26.5.25

OPINIÃO: Rotas de lucro ilegal numa imigração descontrolada

Os imigrantes que se amontoam à porta dos serviços consulares de Lisboa e do Porto para validarem os seus documentos encheram ontem os alinhamentos dos noticiários. A situação não é nova, nem tão-pouco se apresenta como única no nosso país. É o retrato de uma imigração descontrolada, que se desenvolve por rotas clandestinas a partir de vários países. Esta semana, o “Courrier International” denuncia os expressivos negócios de traficantes que fomentam essas viagens.

É um verdadeiro império clandestino que floresce à sombra do sofrimento humano, este das rotas migratórias que hoje se multiplicam por diferentes geografias. Qualquer viagem nunca custa menos de mil euros, o que é imenso para gente que procura outra sorte para uma vida depauperada. Todavia, que ninguém pense que o tráfico de migrantes é um negócio improvisado. Nada disso. Os novos contrabandistas anunciam as suas rotas em milhares de contas que se multiplicam nas redes sociais, prometendo novos e promissores mundos; compram barcos à China e à Turquia para contornarem o controlo policial; contratam intérpretes e intermediários para atraírem pessoas para viagens que prometem aquilo que sabem ser impossível: um passaporte seguro para a liberdade.

Nada do que se sonha se concretiza. As travessias são uma espécie de ida ao inferno: fome, cansaço, pressão psicológica, agressões físicas. Àqueles que chegam a terra firme, espera-os outros calvários.

Devido à política restritiva de Trump no que diz respeito à imigração, promovem-se agora no Panamá rotas de regresso dos Estados Unidos para a América do Sul. Trata-se de uma inversão daquilo que se fazia até há poucos meses, mas, mesmo assim, as viagens continuam a enriquecer as máfias. Segundo dados da Comissão Europeia, o tráfico de migrantes movimenta seis mil milhões de euros por ano – mais do que o PIB de muitos países.

Como se interrompe tudo isto? Numa reportagem publicada no “Courrier International”, cita-se aquilo que um refugiado iraniano escreveu na sua conta numa rede social: “Consideras os traficantes más pessoas? Eu também considero. A viagem é longa e perigosa, mas achas mesmo que podemos ir à embaixada britânica de Teerão pedir um visto?” A pergunta é dura. Não justificando as redes criminosas que fomentam rotas perigosas, esta declaração desfaz discursos que ensaiam alternativas inviáveis para quem foge da guerra, da repressão ou da miséria. Talvez o verdadeiro inferno não esteja na viagem, mas naquilo que acontece antes de embarcar. É nessa realidade que o Mundo deve concentrar-se para atacar o problema sem hipocrisias.

·         Felisbela Lopes – Jornal de Notícias - 23 maio, 2025