 2023.
A Medialivre (criada em 1995 com o nome
Cofina) é um dos maiores grupos de comunicação social em Portugal. Para além
dos canais CMTV e NOW, o grupo detém ainda publicações como o Correio da Manhã,
o Record, o Jornal de Negócios e a revista Sábado. O nome do grupo foi alterado
em Novembro de 2023, ao ser adquirido pelo valor de 56,8 milhões de euros por
um grupo de antigos e actuais quadros da empresa e investidores, entre os quais
o futebolista Cristiano Ronaldo (que detém 30%).
Em vésperas do 1.º de Maio, Dia do
Trabalhador, a Medialivre anunciou o despedimento colectivo de 10
fotojornalistas. Fonte oficial da empresa, citada pelo Expresso, considerou o
despedimento um acto de «boa gestão», ao incidir numa área específica onde a
empresa afirma ter «recursos em excesso para a sua actividade».
Em comunicado, o Sindicato dos Jornalistas
(SJ) considera que «o despedimento de
jornalistas é grave o suficiente, ainda por cima num grupo que diz dar lucro,
para dispensar a diatribe insultuosa de o comunicar na véspera do 1 de Maio». O
SJ convoca todos os jornalistas a participar na manifestação da CGTP-IN em
Lisboa, para assinalar o 1.º de Maio.
Comprometendo-se a contestar, «por todas as
vias», este despedimento colectivo, o SJ lamenta que, uma vez mais, seja dada
uma «estocada profunda» no trabalho fotográfico em Portugal, «uma linguagem
jornalística que está a ser levada à morte por administradores e diretores de
empresas de comunicação social em Portugal». Muitas publicações conformam-se,
nos dias de hoje, a recorrer a «fotos de propaganda das assessorias de imprensa
de câmaras municipais, clubes de futebol e agências de comunicação», criando
uma situação clara de incompatibilidade entre «publicidade, assessoria e o
exercício do jornalismo». Outros órgãos de comunicação social «exigem fotos de
telemóvel a redactores» ou «imagens amadoras do público».
Só a «união» dos trabalhadores deste sector
pode enfrentar a «boa gestão» do patronato, para quem o bom jornalismo é feito
com redacções amputadas e alvo de «uma sobrecarga de trabalho e de desrespeito»
pelos seus direitos. A sindicalização é fundamental nesse processo de
resistência, afirma o SJ.
O Sindicato dos Jornalistas lamenta ainda que
Cristiano Ronaldo, com um vencimento estimado em mais de 250 milhões de euros
em 2024, tenha comprado uma parte significativa de uma empresa e, a seguir,
caucionar despedimentos. «Das duas uma: ou não sabe e, enquanto maior
accionista, deve clarificar a sua posição de imediato ou sabe e, a ser assim,
fica conotado como sendo um dos donos de mais uma empresa do sector que, ao
invés de pensar o futuro de forma sustentável, faz o mais fácil e o mais básico
em termos de gestão: despedir».
AbrilAbril - 1 de Maio de 2025
Foto: António Cotrim / Lusa