9.9.24

OPINIÃO: Impotência contratada

Muitos dos utilizadores de carros elétricos deparam-se com um problema prático: querem carregar em casa os seus veículos e a potência contratada é insuficiente para esse fim sem comprometer o normal funcionamento da habitação. Se for num prédio e a ligação tiver de ser feita ao quadro da garagem, a coisa complica-se, uma vez que o aumento de potência, caso seja necessária, tem de ser aprovada pelos condóminos. Se o quadro estiver no seu máximo, o imbróglio implicará um projeto de um engenheiro e um pedido à E-Redes, dando conhecimento à Direção-Geral de Energia. Estes procedimentos, aqui explicados de forma rudimentar, poderão ser úteis aos responsáveis pelas prisões. A cerca elétrica não estava ativa há anos porque deitava sempre a luz abaixo no estabelecimento prisional de Vale de Judeus, em Alcoentre, uma prisão de “alta segurança”. Uma grande maçada. Provavelmente, alguém se esqueceu de falar com a E-Redes e convocar uma reunião de condomínio (o Governo), e todos sabemos como esses encontros podem ser demorados, cansativos e polémicos.
Parece um sketch isolado dos Monty Python, mas não é. A ineficácia do Estado é demasiado transparente em detalhes caricatos. Há dias, a secretaria-geral do Ministério da Administração Interna foi assaltada. Sim, estamos a falar de um organismo ligado à segurança e às polícias. Os ladrões remexeram gabinetes e levaram oito computadores. E não foi há muito tempo que um assessor, demitido horas antes, andou à luta dentro do Ministério das Infraestruturas. Recuando ainda mais, quem não se lembra de um roubo de armas nos paióis nacionais de Tancos?
Em conclusão, as falhas caricatas do Estado não são culpa deste ou daquele Governo. Há uma impotência contratada permanente que dá azo a episódios caricaturais.
* Pedro Araújo – Jornal de Notícias - 09 setembro, 2024