Esta ruína é o que sobra da
principal universidade de Gaza, arrasada pelo colonialismo sionista, no quadro
de um metódico processo de eliminação de uma nação. Já não resta qualquer
universidade, já não há escolas.
Apesar dos protestos de
estudantes e docentes, incluindo de sindicatos da FENPROF, e de uma ou outra
tomada de posição, como a da Universidade do Minho, o silêncio cúmplice tem
dominado a universidade portuguesa.
Este silêncio dominante está
em linha com a história mais tenebrosa da universidade, tanto mais que outro
galo cantou quando começou a Guerra da Ucrânia. Até um notável professor russo
chamado Vladimir Pliassov, que garantia graciosamente o ensino desta língua,
foi saneado sem mais pelo reitor da minha universidade, lembrai-vos. Também
houve quem protestasse, umas centenas de professores com memória. Também não
valeu de nada, embora haja combates cujo mérito está logo em travá-los.
Israel é Israel, não há cá
cortes de relações ou sanções. O fascismo também era o fascismo. Por cada Bento
de Jesus Caraça, havia dezenas de medíocres papagaios do corporativismo
fascista e do liberalismo autoritário de recorte fascista, de acordo com a fase
ou a tendência.
Hoje, a desdemocratização das
universidades, conquista UE/OCDE que apagou a herança de abril no governo
universitário, paga-se mesmo muito cara, em cada vez mais planos, com reitores
e diretores dotados de poderes longos e de legitimidades democráticas curtas.
Estamos cada vez mais próximos do informal modelo Nova SBE, da opaca
Universidade SA.
Sabem qual é a razão destes
silêncios universitários dominantes, dado que aí os professores de carreira têm
outra estabilidade? É tudo brutalmente simples, creio, para lá das convicções
ideológicas: dada a cumplicidade ativa dos EUA e da UE, há financiamentos que
não podem ser perdidos e a ciência está cada vez mais sob controlo, convém não
arriscar. Há quem arrisque, claro. Sempre houve.
Entretanto, o genocídio
atinge sempre a informação, o conhecimento e a cultura, sem as quais não há
essa aposta diária a que chamamos nacionalidade. As elites portuguesas não a
valorizam, algumas até a apoucam, mas as elites palestinianas não se podem dar
a esse luxo.
Os comandos colonialistas da
morte têm assassinado mais jornalistas do que em qualquer outro cenário de
guerra na história. Os jornais portugueses, os jornalistas portugueses, também
andam demasiado silenciosos. Aposto que é da precariedade e do correlativo medo
entre os que sabem, por contraste com a opulência dos apologistas da morte na
televisão. E a cúmplice UE financia cada vez mais o jornalismo e Israel também.
Sim, estou a pensar em monstros morais, como a avençada Helena Ferro Gouveia.
Os consensos de Washington e
de Bruxelas (e de Telavive) explicam tudo, mas tudo, sobre a elite com mais
poder deste país - entreguista, vira-latista, mandonista. Sim, precisamos de
palavras vindas do Brasil e já agora de seguir o exemplo das suas muito mais
corajosas academia, media alternativa e política externa.