18.9.24

OPINIÃO: Os bombeiros não são carne para canhão

1. Defender a vida das pessoas. Deve ser essa a prioridade, quando o fogo é impossível de controlar, como tem acontecido em tantos lugares por estes dias. Não é preciso ser um especialista para perceber que, por maior que seja a capacidade tecnológica e logística à nossa disposição, a natureza terá sempre mais poder. Isto não é sinónimo de deixar arder. Significa apenas que os meios materiais e humanos devem ser orientados, em primeiro lugar, para salvar vidas. E só depois para o património. Isso inclui salvar as vidas dos bombeiros, que não são carne para canhão. Vai ser preciso esperar para detalhar o que aconteceu aos três bombeiros de Vila Nova de Oliveirinha (Tábua) que morreram por causa de um veículo avariado. Como será preciso esperar para saber porque foi considerado mais importante resgatar uma máquina do que assegurar a vida de um trabalhador florestal em Albergaria-a-Velha. Não se pode tirar conclusões de forma precipitada, mas não chega reconhecer o heroísmo e apresentar condolências. Se houve negligência ou cobiça, se os meios não eram adequados, se alguém deu uma ordem errada, é preciso apurar, corrigir e castigar.
2. Sempre que o país é apanhado em contrapé, a tentação imediata é a de questionar os meios e exigir mais bombeiros, autotanques, helicópteros e aviões. Como se fosse possível aplicar a velha máxima futebolística de que o ataque é a melhor defesa. É evidente que essa capacidade não deve ser descurada. Mas, se o objetivo é evitar a destruição do património natural (e por extensão das casas, das indústrias e das vidas), que não haja ilusões: é pela prevenção que existe alguma hipótese de êxito (relativo, porque não somos deuses). Como repete Domingos Xavier Viegas, sempre que é chamado a explicar mais uma catástrofe, apostar na gestão dos espaços agroflorestais (diversificando espécies e acabando com a monocultura do eucalipto ou o pinheiro-bravo) e na formação dos cidadãos (boa parte dos fogos continua a ser causada por comportamentos negligentes e criminosos).

* Rafael Barbosa – Jornal de Notícias - 18 setembro, 2024