«Eu creio que a
realidade e a poesia, tal como se apresentam ao homem, exigem um desprendimento
gradual, um crescente desnudamento, a fim de nos aproximarmos do núcleo
essencial do que há ou do que existe, e que é ou nos parece ser.» - António
Carlos Cortez
A Câmara Municipal de Nisa promoveu no passado sábado, dia
31 de Maio, no âmbito do programa da Feira do Livro de Nisa, uma homenagem póstuma ao
poeta e professor nisense, Fernando Eduardo Carita, nascido em 1961 e falecido
em 2013 após longa doença e sofrimento.
Na mesa da sessão, realizada no Cine Teatro, perante
numeroso público, a presidente da Câmara, Idalina Trindade, o presidente da
Assembleia Municipal, João Santana, o pai do homenageado, professor João Maria,
o irmão do poeta, Filipe Carita, e António Carlos Cortez, professor de
literatura e amigo de Fernando Carita.
Idalina Trindade deu as boas vindas aos convidados e público
presente, salientando que era de todo merecida essa evocação do homem, do
professor e do poeta que, como muitos outras figuras da cultura portuguesa,
começou a ser conhecido e ter projecção no estrangeiro. A edil nisense disse
ser de toda a justiça e merecimento dar a conhecer a obra poética de Fernando
Eduardo Carita, mostrando-se esperançada de que na próxima Feira do Livro, os
seus livros possam ser disponibilizados aos leitores, publicados na sua língua
materna.
Filipe Carita, traçou o perfil e a biografia social e
profissional do poeta, seu irmão, não deixando de referir a longa doença que o
atingiu e o viria a vitimar, realçando a sua força e vontade de viver,
alicerçada no ensino e na escrita, para enfrentar o sofrimento, constante e
doloroso, sem um queixume.
Quatro alunas da Escola Prof. Mendes dos Remédios de Nisa,
leram outros tantos poemas de Fernando Eduardo Carita, antes de António Carlos
Cortez tomar a palavra e fazer uma análise sobre a vida e a obra do poeta
nisense, seu amigo e companheiro de muitas vivências.
Numa exposição detalhada e fundamentada, António Carlos
Cortez fez uma ligação aos aspectos mais salientes da poesia de Fernando
Eduardo Carita, dando exemplos da sua erudição e cultura, revelando os traços
fundamentais da personalidade do poeta e professor.
Uma exposição que, pela qualidade e profundidade da análise
não deixaremos de publicar em artigo sobre Fernando Eduardo Carita.
Fernando Eduardo Carita: o homem, o professor, o poeta
Fernando Eduardo Louro Carita, era natural de Nisa, onde
nasceu a 27 de Maio de 1961, tendo falecido a 22 de Junho de 2013.
Fernando Eduardo Carita, nome como era conhecido nos anais
da cultura, deixa publicadas algumas das mais significativas obras da moderna
poesia portuguesa.
Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (português e
francês) foi professor na Escola Prof. Mendes dos Remédios, de Nisa e mais
tarde na Escola Secundária Ferreira Dias (Agualva-Cacém), estabelecimento onde
viria a interromper a sua actividade docente, já minado pela grave doença com
que viria a falecer, uma doença que enfrentou com uma coragem e determinação
inigualáveis.
Fernando Eduardo Carita - Sintra (2009)
Publicou três livros: A Obscura Espiritualidade da Matéria
(1988) edição de autor; A Salvação Pelo Vazio / Le salut par le vide (edição
bilíngue traduzida para o francês por Marie Claire Vromans.) (2005); A Casa, o
Caminho / La maison, le chemin (edição bilíngue traduzida para o francês por
Marie Claire Vromans) (2008).
Para além da colaboração em diversas revistas da
especialidade, dois dos seus poemas foram publicados no número 177 – Maio de
2011 da Revista Colóquio /Letras – Poesia.
Traduziu inúmeros textos de conhecidos autores, entre estes
Yves Namur, poeta belga, cuja tradução deu a conhecer em Portugal, “Figuras do
Muito Obscuro”, livro prefaciado por Nuno Júdice.
Fernando Eduardo Carita foi um dos 40 escritores
entrevistados por Ana Marques Gastão para o Diário de Notícias e reunidas num
volume de 468 páginas, O Falar dos Poetas,
publicado pela Afrontamento.
Mário Mendes in "Alto Alentejo" - 4/6/2014