Nas últimas duas semanas, Portugal foi o segundo país dos 27 da União Europeia mais o Reino Unido a registar o maior número de novos casos de infeção por covid-19 por milhão de habitantes.
Pior só a Suécia, país que adotou políticas polémicas e que ainda não conseguiu controlar a epidemia. Em termos de mortalidade, por milhão de habitantes, Portugal figura em sexto lugar. Estará o "milagre" português em risco? Há especialistas preocupados.
A análise, disponível em www.metis.med.up.pt, uma plataforma desenvolvida pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e pelo Cintesis, foi realizada no dia 9, com dados reportados pelos países ao Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC, na sigla inglesa) e, no caso de Espanha, pela autoridade nacional de saúde espanhola.
Reflete uma realidade recente (últimos 14 dias e últimos sete dias contados no dia 9) e pretendeu ser um alerta para o comportamento da população antes de um fim de semana prolongado, em que milhares de portugueses estão a aproveitar para passear.
"Neste momento, em crescimento só estamos nós [Portugal], Suécia e Polónia, todos os outros estão a diminuir o número de novos casos, dá que pensar", nota Paulo Santos, responsável pela plataforma Metis, que decidiu colocar em gráficos o que as tabelas andavam a mostrar.
Na passada terça-feira, o país registou 421 novos casos de covid-19, um número que não se via desde 8 de maio. Paulo Santos, também professor da FMUP e investigador do Cintesis, realça que além do aumento de novos casos, nos últimos dias tem havido uma subida dos internamentos e dos doentes a precisar de cuidados intensivos.
Trajetória ascendente
O mesmo alerta foi feito anteontem nas redes sociais por Jorge Buescu, professor do departamento de Matemática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. "Neste momento, é claríssimo que Portugal reentrou numa trajetória ascendente da epidemia", escreveu, avisando que "as hospitalizações já começaram a aumentar e é possível que dentro de uma semana comecem a aumentar os óbitos".
Num país que iniciou as medidas de mitigação mais cedo do que os congéneres europeus e que conseguiu aplanar a curva da epidemia com sucesso, "neste momento dá a impressão de que, se calhar, o desconfinamento aconteceu cedo demais", diz Paulo Santos.
"Porém, é preciso cautela nas análises, defende Paulo Santos, até porque a evolução da epidemia não é igual em todo o país. Nas últimas semanas, a maioria dos novos casos têm surgido na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde as autoridades de saúde adotaram uma estratégia de "testagem massiva". Os dias que se seguirem ao fim de semana prolongado, acrescenta, serão importantes para perceber se os novos casos resultam de "proteção individual não acautelada ou de muitos testes" que apanham positivos assintomáticos.
Inês Schreck in "Público" - 12/6/2020