29.6.20

MONTALVÃO - Tradições:- As Cavalhadas - Festa de S. Pedro

Cavalhada é uma celebração portuguesa tradicional que teve origem nos torneios medievais, onde os aristocratas exibiam em espectáculos públicos a sua destreza e valentia, e frequentemente envolvia temas do período da Reconquista. Era um "torneio que servia como exercício militar nos intervalos das guerras e onde nobres e guerreiros cultivavam a praxe da galantaria;[...]".
Nas cavalhadas as alcanzias, bolas de barro ocas cheias de flores e cinzas, eram jogadas no campo de batalha. As cavalhadas recriam os torneios medievais e as batalhas entre cristãos e mouros, algumas vezes com enredo baseado no livro Carlos Magno e Os Doze Pares da França, uma colectânea de histórias fantásticas sobre esse rei. 
AS CAVALHADAS EM MONTALVÃO – Festa de S. Pedro
Cavalhadas era o nome que se dava às festas em honra de Santo António, de S. João e de S. Pedro, em virtude de haver corridas em muares, em cavalos ou em burros.(...)
Pelo S. Pedro cabia a vez aos pastores e outros trabalhadores rurais, montados nos pachorrentos e teimosos jericos.
Na véspera da festa, à tarde, o festeiro principal, ou seja, o festeiro encarregado de organizar a festa, punha à janela a bandeira do Santo festejado, juntamente com as melhores colchas que tinha.
Entretanto, o homem do tambor, o tamborileiro, bem barbeado e com o seu fato domingueiro (por vezes, calças remendadas, mas sempre limpas), dirigia-se, em silêncio, para casa do festeiro.
Era então içada a bandeira, ao mesmo tempo que dois ou três foguetes subiam e o tamborileiro iniciava as voltas à vila (até às tantas da noite), convidando toda a população para a festa.
Aqueles que quisessem tomar parte activa na festa dirigiam-se então a casa do festeiro a “tomar o cabresto”, isto é, a beber um copo de vinho ou de água, o que o obrigava a entrar em contas na despesa total da festa...
À hora da ceia, havia sopas de sarapatel e cabrito ou borrego com batatas, para todos os inscritos.
A bandeira continuava içada toda a noite. Toda a população se divertia saltando as fogueiras de rosmaninho que ardiam em frente de cada casa.
No dia da festa, por volta das dez horas da manhã, o tamborileiro continuava a dar a volta à povoação, lembrando que a hora da cerimónia religiosa se aproximava.
Com os seus melhores fatos, todos os festeiros se dirigiam para casa do festeiro que tinha a bandeira e dali partiam, com o tambor à frente, até à igreja onde estava o Santo festejado. Toda a população se associava.
Ouvida a missa, seguia-se a procissão com a imagem do santo. O tambor, à frente, tocava. O compasso agora era o que convinha a uma procissão...
Findas as cerimónias religiosas, os festeiros dirigiam-se a casa do festeiro principal que conduzia a bandeira, sempre ao som do tambor.
Todos almoçavam a célebre “sopa de afogado” e carne de molho, tudo bem regado com vinho tinto ou branco.
Findo o almoço, o tamborileiro voltava a percorrer as ruas da povoação, indicando que estava na hora das Cavalhadas.
Todos os que queriam tomar parte nas cavalhadas deviam apresentar-se à porta do festeiro principal com as respectivas montadas. Dali seguiam todos para o Largo da Praça, sempre com o tamborileiro à frente, tocando o indispensável tambor. Ninguém podia ultrapassar o tamborileiro. Este escolhia o local, no Largo da Praça, e o momento em que, afastando-se, deixava livre o caminho para cada um correr o melhor que podia. Esclareça-se que normalmente não havia qualquer prémio, e que a grande assistência não pagava bilhete. As palmas não faltavam. A meio das cavalhadas procedia-se à entrega da bandeira àquele que no ano seguinte iria ter a responsabilidade de organizar a festa.
A entrega da bandeira era feita na igreja onde estava o Santo festejado, depois de um dos festeiros ter dito as seguintes palavras:
“Foi eleito por mais votos, para no próximo ano dar a festa, segundo os usos e costumes, o senhor fulano de tal. Está aí ou alguém por ele?”
O eleito só à terceira vez devia responder, aceitando a bandeira e... deitando um “note”, isto é, dizendo uma quadra rimada, agradecendo a escolha ou dirigindo-se ao Santo festejado. Podia ser, por exemplo, esta quadra:
Ó meu divino S. Pedro
Aceito o vosso pendão
Dai-me saúde a mim e aos meus
E a todo o povo de Montalvão.
Finda esta cerimónia, os cavaleiros voltavam ao Largo da Praça, dando mais umas corridas, seguindo depois em direcção da casa do novo festeiro onde a bandeira era recebida com todas as honras pela dona da casa que, ao recebê-la, deitava também o seu “note”.
O jantar era ainda servido na casa do anterior festeiro onde, no dia seguinte, eram feitas as contas, para cada um saber o que tinha a pagar.
Findo o jantar, dava-se início à “ferolia”. Era um cortejo que percorria as ruas da vila e tinha a seguinte composição: à frente ia o tambor, logo a seguir ia a bandeira levada por uma filha do novo festeiro ou moça por ele convidada. Esta moça era acompanhada por duas “damas de honor” e as raparigas que entendia convidar para tocarem adufes e almofarizes. A música tocada tinha o seu compasso próprio
Quando alguém se conservava à porta ou à janela à passagem da “ferolia” era tido como um sinal de querer pegar na bandeira para “deitar o seu note”, alguns dos quais bem picantes e com piada...
S. João casai as moças,
Casai-as, que bem podeis.
Senão... criam teias de aranha,
No sítio que vós sabeis.
Finda a “ferolia”, estavam acabados os festejos. Os muares, os cavalos e os burros ficariam um ano à espera para entrarem na festa. A bandeira do Santo ficaria na casa do festeiro eleito.
E eram assim, noutros tempos, as “Cavalhadas” em Montalvão.