1. Defender a vida das
pessoas. Deve ser essa a prioridade, quando o fogo é impossível de controlar,
como tem acontecido em tantos lugares por estes dias. Não é preciso ser um
especialista para perceber que, por maior que seja a capacidade tecnológica e
logística à nossa disposição, a natureza terá sempre mais poder. Isto não é
sinónimo de deixar arder. Significa apenas que os meios materiais e humanos
devem ser orientados, em primeiro lugar, para salvar vidas. E só depois para o
património. Isso inclui salvar as vidas dos bombeiros, que não são carne para
canhão. Vai ser preciso esperar para detalhar o que aconteceu aos três
bombeiros de Vila Nova de Oliveirinha (Tábua) que morreram por causa de um
veículo avariado. Como será preciso esperar para saber porque foi considerado
mais importante resgatar uma máquina do que assegurar a vida de um trabalhador
florestal em Albergaria-a-Velha. Não se pode tirar conclusões de forma
precipitada, mas não chega reconhecer o heroísmo e apresentar condolências. Se
houve negligência ou cobiça, se os meios não eram adequados, se alguém deu uma
ordem errada, é preciso apurar, corrigir e castigar.
2. Sempre que o país é
apanhado em contrapé, a tentação imediata é a de questionar os meios e exigir
mais bombeiros, autotanques, helicópteros e aviões. Como se fosse possível
aplicar a velha máxima futebolística de que o ataque é a melhor defesa. É
evidente que essa capacidade não deve ser descurada. Mas, se o objetivo é
evitar a destruição do património natural (e por extensão das casas, das indústrias
e das vidas), que não haja ilusões: é pela prevenção que existe alguma hipótese
de êxito (relativo, porque não somos deuses). Como repete Domingos Xavier
Viegas, sempre que é chamado a explicar mais uma catástrofe, apostar na gestão
dos espaços agroflorestais (diversificando espécies e acabando com a
monocultura do eucalipto ou o pinheiro-bravo) e na formação dos cidadãos (boa
parte dos fogos continua a ser causada por comportamentos negligentes e
criminosos).
* Rafael Barbosa – Jornal de
Notícias - 18 setembro, 2024