14.9.24

OPINIÃO: A favor das restrições dos telemóveis nas escolas

O Ministério da Educação decidiu recomendar às escolas a proibição do uso do telemóvel nos 1.o e 2.o ciclos e restrições no 3.o ciclo. Trata-se de uma medida já implantada em vários estabelecimentos de ensino, sobretudo privados, que procura restabelecer a convivialidade dos alunos nos recreios e um normal funcionamento das aulas.
Quem tem filhos nos ensinos Básico ou Secundário, como é o meu caso, sabe bem a enorme dependência que os mais jovens têm hoje do telemóvel. Por vontade própria, o consumo diário de periféricos móveis poderia ser de largas horas. Estão ali em frente de um ecrã como se procurassem agarrar o Mundo todo nas mãos. Muitas vezes de uma forma tão obsessiva como solitária. Em casa, cada um de nós, enquanto pais, procura limitar esse uso, muitas vezes procurando alternativas inimagináveis. Devo reconhecer que frequentemente o meu filho reconhece nas atividades propostas no lugar dos ecrãs uma atratividade maior do que aquela que encontra nos vídeos (jogos). Há apenas uma variável que essas opções devem ser conter: uma interação humana. Parece sempre muito mais sedutor um jogo com jogadores reais ou uma atividade de lazer que implica convívio interpessoal do que a tecnologia que está ao alcance dos dedos. E isso faz-nos pensar (muito) acerca do tempo que (não) dispensamos em família.
Em contextos de sala de aula a minha experiência faz-se com alunos que frequentam o Ensino Superior. Os tempos letivos que procuramos que sejam de uma aprendizagem ativa feita de discussão de ideias e de descoberta de novos conteúdos é atravessada em permanência pelas redes sociais. Pousados em cima da mesa, os telemóveis são permanentemente iluminados por notificações que interpelam os estudantes para outros mundos que os transportam para muito longe daquilo que se passa ali, na sala de aula. Nos ensinos Básico e Secundário, essa turbulência será bem menor, mas não estará ausente e será um elemento (muito) perturbador no ambiente de uma turma. No entanto, é nos recreios que os telemóveis ocupam mais espaço. E isso tem efeitos devastadores a vários níveis: na relação entre os alunos, nos estados de agitação ou de ansiedade que, decerto, transportarão para dento da sala de aula...
Para evitar polémicas, o Governo optou por uma linguagem suave: recomendou a proibição do uso do telemóvel para os mais pequenos e restrições para os maiores. A iniciativa não é consensual. Faltará lembrar uma evidência que muda muita coisa: dentro de uma escola dos ensinos Básico e Secundário nenhum aluno precisa do telemóvel. E isso retém-nos no essencial desta discussão.

Felisbela Lopes – Jornal de Notícias - 13 setembro, 2024
Professora catedrática da UMinho