23.1.23

OPINIÃO: Alguém vai ter de ceder

Como numa dança, também numa mesa negocial entre partes desavindas tem de haver espaço para cada um dos parceiros ensaiar movimentos. Marcar o passo. Porém, na coreografia que, nas últimas semanas, tem juntado no mesmo palco professores, sindicatos e Governo, só tem havido pisadelas. A tal ponto que as negociações entraram num novo impasse.
A bonomia que o ministro da Educação mostrou após mais uma conversa falhada não foi condizente com a veemência com que os sindicatos voltaram a dizer "não" às tréguas. Não só não suspenderam as greves, como anunciaram novas manifestações. Ainda há corda para esticar.
Ora, independentemente do que possamos pensar acerca dos expedientes utilizados pelos professores para fazerem valer os seus argumentos, não é de todo aceitável que um docente (nem, na verdade, nenhum trabalhador) tenha de esperar uma média de 16 anos para ter um vínculo contratual; como não é aceitável que os professores vivam mergulhados em burocracia e sejam forçados a efetuar largas dezenas (quando não centenas) de quilómetros para ensinar. As suas reivindicações são, no essencial, válidas, mas têm uma limitação de base: não podem ser atendidas todas ao mesmo tempo. Não é possível resolver num passe de mágica problemas que se arrastam há anos. E que custam muitos, mas muitos, milhões de euros.
Por isso, só há uma saída possível: negociar com realismo e bom-senso. A bem dos professores, mas sobretudo da escola, das famílias e dos alunos, as maiores vítimas indiretas desta batalha. Dar pouco não é melhor do que não dar nada, como exigir tudo também não será certamente a melhor tática para conquistar mais alguma coisa. É verdade que as greves só são eficazes se doerem. Mas o prolongamento deste bloqueio até meados de fevereiro pode fazer perigar todo o segundo período escolar, o que não favorece nenhuma das partes. Alguém vai ter de ceder. Melhor seria se fossem todos. Não há outra forma de dar sentido a este protesto.
* Pedro Ivo Carvalho in Jornal de Notícias - 21/1/2023