O Jornal da Tarde da RTP1
abria ontem citando a manchete do “Diário de Notícias”: se as aulas começassem
agora, haveria 48 mil alunos sem professor. Ou seja, a escola pública, mais uma
vez, não teria um regresso às aulas com a normalidade desejada. E isso
acontecerá até que os políticos percebam que a educação apenas se reforma com
um pacto de regime que congregue diferentes partidos e seja extensível a vários
governos.
A cada novo executivo,
repetem-se as promessas de sempre, sobretudo em duas áreas cruciais: a educação
e a saúde. E os titulares dessas pastas sucumbem sempre à tentação de anunciar
reiteradamente que, com eles, haverá uma reforma profunda do respetivo setor,
capaz de neutralizar os problemas mais graves. Percebemos rapidamente o insucesso
de tais anúncios pela repetição das crises.
A poucos dias do arranque de
mais um ano letivo, lá chegam as notícias mais temidas: a falta de professores
continua a fazer-se sentir em várias escolas e em diversas disciplinas. E isso
tem consequências várias: nas aprendizagens dos alunos, no funcionamento das
escolas, na vida dos professores e no quotidiano das famílias. Eis uma situação
que deveria merecer medidas drásticas para as quais deveria ser solicitada a
adesão de vários partidos, porque a educação é, de facto, um assunto que nos
deveria mobilizar a todos em prol de um ensino de qualidade. Não é, de todo,
assim.
Conhecidas as médias de
entrada em diferentes cursos do Ensino Superior, os jornalistas têm procurado
perceber como se prepararam os alunos com uma média final próxima dos 20
valores. Os estudantes falam de motivação, organização, empenho, trabalho... No
meio das diferentes razões que apontam para um percurso escolar exemplar,
sobressai sempre a dedicação dos professores que encontraram. Isso constitui
uma marca indelével que um jovem transportará sempre consigo.
Em escassas semanas, o
ministro da Educação não terá meios para garantir professores em todas as
disciplinas na escola pública, mas espera-se, pelo menos, que a situação não se
agrave e que, entretanto, se desenvolvam, políticas públicas mais
congregadoras. E isso não é apenas uma responsabilidade exclusiva de um
Governo. Partidos da Oposição, sindicatos e associações do setor devem
congregar esforços no sentido de tornarem possíveis medidas pensadas com uma
extensão temporal maior.
A educação, tal como a saúde,
precisa de uma reforma profunda. Isso não se concretiza de um ano para o outro.
Mas também não se faz com próteses que caem na primeira turbulência.
Felisbela Lopes – Jornal de
Notícias -30 agosto, 2024
Professora catedrática da
UMinho