1.9.24

EDUCAÇÃO: Novo ano letivo: a instabilidade continua

O Jornal da Tarde da RTP1 abria ontem citando a manchete do “Diário de Notícias”: se as aulas começassem agora, haveria 48 mil alunos sem professor. Ou seja, a escola pública, mais uma vez, não teria um regresso às aulas com a normalidade desejada. E isso acontecerá até que os políticos percebam que a educação apenas se reforma com um pacto de regime que congregue diferentes partidos e seja extensível a vários governos.
A cada novo executivo, repetem-se as promessas de sempre, sobretudo em duas áreas cruciais: a educação e a saúde. E os titulares dessas pastas sucumbem sempre à tentação de anunciar reiteradamente que, com eles, haverá uma reforma profunda do respetivo setor, capaz de neutralizar os problemas mais graves. Percebemos rapidamente o insucesso de tais anúncios pela repetição das crises.
A poucos dias do arranque de mais um ano letivo, lá chegam as notícias mais temidas: a falta de professores continua a fazer-se sentir em várias escolas e em diversas disciplinas. E isso tem consequências várias: nas aprendizagens dos alunos, no funcionamento das escolas, na vida dos professores e no quotidiano das famílias. Eis uma situação que deveria merecer medidas drásticas para as quais deveria ser solicitada a adesão de vários partidos, porque a educação é, de facto, um assunto que nos deveria mobilizar a todos em prol de um ensino de qualidade. Não é, de todo, assim.
Conhecidas as médias de entrada em diferentes cursos do Ensino Superior, os jornalistas têm procurado perceber como se prepararam os alunos com uma média final próxima dos 20 valores. Os estudantes falam de motivação, organização, empenho, trabalho... No meio das diferentes razões que apontam para um percurso escolar exemplar, sobressai sempre a dedicação dos professores que encontraram. Isso constitui uma marca indelével que um jovem transportará sempre consigo.
Em escassas semanas, o ministro da Educação não terá meios para garantir professores em todas as disciplinas na escola pública, mas espera-se, pelo menos, que a situação não se agrave e que, entretanto, se desenvolvam, políticas públicas mais congregadoras. E isso não é apenas uma responsabilidade exclusiva de um Governo. Partidos da Oposição, sindicatos e associações do setor devem congregar esforços no sentido de tornarem possíveis medidas pensadas com uma extensão temporal maior.
A educação, tal como a saúde, precisa de uma reforma profunda. Isso não se concretiza de um ano para o outro. Mas também não se faz com próteses que caem na primeira turbulência.
Felisbela Lopes – Jornal de Notícias -30 agosto, 2024
Professora catedrática da UMinho