28.3.25

NISA. O Centro Histórico - Memória e Apagamento (I)


No dia 28 de Março assinala-se o Dia Nacional dos Centros Históricos. No concelho de Nisa está classificado como tal, a parte antiga da sede do concelho, a qual ostenta ainda hoje impressionantes marcas do passado, a par de outras que "artificialmente" e contra as boas regras defendidas pelas entidades que tutelam a cultura e o património, têm sido criadas ou transformadas de acordo com modismos importados para fazer "render o peixe" dos detentores do poder municipal.

Ouvir alguém vindo de fora perguntar onde fica a "Rua das Pedrinhas" é de pôr um nisense com os cabelos em pé. A alguns tenho respondido que não sei onde fica, nem nunca ouvi o nome. É verdade. Aquela transformação "radical" passando por cima de todas as leis e regulamentos, tal como o antigo edifício do Hospital Velho, não abona, ao contrário do que se possa julgar, em favor de quem promoveu tais obras ditas de "requalificação". A identidade da Rua de Santa Maria perdeu-se, mesmo tendo ganho muitos visitantes. Algumas autarquias são como os bancos, a quem interessa, apenas, os números. Não todos. Os da desertificação humana e física não preocupam os responsáveis camarários. Os números da saúde, a falta de médicos que, num determinado contexto, davam artigos de jornal, escritos por quem agora fazendo parte do executivo se fecha em copas, num silêncio cúmplice e defraudando a população que os elegeram, esses números, esses factos que estão aos olhos de toda a gente, nada lhes dizem. As obras faraónicas, sim. O edifício como nunca se viu e que alguém, no futuro, terá de pagar, a auto-propaganda, desenfreada e constante, à revelia de acções e obras realmente necessárias e que acrescentem valor à qualidade de vida dos nisenses, essas ficam remetidas para as calendas. Viver não custa, o que custa é "saber" viver. O importante não é apenas a "rosa" mas o benefício pessoal e eleitoral que se possa tirar dela. E o que vemos? O Museu do Bordado e do Barro deixou de fazer parte da publicidade que é paga por todos nós a jornais e rádios do emblema. O Núcleo do Bordado na Rua Direita, transformada em necrotério idalinal, está encerrado aos fins de semana. Dizem-me que foi desvalorizado e nele instalado  um "radar especial" . É a cultura do Apagamento, de tudo o que foi feito por executivos anteriores. Se esta personagem continuasse por mais tempo na Câmara, tínhamos a muralha da Porta da Vila revestida a metal ou a plástico, como obra "icónica e platónica". E que dizer da toponímia? Dos atentados perpetrados e reveladores de uma ignorância sem medida, de quem não sabe, não conhece e, pior do que isso, não tem a humildade de perguntar ou sequer, aceitar as explicações de quem tem algum "cabedal" no assunto?

O Centro Histórico de Nisa não "existe". O que existe são as invenções da edil amieirense, pensadas em noites de insónias e instaladas nos dias seguintes, sem dar cavaco a ninguém.

* Mário Mendes