A IDADE NÃO PERDOA
Num velho banco sentado
No pitoresco e
lindo jardim
Um amigo amargurado
Contou-me o que sentia, assim :
“Eu era um homem valente
De bom porte e perspicaz
Olhava sempre em frente
Raramente olhava para trás
Mesmo quando era humilhado
Ou até,
deveras ofendido
Nunca me senti derrotado
Ainda, muito
menos vencido
Agora, com mais de meio cento
Embora a muitos não pareça
Vivo com algum desalento
Dando mil voltas à cabeça
Já não canto como cantava
Nem bebo como bebia
Não bailo
como bailava
Nem vejo o mundo como via
Nenhuma cantiga bem me soa
Nem tenho prazer no que faço
O
destino pega uma pessoa
Como gato pelo cachaço.”
* José Hilário