10.6.14

NISA: Homenagem póstuma a Fernando Eduardo Carita





 «Eu creio que a realidade e a poesia, tal como se apresentam ao homem, exigem um desprendimento gradual, um crescente desnudamento, a fim de nos aproximarmos do núcleo essencial do que há ou do que existe, e que é ou nos parece ser.» - António Carlos Cortez
A Câmara Municipal de Nisa promoveu no passado sábado, dia 31 de Maio, no âmbito do programa da Feira do Livro de Nisa, uma homenagem póstuma ao poeta e professor nisense, Fernando Eduardo Carita, nascido em 1961 e falecido em 2013 após longa doença e sofrimento.
Na mesa da sessão, realizada no Cine Teatro, perante numeroso público, a presidente da Câmara, Idalina Trindade, o presidente da Assembleia Municipal, João Santana, o pai do homenageado, professor João Maria, o irmão do poeta, Filipe Carita, e António Carlos Cortez, professor de literatura e amigo de Fernando Carita.
Idalina Trindade deu as boas vindas aos convidados e público presente, salientando que era de todo merecida essa evocação do homem, do professor e do poeta que, como muitos outras figuras da cultura portuguesa, começou a ser conhecido e ter projecção no estrangeiro. A edil nisense disse ser de toda a justiça e merecimento dar a conhecer a obra poética de Fernando Eduardo Carita, mostrando-se esperançada de que na próxima Feira do Livro, os seus livros possam ser disponibilizados aos leitores, publicados na sua língua materna.
Filipe Carita, traçou o perfil e a biografia social e profissional do poeta, seu irmão, não deixando de referir a longa doença que o atingiu e o viria a vitimar, realçando a sua força e vontade de viver, alicerçada no ensino e na escrita, para enfrentar o sofrimento, constante e doloroso, sem um queixume.
Quatro alunas da Escola Prof. Mendes dos Remédios de Nisa, leram outros tantos poemas de Fernando Eduardo Carita, antes de António Carlos Cortez tomar a palavra e fazer uma análise sobre a vida e a obra do poeta nisense, seu amigo e companheiro de muitas vivências.
Numa exposição detalhada e fundamentada, António Carlos Cortez fez uma ligação aos aspectos mais salientes da poesia de Fernando Eduardo Carita, dando exemplos da sua erudição e cultura, revelando os traços fundamentais da personalidade do poeta e professor.
Uma exposição que, pela qualidade e profundidade da análise não deixaremos de publicar em artigo sobre Fernando Eduardo Carita.
Fernando Eduardo Carita: o homem, o professor, o poeta
Fernando Eduardo Louro Carita, era natural de Nisa, onde nasceu a 27 de Maio de 1961, tendo falecido a 22 de Junho de 2013.
Fernando Eduardo Carita, nome como era conhecido nos anais da cultura, deixa publicadas algumas das mais significativas obras da moderna poesia portuguesa.
Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (português e francês) foi professor na Escola Prof. Mendes dos Remédios, de Nisa e mais tarde na Escola Secundária Ferreira Dias (Agualva-Cacém), estabelecimento onde viria a interromper a sua actividade docente, já minado pela grave doença com que viria a falecer, uma doença que enfrentou com uma coragem e determinação inigualáveis.
Fernando Eduardo Carita - Sintra (2009)
Publicou três livros: A Obscura Espiritualidade da Matéria (1988) edição de autor; A Salvação Pelo Vazio / Le salut par le vide (edição bilíngue traduzida para o francês por Marie Claire Vromans.) (2005); A Casa, o Caminho / La maison, le chemin (edição bilíngue traduzida para o francês por Marie Claire Vromans) (2008).
Para além da colaboração em diversas revistas da especialidade, dois dos seus poemas foram publicados no número 177 – Maio de 2011 da Revista Colóquio /Letras – Poesia.
Traduziu inúmeros textos de conhecidos autores, entre estes Yves Namur, poeta belga, cuja tradução deu a conhecer em Portugal, “Figuras do Muito Obscuro”, livro prefaciado por Nuno Júdice.
Fernando Eduardo Carita foi um dos 40 escritores entrevistados por Ana Marques Gastão para o Diário de Notícias e reunidas num volume de 468 páginas, O Falar dos Poetas, publicado pela Afrontamento.
Mário Mendes in "Alto Alentejo" - 4/6/2014